E nem é só isso. Hoje, Gleuse Ferreira é CEO da empresa Lampião e Maria Bonita, constituída em 2022. “Estamos certas de que em 2023 há uma perspectiva de massificação da informação da existência da família, e somos muito gratos à Mancha Verde e à Imperatriz Leopoldinense por isso”, destacou a arquiteta e empresária, que mantém a sede dos negócios da família em Aracaju, mas que está sempre no Rio de Janeiro e em São Paulo. Lampião e Maria Bonita é uma marca com registro de uso comercial no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
Gleuse acredita que a empresa Lampião e Maria Bonita “será um importante player na economia local para impulsionar a utilização comercial desses personagens históricos. Queremos muito investir aqui e temos certeza de que contaremos com o poder público e com os produtores culturais locais”.
Ela gostaria que o nome dos seus bisavós “ajudasse ainda mais a gerar emprego e renda para as pessoas, não por outra razão nós montamos em Aracaju a empresa que possui a autorização oficial para licenciar o nome dos dois. Queremos gerar riqueza local. Gostaríamos que houvesse o Museu do Cangaço, a divulgação maciça do legado deles, e como CEO da empresa garanto que estamos à disposição de todas as esferas governamentais para ajudar nesse propósito”.
Faltando apenas uma semana para o Carnaval, a expectativa da família Ferreira para os desfiles é muito grande. Será algo icônico.
Confira agora a entrevista do Só Sergipe com Gleuse Ferreira.
SÓ SERGIPE – Como aconteceu duas escolas de samba – Imperatriz Leopoldinense, no Rio, e Mancha Verde, em São Paulo – terem como mesmo mote Lampião e Maria Bonita neste carnaval de 2023? Como a família ficou sabendo?
GLEUSE FERREIRA – Em 2022 nós decidimos profissionalizar a utilização da imagem de Lampião e Maria Bonita. O primeiro passo foi constituir uma banca de advogados, o Cândido Dortas Advocacia, que passou a monitorar os conteúdos que dizem respeito aos meus bisavós e formalizar os registros de uso comercial no INPI.
Foi através dos advogados que nós tomamos conhecimento da utilização do nome de Lampião e Maria Bonita no samba-enredo. Todo o contato inicial foi feito pelos advogados Cândido Dortas e Alex Ferreira, e desde o início a família orientou a banca de advogados a ceder gratuitamente a utilização do nome, quando houvesse propósito de difusão meramente cultural.
Em São Paulo tivemos uma super recepção calorosa, e nosso objetivo sempre foi de colaborar com informações mais precisas.
No caso da Imperatriz Leopoldinense, nós fomos procurados por Robson Lourenço, que era um dos candidatos a compositor do samba-enredo de 2023. Embora o contato tenha iniciado por Robson, que acabou não tendo o samba escolhido, nós estreitamos o contato com a diretoria da escola.
SÓ SERGIPE – O casal famoso de cangaceiros será a atração principal, com direito a samba-enredo e tudo?
GLEUSE FERREIRA – Na Mancha Verde o tema é o Xaxado, porém, como Lampião foi um grande difusor desse ritmo, a escola falará também de Lampião e Maria Bonita, dando grande destaque para o casal em carros alegóricos, nas alas, a porta bandeira…
Já a imperatriz Leopoldinense tem no samba-enredo um cordel que trata do que aconteceu com Lampião após a morte. Se Lampião foi pro céu ou pro inferno, o cordel não responde precisamente, mas destaca que com certeza ele se eternizou no imaginário popular.
SÓ SERGIPE – Como você e os demais integrantes da sua família reagiram diante destas duas homenagens?
GLEUSE FERREIRA – Ficamos extremamente felizes, até porque é uma oportunidade de difundir para o grande público a imagem de Dona Expedita Ferreira, que é a única filha de Lampião e Maria Bonita, e que com 90 anos de idade permanece cheia de energia e disposta a divulgar para o mundo o legado do cangaço e de seus pais.
SÓ SERGIPE – A família, através dos advogados, procurou a Mancha Verde quando soube que Lampião e Maria Bonita serão homenageados. Qual foi a tônica desse diálogo?
