segunda-feira, 21/10/2024
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Malhete do venerável mestre Imagem: Canva.com

Como desenvolver estratégias para um planejamento maçônico

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Por Rivaldo Frias dos Santos (*)

 

“Planejar é decidir antecipadamente o que deve ser feito, ou seja, um plano e uma linha de ação preestabelecida”

Willian Newman

 

Na condição de administrador de banco público, sempre procurei, por onde passei, implantar um planejamento estratégico com possíveis resultados satisfatórios para a empresa. Essa experiência resolvi trazer para a Maçonaria.

Nosso primeiro contato com planejamento maçônico, ocorreu no ano de 2005 quando fui eleito venerável mestre da Loja Maçônica Professor José de Alencar Cardoso, Oriente de Aracaju. Visando atender à necessidade dos trabalhos maçônicos e sociais da comunidade carente do bairro, elaboramos um planejamento que atendesse aos anseios da Maçonaria e dos irmãos, não somente dentro como fora da loja.

Nesse sentido, com a ajuda de todos os obreiros e da entidade para-maçônica APAC, na época administrada pela minha esposa, procuramos atender à comunidade carente do bairro com as feiras-livres,  com  distribuição de cestas básicas, roupas, eletrodomésticos e até livros para as crianças carentes do bairro, partindo da premissa de ser a Maçonaria uma instituição progressista e, consequentemente, visando o aprimoramento intelectual e moral do homem, atualizando-o nos vários ramos do conhecimento humano. Para alcançar a esses objetivos criamos programas de orientação e atualização maçônica através de apostilas, de seminários e encontros de mestres obreiros regulares de nossa loja.

Mais de vinte anos transcorreram e neste intervalo de tempo tivemos profundas modificações mundiais, resultantes, de pelo mínimo, da quantiplicação do conhecimento científico produzindo profundas e irreversíveis conquistas da tecnologia e, naturalmente, com reflexos na economia e sua projeção em todos os vetores sociais, modificando e ocasionando novos enfoque vivenciais.

O olho que tudo vê Imgem: Pixabay

Como podemos verificar, o planejamento em apreço está decalcado numa historiografia do passado, bem como em muitos conceitos já ultrapassados devido à grande literatura ou paraliteratura maçônica existente à disposição dos maçons modernos; que trazem alguns vícios do passado na modernidade do presente, avançando a velocidades supersônicas para o futuro; tornando clara a necessidade de prepararmos-nos para o porvir anunciado pelos computadores, pela biotecnologia, pela globalização da economia, das comunicações aproximando os povos para a totalização social, enquanto nós permanecemos divididos em regulares e irregulares; demonstrando o atraso social da Maçonaria nas suas concepções virtuais arcaicas em contraste com as idéias para o terceiro milênio, cujos profetas vislumbram uma série de novos avanços tecnológicos e suas consequências positivas e negativas.

Filósofos e vários especialistas fazem previsões do mundo futuro influenciados pela situação atual, onde, até o homem passa a ter um valor econômico pelas suas características de polivalência e transdisciplinaridade, sendo capazes de adaptar-se com facilidade às novas tecnologias, às novas condições ambientais. E, também, desenvolver lideranças efetivas, usar a informática e a internet, a televisão, o computador e celulares para obter respostas rápidas, bem como adotar um sistema eficaz de comunicação digital feita por meios de canais como e-mails, redes sociais, podcast, vídeos chamadas, blogs, sites, aplicativos de imagens instantâneas, entre outros. Mas, sobretudo, conhecer e praticar o planejamento estratégico com metas bem definidas, objetivos e espírito criativo.

É fácil notar a tendência dominante com o homem social, produtivo economicamente, voltado para a conquista do meio exterior, em detrimento de sua humanidade, como ser espiritual e eterno, preocupação real da Maçonaria bem explicitada em suas definições e princípios, cuja essência está na pergunta do telhamento:

— O que vindes aqui fazer?

— Vencer minhas paixões e fazer novos progressos na Maçonaria.

Temos lido inumeráveis livros, revistas maçônicas nas quais ao lado de poucos artigos com bons ensinamentos, encontramos uma maioria de trabalhos repetidos ou sem qualquer conteúdo veraz, e educativo. Porém não me recordo de nada ter visto sobre as paixões que, pelas proposições acima, constituem uma das razões da Maçonaria.

Sabemos quase de forma intuitiva o significado delas, porém não dentro de uma teoria de conhecimento, para a qual paixão é o sentimento ou emoção levado a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão. Descartes, por sua vez, dizia: “ser todo o pensamento que é excitado na alma sem o socorro da vontade, unicamente pelas impressões existentes no cérebro”. Todavia, ele destaca que o termo “paixão” designa, sobretudo, as emoções, e cita seis formas fundamentais: admiração, amor, ódio, desejo, alegria e tristeza, que são, no fundo, reações afetivas do indivíduo a certos objetos e repercutem nas necessidades e nas tendências.

Para todos os moralistas do século XXI, as paixões designam os “apetites” do ser vivo. Ribot ligava paixão à emoção dizendo ser ela uma emoção prolongada que, de certa forma, passou ao estado crônico. Kant, talvez, estava certo ao dizer: “A emoção atua como as águas que rompem um dique, a paixão como uma torrente que cava seu leito cada vez mais profundamente”. Ela é um sentimento que se tornou tirânico, exclusivo. A paixão é a polarização do psiquismo num único objeto excluindo todos os outros. Ela é uma perturbação do sentimento. Aos olhos do apaixonado, apenas um tema é valorizado: o amor por alguém, o acúmulo de bens materiais, o dinheiro, a conquista ou manutenção do poder.

Portanto a paixão é uma forma de desequilíbrio psíquico, uma verdadeira alienação, pois até certo ponto ela é uma paranoia sem os delírios sistematizados.

Entretanto fica no ar a pergunta:

— Como dominar nossas paixões?

Citando Spinoza: “Uma inclinação que é uma paixão, deixa de sê-lo assim que dela formamos uma idéia clara e distinta”.

Logicamente, não nos caberá pensar na formação do homem cifrão, pois ele é de interesse social e material como produtor e consumidor, cabendo a sua preparação à própria sociedade profana, ficando a nós a formação do homem eterno e humanizado e espiritualizado. Para esse objetivo é óbvio o fracasso da atual temática maçônica mais centrada no culto dos heróis revolucionários resultante do predomínio da historiografia apresentada em livros, palestras e discussões como as previstas no planejamento anexo feito em outra época. Isso implica em modificações radicais nos assuntos apresentados em lojas, porquanto somente nas religiões e nos ensinos filosóficos vamos encontrar a eternidade do homem transformado, para nós, em explicações simbólicas e/ou ritualísticas. Porém unicamente a ritualística rotineira, monótona e imposta autocraticamente, causa cansaço e desinteresse.

Todo planejamento deve ser passado por um prisma de bom senso, desdobrando-o nas várias raias coloridas de ensinamentos que, lentamente, irão dando idéias claras de nossas paixões, trazendo-nos não só o equilíbrio, mas até a felicidade que tanto procuramos nos bens materiais, mas ela é uma conquista da alma.

 

_________________

Referências:

Castelanni, José – “A Maçonaria Moderna Edit. A gazeta Maçônica- São Paulo, 1986;

                           – Loja de Pesquisas Maçônicas, “Brasil” – Londrina 1989;

 

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Sobre Rivaldo Frias

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Rivaldo Frias é bacharel em Direito, mestre maçom e deputado estadual pela Loja Lealdade Cotinguibense, em Aracaju.

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