Entrevista

Carnaval 2023: Gleuse Ferreira não esconde a gratidão pelas homenagens aos seus bisavós Lampião e Maria Bonita recebidas das Escolas Imperatriz Leopoldinense e Mancha Verde

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Quem for assistir aos desfiles das Escolas de Samba Mancha Verde, em São Paulo, e Imperatriz Leopoldinense, no Rio de Janeiro, no Carnaval deste ano, terá oportunidade de ver, nos carros alegóricos, Dona Expedita Ferreira, 90 anos, única filha dos Reis do Cangaço, Lampião e Maria Bonita. Sim, o casal mais famoso do Nordeste, alvo de estudos acadêmicos – e dezenas de livros – estará na avenida. As descendentes do casal, que vivem em Aracaju, estão felizes com as homenagens,  mas nem por isso deixaram de tomar as providências jurídicas para que tudo ocorra de foram tranquila e serena. Quem representa a família – na verdade um bando de mulheres, como elas mesmas se definem – é a arquiteta Gleuse Ferreira, bisneta do Rei do Cangaço, que não esconde a felicidade de todos com as homenagens. “É uma oportunidade de difundir para o grande público a imagem de Dona Expedita Ferreira, que é a única filha de Lampião e Maria Bonita, e que com 90 anos de idade permanece cheia de energia e disposta a divulgar para o mundo o legado do cangaço e de seus pais”.

E nem é só isso. Hoje, Gleuse Ferreira é CEO da empresa Lampião e Maria Bonita, constituída em 2022. “Estamos certas de que em 2023 há uma perspectiva de massificação da informação da existência da família, e somos muito gratos à Mancha Verde e à Imperatriz Leopoldinense por isso”, destacou a arquiteta e empresária, que mantém a sede dos negócios da família em  Aracaju, mas que está sempre no Rio de Janeiro e em São Paulo. Lampião e Maria Bonita é uma marca com registro de uso comercial no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial­).

Todos animados para o Carnaval 2023, com Lampião e Maria Bonita sendo homenageados

Gleuse acredita que a empresa Lampião e Maria Bonita “será um importante player na economia local para impulsionar a utilização comercial desses personagens históricos. Queremos muito investir aqui e temos certeza de que contaremos com o poder público e com os produtores culturais locais”.

Ela gostaria que o nome dos seus bisavós “ajudasse ainda mais a gerar emprego e renda para as pessoas, não por outra razão nós montamos em Aracaju a empresa que possui a autorização oficial para licenciar o nome dos dois. Queremos gerar riqueza local. Gostaríamos que houvesse o Museu do Cangaço, a divulgação maciça do legado deles, e como CEO da empresa garanto que estamos à disposição de todas as esferas governamentais para ajudar nesse propósito”.

Faltando apenas uma semana para o Carnaval, a expectativa da família Ferreira para os desfiles é muito grande. Será algo icônico.

Confira agora a entrevista do Só Sergipe com Gleuse Ferreira.

 

SÓ SERGIPE – Como aconteceu duas escolas de samba – Imperatriz Leopoldinense, no Rio, e Mancha Verde, em São Paulo – terem como mesmo mote Lampião e Maria Bonita neste carnaval de 2023?  Como a família ficou sabendo?

Família presente

GLEUSE FERREIRA – Em 2022 nós decidimos profissionalizar a utilização da imagem de Lampião e Maria Bonita. O primeiro passo foi constituir uma banca de advogados, o Cândido Dortas Advocacia, que passou a monitorar os conteúdos que dizem respeito aos meus bisavós e formalizar os registros de uso comercial no INPI.

Foi através dos advogados que nós tomamos conhecimento da utilização do nome de Lampião e Maria Bonita no samba-enredo. Todo o contato inicial foi feito pelos advogados Cândido Dortas e Alex Ferreira, e desde o início a família orientou a banca de advogados a ceder gratuitamente a utilização do nome, quando houvesse propósito de difusão meramente cultural.

Em São Paulo tivemos uma super recepção calorosa, e nosso objetivo sempre foi de colaborar com informações mais precisas.

No caso da Imperatriz Leopoldinense, nós fomos procurados por Robson Lourenço, que era um dos candidatos a compositor do samba-enredo de 2023. Embora o contato tenha iniciado por Robson, que acabou não tendo o samba escolhido, nós estreitamos o contato com a diretoria da escola.

SÓ SERGIPE – O casal famoso de cangaceiros será a atração principal, com direito a samba-enredo e tudo?

GLEUSE FERREIRA – Na Mancha Verde o tema é o Xaxado, porém, como Lampião foi um grande difusor desse ritmo, a escola falará também de Lampião e Maria Bonita, dando grande destaque para o casal em carros alegóricos, nas alas, a porta bandeira…

Já a imperatriz Leopoldinense tem no samba-enredo um cordel que trata do que aconteceu com Lampião após a morte.  Se Lampião foi pro céu ou pro inferno, o cordel não responde precisamente, mas destaca que com certeza ele se eternizou no imaginário popular.

