Por André Luiz Andrade (*)
A caridade é o mais profundo reflexo da alma que se volta para o outro e, ao mesmo tempo, para si mesma, através dos olhos de Deus. Não é apenas um gesto de generosidade; é um olhar de compaixão que atravessa as aparências e vê o divino em cada ser humano. A palavra “caridade”, derivada do latim caritas, significa “amor”, mas não um amor comum. É o amor que transcende barreiras, que vê além do que é visível, que toca o intocável — o coração.
Vivemos em um mundo onde o egoísmo nos isola, o individualismo endurece os corações, mas a caridade é a luz que rompe essa escuridão. Ela é a mão que segura a do outro, a voz que consola, o gesto que cura. Não é apenas sobre dar algo material, mas sobre doar-se. E nessa doação, nos encontramos. Quando estendemos a mão ao próximo, na verdade estamos estendendo a mão para nós mesmos, pois reconhecemos, no outro, a nossa própria fragilidade, a nossa própria humanidade.
A caridade nos lembra que todos nós somos um só corpo, ligados por fios invisíveis de empatia e amor. Quando alimentamos um faminto, estamos alimentando a fome que muitas vezes negamos dentro de nós: a fome de sermos vistos, amados, compreendidos. Quando abraçamos um desconhecido, é como se estivéssemos abraçando uma parte de nós mesmos que ficou esquecida, uma parte que precisa de cura, de afeto, de redenção.
Na ótica divina, não existe separação entre o eu e o outro. Aos olhos de Deus, somos todos reflexos de Sua criação perfeita, e é através da caridade que nos tornamos capazes de enxergar o mundo com essa visão. Quando praticamos a caridade, estamos trazendo o céu para a terra, transformando a realidade ao nosso redor em algo mais próximo do que foi sonhado para nós. Cada ato de caridade é uma oração silenciosa, um grito de esperança, uma afirmação de que o amor é mais forte que a indiferença.
E essa transformação não é apenas exterior. A alma que pratica a caridade é tocada por uma luz especial, uma luz que desperta o que há de mais belo dentro de nós. Quando ajudamos o outro, quando enxergamos o outro com os olhos da compaixão, passamos a nos ver também sob essa mesma ótica. Percebemos que somos mais do que falhas, mais do que dores, mais do que cicatrizes. Somos amor, somos bondade, somos capazes de mudar o mundo com pequenos gestos.
A caridade, então, é a mais sublime forma de crescimento espiritual. Não é um ato de condescendência, mas de conexão. Ela não coloca ninguém acima de ninguém, mas nos iguala em nossa essência divina. É através dela que a alma se expande, que o coração se aquece, que a vida ganha sentido. No sorriso de quem ajudamos, encontramos o sorriso de Deus. No abraço que damos, sentimos o abraço do divino em nossa própria alma.
Que a caridade não seja apenas uma prática ocasional, mas um estilo de vida, um compromisso diário com o amor incondicional. Que possamos olhar para o outro e ver a nós mesmos, e ao fazer isso, ver a presença de Deus refletida em cada ser. Porque, no fim, a caridade é isso: olhar o mundo com os olhos do amor divino, enxergar em cada vida uma centelha de luz e através desse olhar transformar o mundo ao nosso redor.
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