GLEUSE FERREIRA – A tônica foi muito amistosa. O contato se deu através de advogados porque o escritório Cândido Dortas Advocacia está organizando toda a parte legal das autorizações de utilização dos nomes de Lampião e Maria Bonita, inclusive registros no INPI. Hoje temos uma empresa familiar com sede em Aracaju que promove todas essas autorizações a partir da análise dos sócios.
Há bastante utilização comercial indevida do nome de Lampião e Maria Bonita, e nós entendemos que é justo que a família possa participar sempre que alguém queira auferir algum lucro com o nome deles. Não foi esse o caso da Mancha Verde, e a família, nesse caso, anuiu com a autorização do uso dos nomes e imagens.
SÓ SERGIPE – O mesmo aconteceu com a Imperatriz? Os advogados entraram em ação?
GLEUSE FERREIRA – Não, na Imperatriz Leopoldinense nós contatamos diretamente Cátia, que é a presidente da escola, e fomos muito bem recebidos por ela e pelo Leandro Vieira, que é o carnavelesco responsável pelo histórico campeonato da Mangueira em 2019 e que agora nos honra com a homenagem a Lampião e Maria Bonita.
SÓ SERGIPE – Nós que moramos no Nordeste temos a percepção – às vezes, de forma bem prática – que algumas pessoas da região Sudeste não sabem ou não procuram saber a respeito da história nordestina e seus personagens. Você sentiu isso quando viu duas escolas de samba famosas sequer saberem que os descendentes de Virgulino Ferreira estão bem vivos e atentos?
GLEUSE FERREIRA – Muita gente sequer sabe da existência da família, ou que a única filha está viva, e quando sabem, acham que estamos em um local isolado de informações.
Mas não podemos negar que as pessoas que conhecem dão realmente um grande valor à história de Lampião e Maria Bonita e, inclusive, chegam a se emocionar quando conhecem Dona Expedita.
Temos muita expectativa com a visibilidade do carnaval, que é uma festa popular, amplamente divulgada. Queremos que o grande público saiba que estamos aqui, que queremos ser parceiros de grandes marcas, e desejamos difundir o legado de Lampião e Maria Bonita.
SÓ SERGIPE – No blog Lampião Acesso há uma fala sua muito forte. Você diz que “Muita gente não sabe que existimos. Ou pensam que a gente tá lá no sertão, no meio do mato”. Você tem o propósito de desmistificar isso?
GLEUSE FERREIRA – Sim. Hoje eu sou a CEO da empresa familiar que constituímos em 2022, que tem o nome de Lampião e Maria Bonita. Tenho conversado com pessoas e empresas e temos tentado desmistificar isso. Estamos certas de que em 2023 há uma perspectiva de massificação da informação da existência da família, e somos muito gratos à Mancha Verde e à Imperatriz Leopoldinense por isso.
SÓ SERGIPE – Qual carro você vai decorar na Mancha Verde? Tem algum na Imperatriz também?
GLEUSE FERREIRA – Na Mancha Verde por eu ser arquiteta, um dos diretores, o Paolo Bianchi, e o carnavalesco, André, me deram esse presente de participar de perto. Colaborei com o carro que trará a família de Lampião e Maria Bonita.
Na Imperatriz não houve esse convite, mas vimos alguns carros e as alegorias e eles nos pediram sugestões. Eu indiquei que seria muito bom ter bacamarteiros atirando na avenida – não foi possível o bacamarte original, mas terá algo parecido.
SÓ SERGIPE – De que forma você e sua família estão orientando as duas escolas de samba na confecção das fantasias para que elas retratem, o mais fiel possível, aquele tempo do cangaço?
GLEUSE FERREIRA – Tentamos ajustar algumas coisas, umas foram possíveis, outras não, até porque quando tivemos o conhecimento muita coisa já estava em produção.
Na Mancha, conseguimos alterar a cor da roupa do mestre sala e porta bandeira, que vinham no tom marrom (cáqui) e agora virão de azul, que é a cor original da roupa dos cangaceiros.
