No dia 8 de janeiro de 2023, assistimos às lamentáveis cenas de violência generalizada cometidas por apoiadores do agora ex-presidente Jair Bolsonaro na Praça dos Três Poderes. Os protestos, programados a princípio para serem pacíficos, converteram-se em atitudes violentas e ultrapassaram todos os limites. Os atos de vandalismo atingiram prédios públicos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e revelaram o nível de insatisfação popular com os resultados das últimas eleições e a inoperância de toda a nossa classe política.
Reservada a virulência desses atos, movimentos dessa natureza não são incomuns. Mas, antes que o leitor julgue de eu estar aqui a tomar partido, a minha posição é que atos de vandalismo são imperdoáveis se realizados por qualquer que seja o espectro político e ideológico. Quando digo que tais atos não são incomuns, desejo atrair a atenção do leitor para o fato de que convulsões sociais com vandalismo público e privado acompanham a história das sociedades modernas. Atos de destruição cometidos por uma massa descontrolada revelam, dentre outras coisas, a força de um fenômeno bem conhecido na Psicologia Social: o “Efeito Contágio”.
Tal efeito, por vezes também conhecido como “Efeito Manada”, foi muito bem explicado por Gustave de Le Bon, em seu livro “Psicologia das Multidões”. Publicado em 1895, o livro Le Bon explica que, na multidão, todo o sentimento, todo o ato é contagioso. Na multidão, qualquer indivíduo pode sacrificar facilmente a sua capacidade de julgamento racional às atitudes irracionais de uma massa ensandecida. Segundo Le Bon, as multidões carregam certa propensão à irracionalidade. As características de seu comportamento são bem diferentes quando comparadas com a de um indivíduo isolado.
Na multidão, qualquer indivíduo pode ser posto em um estado de confusão mental. Se bem orquestrado, basta que um pequeno grupo opere uma ação violenta para que o efeito contagiante afete os demais a agirem também de forma violenta.
Tomado pelo efeito contagiante da multidão, o indivíduo acaba cometendo atos contrários ao seu caráter e hábitos. Uma das principais teses do estudo de Le Bon afirma que os seres humanos são exageradamente influenciados pelo coletivo. Segundo o psicólogo, em qualquer movimento de massa, o indivíduo estará sempre exposto ao “Efeito Contágio”. O que resume a pesquisa de Le Bon é que, no fundo, todos nós estamos expostos a reações irracionais e atitudes violentas.
Um ponto o qual pode ter servido como gatilho para o fatídico dia 8 é que já vivemos sob uma sociedade tomada por psicopatas no poder. Andrew Lobaczewski, em seu livro Ponerologia: Psicopatas no Poder, afirma que somente uma classe de psicopatas tem a agressividade mental suficiente para impor a toda uma sociedade um estado de insensibilidade moral. Tal insensibilidade espalha-se e contagia todo o tecido das relações humanas.
As mentes menos preparadas para esse ambiente doentio acabam não resistindo às mudanças repentinas de regras, valores e das decisões políticas, sobretudo, quando entram na contramão das expectativas da população. No Brasil, a cada nova eleição, a sociedade entra em sobressalto. A desconfiança frente à classe política é generalizada. Nesse estado de coisas, as pessoas se tornam presas fáceis de uma sintomatologia histérica. Pessoas histéricas sofrem um grande impacto quando sua segurança psicológica é abalada e suas expetativas traídas. Tudo que lhes diga a partir desse ponto será recebido como insulto ou ameaça.
Quando a poeira baixou na Praça dos Três Poderes, em Brasília, entre os envolvidos, estavam pessoas sem qualquer registro policial, homens, mulheres, jovens e idosos. Todos foram arrastados pelo furor contagiante da multidão. Foi como se tivessem sido convidados a participar de “Cabra-Cega”. Quem conhece a brincadeira sabe que, depois de ser vendado, o indivíduo é forçado a girar até perder momentaneamente o senso de equilíbrio. Desequilibrado, o participante tenta acertar um pote com um porrete. Quando finalmente tira-lhe a venda é que o “Cabra-Cega” percebe o que aconteceu: se acertou o pote ou a cabeça de um distraído à sua volta. Os “Cabras-Cegas” do fatídico dia 8 revelaram o estado patológico das nossas relações sociais e o vandalismo político que contagiou e tomou conta de nossas instituições.
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(*) Palestrante licenciado em Filosofia, mestre e doutor em Educação; membro da Academia Maçônica de Ciências Artes e Letras. mestre maçom e Secretário de Educação e Cultura do GOB-SE.
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