Lá Vem História

Como duas pessoas que se querem, mas não se pertencem

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Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Ele se falam todos os dia. O primeiro bom dia dela é ele quem envia.

Querendo fazer surpresa não avisou que estaria em Salvador.

Instalado num hotel, enviou uma mensagem para ela:

— Almoça comigo hoje?

— Como assim? — respondeu ela.

— Estou em Salvador, cheguei cedo, vim a trabalho.

— Já tenho compromisso para o almoço, você não avisou nada…

— Compromisso é compromisso. Podemos jantar?

— Já tinha marcado de almoçar com minha mãe, ela está adoentada.

— Melhoras para ela, lhe aguardo às 20h, no local de sempre.

— Combinado. Bom trabalho, beijos.

Ele tomou banho, colocou o blazer e desceu para o café da manhã.

Passou o dia em reunião, comeu em fast food próximo ao local de trabalho, tinha pouco tempo para a nova reunião, já pensando na iguaria do jantar.

Terminado o dia, foi até o hotel, tomou banho, trocou de roupa, e foi para o restaurante combinado.

Às 8h05 ela chegou. Vestido estampado, colar e brincos de pérolas, scarpin dourado. O perfume de sempre, La Vie Est Belle da Lâncome.

Ele levantou-se, deu dois beijos na face, puxou a cadeira, ela acomodou-se.

— Você não avisou que estaria hoje em Salvador.

— Foi tudo muito rápido, vim em um giro pelo nordeste, a empresa me avisou ontem.

— Como é ser CEO? Você está importante!

— Muita responsabilidade, muita cobranças, metas, metas, metas…

— Mas tem o lado bom, disse ela.

— Sim, viagens, bons hotéis, bons restaurantes. Ir a lugares que dificilmente iria pagando.

— Nada na vida tem os dois lados bons, a não ser o disco do Pink Floyd “The dark side of the moon” que é todo bom.

— Você continua gostando de música?

— Sim, sem música não funciono.

— Tenho três alexas espalhadas pela casa. Não sou eu que dou “bom dia, Alexa”, elas que me dão  “Bom dia”, e perguntam o que quero ouvir.

Ela não conteve o sorriso: — Você é mesmo envolvente, conquistou até as alexas — novo riso.

— Como está sua mãe?

— Mais ou menos, depois que papai morreu ela ficou deprê, todo dia é uma dor nova; acho que perdeu um pouco a alegria de viver. Como está tua esposa?

— Na dela. Você está muito bonita, tua pele está ótima. Você está embelezando esse vestido, e como sempre muito cheirosa. Amo teu perfume. 

— Obrigado. Você está muito bem, os cabelos grisalhos te fazem ficar mais bonito.

— Obrigado, faz tempo que não ouço um elogio.

— Tua mulher não te elogia?

Ele pegou o cardápio:

— O que vamos beber? Não responde, deixa eu adivinhar, vinho branco, uva Chardonnay ou Sauvignon blanc?

— Chardonnay, você conhece meu gosto.

— Garçom, uma garrafa de vinho branco Chardonnay e água Perrie.

— E para comer? — perguntou o garçon.

— Fettuccine para ela e Rigatoni alla Carbonara para mim.

— Você conhece como ninguém o meu gosto.

Terminado o jantar, o garçom retira pratos e talheres.

— Para sobremesa, senhores?

— Para ela Banoffee pie, e para mim Crème brûlée.

— Acertou novamente.

Saíram do restaurante, pegaram um táxi e foram para o hotel.

Ele abriu outra garrafa de vinho branco, ela sentou-se na cama.

Beberam mais uma taça. Ela ficou em pé, e começou a despi-lo. Isso era um ritual. Sem a lingerie, agora era a vez dela realizar os gostos dele. Ela tinha o comando.

Nus, ela começou a cavalgá-lo. O côncavo e convexo se encaixam perfeitamente, após roçarem-se, lamberem-se, melarem-se, até ficarem exaustos.

Como dois seres que se querem, mas não se pertecem, chegaram ao Nirvana. Adormeceram. Ela acordou com os primeiros raios solares. Olhou para o lado, ele dormia, nu, relaxado.

Ela o cobriu com o lençol, beijou-o levemente, foi para banheiro. Tomou um banho quente, relaxante. Escovou os dentes com a escova dele. Pegou o batom na bolsa, passou nos lábios, em seguida escreveu no espelho: “Foi maravilhoso, adeus”.

Ele acordou, olhou para o lado, não a viu, foi ao banheiro, leu o que estava escrito no espelho, e pensou: “Adeus, nada, até a próxima “.

Feliz Dia dos Namorados!

 

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Luiz Thadeu Nunes

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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