Mas temos que lembrar que é Carnaval e que seria impossível ser tudo fiel – exige o lado lúdico e a criatividade dos carnavalescos que são incríveis. O que vejo de importante e fundamental é levantar o assunto para que as pessoas e gerações que ainda não conhecem Lampião e Maria Bonita e uma parte da história do Brasil se interessem pelo tema.
SÓ SERGIPE – Dona Expedita irá desfilar?
GLEUSE FERREIRA -Sim, ela desfilará no dia 18, na Mancha Verde, em São Paulo; e no dia 20, na Imperatriz, no Rio de Janeiro.
SÓ SERGIPE – Para o desfile da Mancha Verde, quais referências de Piranhas você levará e por quê?
GLEUSE FERREIRA – Piranhas é uma referência natural da história de Lampião e Maria Bonita. As referências são implícitas, e temos certeza que as pessoas que se sentirem atraídas pelo desfile e quiserem fazer uma imersão na história do cangaço certamente farão uma visita à cidade de Piranhas.
SÓ SERGIPE – Há alguma referência de Sergipe, já que Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros foram mortos na Grota do Angico, em Poço Redondo?
GLEUSE FERREIRA – Não, eles trabalharam mais a parte lúdica, mais vestimentas e costumes.
SÓ SERGIPE – E por falar em Sergipe, como você analisa o trabalho cultural e turístico do Governo do Estado para manter viva a história de Lampião e Maria Bonita? É satisfatório ou não?
GLEUSE FERREIRA – Os nomes de Lampião e Maria Bonita são um capital valiosíssimo para o Estado de Sergipe. Gostaríamos que o nome deles ajudasse ainda mais a gerar emprego e renda para as pessoas, não por outra razão nós montamos em Aracaju a empresa que possui a autorização oficial para licenciar o nome dos dois. Queremos gerar riqueza local.
Gostaríamos que houvesse o Museu do Cangaço, a divulgação maciça do legado deles, e garanto, como CEO da empresa, que estamos à disposição de todas as esferas governamentais para ajudar nesse propósito.
Queremos também fazer colaborações com a economia local. Por exemplo, para o Carnaval estamos contando com a parceria de Rafaela Castro que tem uma marca chamada Severinas-Rafa, que não só desenhou a roupa que minha vó irá desfilar na Mancha Verde (que está digna de princesa) como agora está tentando que essa roupa fique como peça de algum museu.
SÓ SERGIPE – Qual a sua percepção em acompanhar homenagens aos seus bisavós em São Paulo e no Rio, enquanto que em Sergipe ainda não vemos iniciativas como esta?
GLEUSE FERREIRA – Extremamente feliz em ver esse interesse que não se limita às fronteiras do Nordeste, cada dia vemos o quão grandiosos meus bisavós se tornaram, eles quebraram as barreiras e atravessam fronteiras.
E em relação a Sergipe, nós acreditamos que a empresa Lampião e Maria Bonita, da qual eu sou CEO, será um importante player na economia local para impulsionar a utilização comercial desses personagens históricos. Queremos muito investir aqui e temos certeza de que contaremos com o poder público e com os produtores culturais locais.
SÓ SERGIPE – A família já tem autorização do INPI para comercializar a marca Lampião e Maria Bonita. O que existe de novidade nesta seara? O que já está sendo comercializado?
GLEUSE FERREIRA – Sim. A banca de advogados que assiste a nossa empresa familiar já obteve autorização no INPI para utilização não apenas dos nomes de Lampião e Maria Bonita mas também de expressões como “O Rei do Cangaço”. Estamos em contato e negociando com grandes empresas de streaming a utilização dos nomes em obras audiovisuais muito potentes que serão lançadas nos próximos dois anos.
SÓ SERGIPE – A marca Lampião e Maria Bonita espera ganhar o mercado internacional?
GLEUSE FERREIRA – Com certeza. Em 2022 nós já negociamos a utilização dos nomes e imagens em uma obra audiovisual que, a princípio, será veiculada apenas na França. O cineasta veio ao Brasil conhecer um pouco sobre as lutas agrárias e ficou encantado com o poder da história de Lampião e Maria Bonita. A ideia é amplificar isso ainda mais. Queremos que o mundo conheça o poder das roupas, da estética, das jóias, e o legado de Lampião e Maria Bonita.
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