Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Nascido em Exu, interior de Pernambuco, aos 13 de dezembro de 1912, Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião, tornou-se uma das figuras mais emblemáticas da música popular brasileiro. Porta-voz do Nordeste, foi também alguém que além de fazer arte da melhor qualidade, retratou a vida simples do homem e da mulher do campo, fazendo de suas canções um ato político em favor das causas mais urgentes do país de seu tempo e também do nosso, como a preocupação ecológica, a denúncia da seca e da fome.
Ao longo de sua existência (76 anos – 2 de agosto de 1989), foi casado com Odaléia Guedes dos Santos (falecida em 1947, mãe de Gonzaguinha) e Helena Neves Cavalcanti (1948-1989). Com Helena, adotou Rosa Gonzaga. Essas foram as mulheres do filho de Januário. Outras tantas, além da inseparável sanfona, frequentaram o imaginário de suas canções, sejam de sua autoria, sejam em parceria com Zé Dantas e tantos outros. Afora as participações em gravações diversas, a exemplo de Elba Ramalho, Gal Gosta, Alcione, Marinês, Emilinha Borba, Guadalupe, Marlene.
Entre 1956 e 2006, foram gravados cerca de 76 álbuns, alguns deles coletâneas póstumas. Implícita ou explicitamente, nominal ou genericamente, elas estão presentes, jamais tratadas com desprezo ou desrespeito, como nas canções “de forró” de hoje, na maioria das vezes, empoderadas, cheirosas, dengosa, forrozeira, conselheiras, companheiras, o tesouro do vaqueiro, faceiras, a rainha das flores, moreninhas, tristonhas, valentes, gloriosas, minha rainha, moças bonitas, mãezinhas, milagrosa, belas, lábios de mel, de olhos claros e mulher moça, de cintura fina e de pilão, mulherada animada, as garotas do Leblon, marrom, loira sofisticadinha, coladinha, formosa, jeitosa, gostosa, moça do terreiro, favo de mel, mulher que é Juíza, mulherzona, beata, de barriga vazia, mulherão, mãe de muitos filhos, de pote na cabeça, a filha do patrão, gauchinha, moça rica, linda moça em flor, flor da pele morena, moça nova, festeira, cangaceira, santas, moçada, com coração e sem coração, mulher macho, dama, mulher de Ouricuri, mulher pra ninguém botar defeito, todas elas donas de seu nariz e protagonistas de suas histórias de vida.
A “mulé” que deixou o boiadeiro apaixonado, que o fez chorar de paixão, o amor de sua vida, “a bichinha gostosinha” (1956). Neste mesmo ano, a estreia de Carolina, a sem K. Aquela que foi para o samba para dançar o “xenhenhém”, exalando seu cheiro inebriante pelo salão. “A paraíba masculina, muié macho, sim sinhô!” (1956), firme e forte, como toda sertaneja, ao mesmo tempo pequenina e princesa. Sem falar, ainda naquele ano, da menina que enjoou da boneca e que só pensava em namorar (Xote das Meninas). Em 1957, a moça de feira no Pilar, e o “Xote das Moças”. A “Dança da Mariquinha”, ao som da “mazurquinha” (dança de origem polaca), o “Xamego da Guiomar”, e “O Torrado da Lili”, todas elas de 1959. A “Creuza Morena”, a morena do sertão, e “Rosinha”, a rainha do vassalo cantador, de 1961. A mulher de Zé Maria (Calango da Lacraia), de 1962. A moça rica do “Faz força, Zé” (1963).
A Joana do “Lascando o Cano” (1965). “Adeus, Iracema”, de 1965, uma homenagem a Fortaleza. A morena da “Cintura Fina” (1965), para quem se fecha os olhos quando sente seu calor. “Verônica” (faixa instrumental, um bailado de falsa nordestina), 1965. A “Mariá” (1965), a marvada por quem ele chorava e sofria, mas que cabia bem direitinho em seu coração. Também daquele ano, toda a religiosidade sertaneja de Gonzaga ao Padre Cícero, em “Beata Mocinha”. Maricota, que quer desmantelar o coração, em “Tu quer mingabelá” e a “Garota Todeschini”, ambas de 1967. Ainda deste ano, no álbum “O sanfoneiro do povo de Deus”, a belíssima “Ave Maria Sertaneja”, que até hoje é usada em programas de rádio, às 18 horas, “hora bendita e santa”.
Sem falar nas canções “A Rainha do Mundo”, uma súplica à Nossa Senhora, “Padroeira do Brasil”, em parceira com Raymundo Granjeiro, e “Bença Mãe”, também, uma saudação à Mãe de Jesus, a quem pede intercessão junto a Deus pela paz no Sertão. “Saudades de Helena” (uma referência à sua segunda esposa), em 1968, com quem passa as noites sonhado e o dia chorando. Em “Já vou, mãe” (1970), a velha sina de quem vai embora do Nordeste para o Sul. A “Morena Bela”, de 1971, a quem convida para arrumar as trouxas e ir embora depois de um arrasta-pé. O benzinho para quem todo tempo que houver é pouco para dançar “Numa sala de reboco” (1972). “Ana Rosa”, a doce amada, do álbum “Aquilo bom” (1972). Bastiana da canção “Facilita” (1973), às voltas com sua blusa que começa muito cedo e sua saia que termina tarde.