SÓ SERGIPE – Como você e os demais integrantes da sua família reagiram diante destas duas homenagens?

GLEUSE FERREIRA – Ficamos extremamente felizes, até porque é uma oportunidade de difundir para o grande público a imagem de Dona Expedita Ferreira, que é a única filha de Lampião e Maria Bonita, e que com 90 anos de idade permanece cheia de energia e disposta a divulgar para o mundo o legado do cangaço e de seus pais.

Expedita (ao centro) em família, com Vera Ferreira, Dejair, Gleuse e Iza

SÓ SERGIPE – A família, através dos advogados, procurou a Mancha Verde quando soube que Lampião e Maria Bonita serão homenageados. Qual foi a tônica desse diálogo?

GLEUSE FERREIRA – A tônica foi muito amistosa. O contato se deu através de advogados porque o escritório Cândido Dortas Advocacia está organizando toda a parte legal das autorizações de utilização dos nomes de Lampião e Maria Bonita, inclusive registros no INPI. Hoje temos uma empresa familiar com sede em Aracaju que promove todas essas autorizações a partir da análise dos sócios.

Há bastante utilização comercial indevida do nome de Lampião e Maria Bonita, e nós entendemos que é justo que a família possa participar sempre que alguém queira auferir algum lucro com o nome deles. Não foi esse o caso da Mancha Verde, e a família, nesse caso, anuiu com a autorização do uso dos nomes e imagens.

SÓ SERGIPE – O mesmo aconteceu com a Imperatriz? Os advogados entraram em ação?

GLEUSE FERREIRA – Não, na Imperatriz Leopoldinense nós contatamos diretamente Cátia, que é a presidente da escola, e fomos muito bem recebidos por ela e pelo Leandro Vieira, que é o carnavelesco responsável pelo histórico campeonato da Mangueira em 2019 e que agora nos honra com a homenagem a Lampião e Maria Bonita.

SÓ SERGIPE –   Nós que moramos no Nordeste temos a percepção – às vezes, de forma bem prática – que algumas pessoas da região Sudeste não sabem ou não procuram saber a respeito da história nordestina e seus personagens. Você sentiu isso quando viu duas escolas de samba famosas sequer saberem que os descendentes de Virgulino Ferreira estão bem vivos e atentos?

GLEUSE FERREIRA – Muita gente sequer sabe da existência da família, ou que a única filha está viva, e quando sabem, acham que estamos em um local isolado de informações.

Mas não podemos negar que as pessoas que conhecem dão realmente um grande valor à história de Lampião e Maria Bonita e, inclusive, chegam a se emocionar quando conhecem Dona Expedita.

Temos muita expectativa com a visibilidade do carnaval, que é uma festa popular, amplamente divulgada. Queremos que o grande público saiba que estamos aqui, que queremos ser parceiros de grandes marcas, e desejamos difundir o legado de Lampião e Maria Bonita.

SÓ SERGIPE – No blog Lampião Acesso há uma fala sua muito forte. Você diz que “Muita gente não sabe que existimos. Ou pensam que a gente tá lá no sertão, no meio do mato”.  Você tem o propósito de desmistificar isso?

GLEUSE FERREIRA – Sim. Hoje eu sou a CEO da empresa familiar que constituímos em 2022, que tem o nome de Lampião e Maria Bonita. Tenho conversado com pessoas e empresas e temos tentado desmistificar isso. Estamos certas de que em 2023 há uma perspectiva de massificação da informação da existência da família, e somos muito gratos à Mancha Verde e à Imperatriz Leopoldinense por isso.

SÓ SERGIPE –  Qual  carro você vai decorar na Mancha Verde? Tem algum na Imperatriz também?

GLEUSE FERREIRA – Na Mancha Verde por eu ser arquiteta, um dos diretores, o Paolo Bianchi, e o carnavalesco, André, me deram esse presente de participar de perto. Colaborei com o carro que trará a família de Lampião e Maria Bonita.

Na Imperatriz não houve esse convite, mas vimos alguns carros e as alegorias e eles nos pediram sugestões. Eu indiquei que seria muito bom ter bacamarteiros atirando na avenida – não foi possível o bacamarte original, mas terá algo parecido.

SÓ SERGIPE – De que forma você e sua família estão orientando as duas escolas de samba na confecção das fantasias para que elas retratem, o mais fiel possível, aquele tempo do cangaço?

GLEUSE FERREIRA – Tentamos ajustar algumas coisas, umas foram possíveis, outras não, até porque quando tivemos o conhecimento muita coisa já estava em produção.

