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Caminho de ida e volta

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Manuel Luiz Figueiroa (*)

 

Menino da década de 50, envolvido na rotina de escola, fazer a lição do dia, ajudar no ofício do pai e brincar.

Brincadeiras de bola de gude, bola de pano, macacão, furão, pembarra etc.

Era pura felicidade, total despreocupação com o futuro, nenhum deles imaginava que o tempo era célere e que um dia seriam adultos.

Quando chegou a adolescência, época da rebeldia natural da idade, queriam que a maioridade logo chegasse para adquirir direitos, como assistir a filmes proibidos para menores de 18 anos, hoje exibidos em horário nobre na televisão, não ter hora para chegar em casa, e, principalmente, não ser mandado pelos pais, não sabendo eles que o dever de obediência estaria sempre presente para todos, crianças ou adultos devem obediência a alguém.

As férias escolares, que ocorriam logo antes  das festas natalinas, não eram imediatamente gozadas pela  garotada, pois os pais, com a  própria sabedoria, os obrigavam a estudar, principalmente, as lições do livro de matemática que geralmente eram deixadas para trás, pelos professores, fato este que ocorre ainda hoje na maioria de nossas escolas, trazendo um prejuízo incomensurável para os discentes.

O hábito de estudar todo o livro de matemática, mostrou a sua eficácia no destino daqueles meninos e meninas.

Nos concursos daquela época, que eram raros, nos diversos vestibulares das poucas faculdades do país, os meninos que aceitaram concluir os estudos das lições de matemática, que ficaram para trás, estavam nos primeiros lugares.

Em 1968, a Petrobrás descobre em Sergipe, o primeiro campo marítimo do Brasil – Guaricema – localizado em águas rasas na Bacia de Sergipe.

A presença da petrolífera em Sergipe, além de colocar o pequeno estado da federação em destaque nacional, alavancou o desenvolvimento e, principalmente, demandou por mão-de-obra.

Foi a geração dos petroleiros sergipanos.

A maioria daqueles meninos se tornaram homens ilustres: professores, engenheiros, médicos, advogados, governadores, deputados, senadores, generais, coronéis, soldados, enfim, todos nós somos soldados com ou sem farda.

Foi a geração de ouro, do Rock and Roll, dos festivais de música, ocasião em que surgiram Roberto Carlos, nosso eterno rei; Adoniran Barboza, imortalizado pelo “Trem das Onze; Gilberto Gil; Caetano; Betânia; os sergipanos, Agildo, nosso Gravatinha, José Augusto; o pernambucano de Exu,  Luiz Gonzaga, o rei do Baião; e tantos outros, sem esquecer as orquestras da época e as rádios com seus programas de auditório.

Anos 2000, muitos daqueles jovens já viajaram para o outro plano, com certeza estão no céu devido à inocência da época e dos bons costumes que praticavam.

Os que ainda estão neste mundo continuam com a obra de cada um. Vivem a época do celular, este usado como status social, que está trazendo consequências terríveis aos costumes, interferindo maleficamente contra o que se tinha de mais sagrado nas gerações passadas, como a inocência das crianças.

Quem tirou de nossas vidas as tradicionais brincadeiras, a conversa em família, o hábito da leitura, as máquinas fotográficas, a lanterna, a calculadora, o uso do dicionário, aquele livro grosso imprimido pelo MEC, as enciclopédias compradas em suaves prestações, o celular.

Este entrou em nossas vidas como um vício incombatível, é impossível viver sem esse aparelhinho.

Declarar guerra ao celular é querer ser um perdedor.  Reconhecê-lo como manipulador de nossa vontade já é um bom começo para se preparar para um futuro e permanente combate.

Tentar disciplinar o seu uso é mais salutar.

Tecnologia e responsabilidades Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O avanço da tecnologia traz bem-estar, promove mais longevidade, mas, também, traz consequências.

Alguns segmentos já estão se opondo ao uso do celular e denunciando a interferência dele nos bons hábitos praticados no passado.

Alguns países, como a Suécia, que reconheceu a importância da educação digital, está reconsiderando a prática antiga de publicar livros impressos. A pedagogia sueca “Inger Enkvist” denuncia a diminuição da concentração dos alunos como consequência dos livros digitais.

Fatos, como estes, do caminho de volta do processo tecnológico, atestam que o bem-estar, obtido através do avanço tecnológico não foram satisfatórios.

As conquistas obtidas, apartamento em bairro nobre, carro do ano, o nosso zero quilômetro, bom emprego, sucesso nos negócios, barcos, aviões etc. representam o status social do efeito demonstração, mas não agregam a satisfação espiritual.

Muitas pessoas compreenderam que esses bens materiais não suprem as necessidades maiores do espírito, da proximidade com o Grande Arquiteto do Universo, e se voltam para refletir sobre o significado da vida, praticando o altruísmo, mais tolerância, e como consequência obtendo paz na busca da verdade de cada um. Esta verdade, com paz, está mais próxima dos humildes, dos pobres, dos homens de bons costumes, com ou sem avental. É no convívio do bairro pobre, com aquela gente simples que se encontra a beleza da rua de chão, pureza na alma dos vizinhos, a alegria de um bom dia, gesto que cada dia é mais raro no encontro nos elevadores dos prédios dos bairros nobres.

A ida no processo de conquistar bens materiais não levou a plenitude da alma limpa, não trouxe a alegria espiritual, não atingiu o objetivo que se esperava.

O caminho de volta para conviver em comunidade que mais se aproxime àquela do passado já é um alento.

O que se pretende é o reencontro daquilo que foi perdido no caminho de ida e isto não é uma certeza, pois a dinâmica da vida não permite voltar no tempo.

A estrada está para ser caminhada, quer seja no caminho de ida ou de volta e, incessantemente, o homem, sempre insatisfeito, terá que caminhar até que essa nossa concepção de estrada desapareça abrindo outros caminhos a serem percorridos.

A oportunidade de fazer o caminho de volta nesta estrada que vivenciamos é esta, neste momento, agora.

Vamos retornar sem a pretensão de refazer em sentido contrário os passos da ida, pois este é outro momento e o que se busca é a transformação espiritual para se tornar homens mais polidos.

A volta não precisa ter a dinâmica do caminhar que se pratica diariamente. É um retorno mental, de exames e reexames das decisões do passado, das análises dos erros e acertos. Não é necessário chorar como consequência dos erros, pois errar é humano, alguém já disse isso, nem precisa se jubilar pelas vitórias pois estas trouxeram, apenas, riquezas materiais.

A volta é a consciência do aprimoramento da pessoa humana, numa participação ativa na obra do Criador, pois, este ao criar este mundão, que compreendemos, fez o homem como sua obra prima a sua própria semelhança.

O processo de transformação no caminho de volta é mental, na mudança de valores, na lógica praticada, no falar e na beleza do silêncio praticada por todos os aprendizes.

Meia volta, volver! Marche.

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