E os vários tipos de mulher, do mesmo ano, na canção “Mulher de hoje” (atentar-se para o contexto da década de 70, no Brasil): companheira, que nos deu o Criador, de medo de barata, que corava com as piadas de salão, sensata, não dizia palavrão, com susto, desmaiava, obediente ao marido, como se fosse ao patrão, mas também danada, solteira ou casada, manda até em cabra mole, atrevida (armada, então), com muito amor para dar. “A mulher de meu patrão” (1974). “Moreninha, Moreninha”, do LP “São Paulo QG Baião” (1974). A famosa “Karolina com K” (1977), bagunceira, cangaceira, cabelo comprido, que manga dos matutos, bonita, trigueira, danada, boa linha de lombo, serena, que toma cerveja e tem cangote cheiroso.
“A serena do mar” (1978). A ode de “Samarica Parteira”, de 1979. A Virgem Santa da “Casa do Caboclo” (1983). A miudinha, “Tamborete de Forró” (1983). As mulheres de rabichola nas cadeiras, em “Deixa a tanga voar” (1985). A que chegou contando as horas e foi simbora, em “Nem se despediu de mim” (1987), em parceira com João Silva. “Mariana”, a garota pirritota (1987), com Gozaguinha. O homem de uma mulher só em “Pra que mais mulher”, de 1988. A Felomena da “Rede Véia” (1989). Mulher para todo tipo e jeito e ao mesmo tempo ideal, em “Quero uma mulher” (1989).
Na perspectiva da semântica genérica, nada mais emblemática que a canção “Asa Branca” (1956), toda ela feminina, em todas os versos e estrofes: judiação, fornalha, plantação, falta d´água, sede, asas, Rosinha, solidão, chuva. Assim também, em outras situações, como na bebida – uma Pitú ou Chica Boa com limão, cachaça; nas cidades e os lugares – praça e pracinha, Matriz, Iputinga, Arruda, Encruzilhada, Água Fria, Quixadá, casa portuguesa, Paraíba, Taboca, Rancharia, pé-de-serra, subida do lameiro (Crato), Cariri, Vila Bela, Amaralina, Ribeira, Vitória, Guanabara, Várzea Alegre, Penha, Madre de Deus, Canaã, Campina Grande, Alagoas, Valentina, Malhada Caiçara, Massangana, Macaparana, Nossa Senhora da Serra da Raiz, Feira de Caruaru, Pesqueira, Cabriúva , Cacimba Nova, Fazenda Angico, Borborema, Brasília, Bahia, Minas, Nova Jerusalém, Goiânia (a princesinha bela).
Em expressões como: saudade, minha dor, perenização, divina inspiração, a mãe da lua, madrugadinha, farinha crua, seca lascada, escangaia, engabela, luz de candeia, minha sina, umbigada, madrinha de fogueira, aquarela nordestina, robadinha, quadrilha chorona, ciranda, miadeira, puxada, a felicidade, rezar uma novena, noites tão brasileiras, filharada, invernada, mãos calejadas, sorte cega, redenção, viuvez, festa animada, santa família, lezera, beleza, alvorada, baixa da égua, benzedura, derradeira, véia farrista, minha fia, presepada, vaquejada, manhãzinha, pureza do cristão, ciranda, lua nova.
Na fauna e na flora, em florzinha de Muçambê, Acauã, aroeira, jacarandá, erva rasteira, árvore traiçoeira, humilde palhoça, folha seca, arara, flor do lírio, roseira, baraúna, algaroba, balieira, ribaçã, açucena, acácia amarela, mula preta, cigarra vadia, araponga, jaçanã, cabroeira (coletivo de cabra), jararaca, rolinha fogo pagou, onça pintada, eguinha e bestinha, mula, “sereia” e piaba. Além de objetos e iguarias, como a baldrana macia (tecido de couro sobre o lombo do animal de monta), concertina, argolinha, priquitinha, zabumba, gaiola, ferradura, calça Lee, garupa, camisa de nata, chuculatera, fivelas de paçoca, jaquetão, ceroula de soro, meias de angu, louvas de toucin, tripa assada, moela, gravata de tripa, pulseira de queijo, bengala de linguiça, relógio de rapadura, mandioca, farinha do cariri, pamonha, canjica, carpa, farofa de tatu, jabá, macaxeira, coalhada, buchada, farinhada, mangaba e manga, jaboticaba, graviola, pitomba, cana e birita (cachaça), pinha e pitanga, água de coco e cana caiana, meladinha.
O amor, meu amor, amô, amorzinho, meu bem, minha nega, a menina, xodó, bichinha (sem conotação homofóbica), pequenina, miudinha, mocinha, minha fia, muié, mulé, também trazem em seu bojo criativo a mulher, como também , expressamente, em nomes como: Neném, Nazaré, Dalva, Luzia, Dina, Grela, Emília Doceira, Rita, Isabé, Sazefinha, Lariquinha, Samariquinha, Gerolina, Zefa, Sá Marquinha, Juvina, Juvita, Maria Doida, Mariquita, Marion, Rosa, Bete, Bia, Zabé, Zabezinha, Yaiá, Sinhá, Raqué, Maria, Margarida Florisbela, Juventina, Maria Baiana, Samarica, Lili, Dona Cota, Mariquinha, Perpétua, Chiquinha, Rute, Sá Firmina, Aurora, Maria Rita, Santana, Guiomar, Sinhá, Ceça, Sabina, Sianinha, Zefinha. E nessa toada, já dizia Gonzaga em 1965, todo homem quer mesmo é “dinheiro, saúde e mulher”.
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