Na Mancha, conseguimos alterar a cor da roupa do mestre sala e porta bandeira, que vinham no tom marrom (cáqui) e agora virão de azul, que é a cor original da roupa dos cangaceiros.

Mas temos que lembrar que é Carnaval e que seria impossível ser tudo fiel – exige o lado lúdico e a criatividade dos carnavalescos que são incríveis. O que vejo de importante e fundamental é levantar o assunto para que as pessoas e gerações que ainda não conhecem Lampião e Maria Bonita e uma parte da história do Brasil se interessem pelo tema.

Os bacamarteiros, na Rota do Cangaço, em Poço Rendondo, no dia da missa em memória dos cangaceiros mortos. Foto: Rose Garcia

SÓ SERGIPE – Dona Expedita irá desfilar?

GLEUSE FERREIRA -Sim, ela desfilará no dia 18, na Mancha Verde, em São Paulo;  e  no dia 20, na Imperatriz, no Rio de Janeiro.

SÓ SERGIPE – Para o desfile da Mancha Verde, quais referências de Piranhas você levará e por quê?

GLEUSE FERREIRA – Piranhas é uma referência natural da história de Lampião e Maria Bonita. As referências são implícitas, e temos certeza que as pessoas que se sentirem atraídas pelo desfile e quiserem fazer uma imersão na história do cangaço certamente farão uma visita à cidade de Piranhas.

SÓ SERGIPE – Há alguma referência de Sergipe, já que Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros foram mortos na Grota do Angico, em Poço Redondo?

GLEUSE FERREIRA – Não, eles trabalharam mais a parte lúdica, mais vestimentas e costumes.

SÓ SERGIPE – E por falar em Sergipe, como você analisa o trabalho cultural e turístico do Governo do Estado para manter viva a história de Lampião e Maria Bonita? É satisfatório ou não?

Rafaela Castro que desenhou a roupa da vó de Gleuse para a Mancha Verde

GLEUSE FERREIRA – Os nomes de Lampião e Maria Bonita são um capital valiosíssimo para o Estado de Sergipe. Gostaríamos que o nome deles ajudasse ainda mais a gerar emprego e renda para as pessoas, não por outra razão nós montamos em Aracaju a empresa que possui a autorização oficial para licenciar o nome dos dois. Queremos gerar riqueza local.

Gostaríamos que houvesse o Museu do Cangaço, a divulgação maciça do legado deles, e garanto, como CEO da empresa, que estamos à disposição de todas as esferas governamentais para ajudar nesse propósito.

Queremos também fazer colaborações com a economia local. Por exemplo, para o Carnaval estamos contando com a parceria de Rafaela Castro que tem uma marca chamada Severinas-Rafa, que não só desenhou a roupa que minha vó irá desfilar na Mancha Verde (que está digna de princesa) como agora está tentando que essa roupa fique como peça de algum museu.

 

SÓ SERGIPE –  Qual a sua percepção em acompanhar homenagens aos seus bisavós em São Paulo e no Rio, enquanto que em Sergipe ainda não vemos iniciativas como esta? 

GLEUSE FERREIRA – Extremamente feliz em ver esse interesse que não se limita às fronteiras do Nordeste, cada dia vemos o quão grandiosos meus bisavós se tornaram, eles quebraram as barreiras e atravessam fronteiras.

E em relação a Sergipe, nós acreditamos que a empresa Lampião e Maria Bonita, da qual eu sou CEO, será um importante player na economia local para impulsionar a utilização comercial desses personagens históricos. Queremos muito investir aqui e temos certeza de que contaremos com o poder público e com os produtores culturais locais.

SÓ SERGIPE – A família já tem autorização do INPI para comercializar a marca Lampião e Maria Bonita. O que existe de novidade nesta seara? O que já está sendo comercializado?

GLEUSE FERREIRA – Sim. A banca de advogados que assiste a nossa empresa familiar já obteve autorização no INPI para utilização não apenas dos nomes de Lampião e Maria Bonita mas também de expressões como “O Rei do Cangaço”.  Estamos em contato e negociando com grandes empresas de streaming a utilização dos nomes em obras audiovisuais muito potentes que serão lançadas nos próximos dois anos.

SÓ SERGIPE – A marca Lampião e Maria Bonita espera ganhar o mercado internacional?

GLEUSE FERREIRA – Com certeza. Em 2022 nós já negociamos a utilização dos nomes e imagens em uma obra audiovisual que, a princípio, será veiculada apenas na França. O cineasta veio ao Brasil conhecer um pouco sobre as lutas agrárias e ficou encantado com o poder da história de Lampião e Maria Bonita. A ideia é amplificar isso ainda mais. Queremos que o mundo conheça o poder das roupas, da estética, das jóias, e o legado de Lampião e Maria Bonita.

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Antônio Carlos Garcia

CEO do Só Sergipe

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