Numa fazenda francesa havia um galo chamado Chantecler que, todas as madrugadas acordava e cantava a plenos pulmões para acordar o sol. E de fato, pouco depois o sol despontava no horizonte. Ele acreditava – e os outros animais que viviam com ele, também – que o sol nascia por causa do seu canto. Um belo dia, o galo acordou mais tarde e o sol já estava lá, lindo e majestoso, independente do canto dele. Chantecler ficou horrorizado, desesperado, desapontado, assim como seus amigos que lhe eram submissos naquela fazenda.
Essa história foi criada pelo teatrólogo e escritor francês Edmond Rostand e a psicanálise aproveitou para associar o galo às pessoas que acreditam que o mundo se movimenta por causa dos seus talentos. É o conhecido “Complexo de Deus” ou “Complexo de Chantecler” e o que não falta na política brasileira é gente que acredita que o mundo gira em torno dele e por causa dele. Pior ainda, tal qual os animais da fazenda submissos ao empavonado galo, assim são os eleitores tupiniquins que a cada período, colocam um Chantecler no poder.
E olha, para quem acredita em coincidências, basta pensar um pouco e descobrir que não é somente em Brasília que os líderes se comportam exatamente como Chantecler. Tem muito lugar assim, mas deixo que o caro leitor os identifique. Embora incompetentes no quesito gestão, roucos e desafinados, estes inimigos do ritmo vivem na doce ilusão de que, e somente porque existem e se acham gestores de alguma coisa, é que os entes sobrevivem.
Felizmente, o sol não precisa deles para nascer, mas é necessário que o povo tome consciência disso e os defenestre do poder. O ano de 2016 será decisivo para que os brasileiros saiam da mesmice, da letargia e da incompetência que travam o Brasil. Até agora, a classe política só construiu o caos, por isso tão desacreditada. A economia está em frangalhos, tem lugar que o décimo-terceiro é pago parceladamente, o desemprego massacra a todos. A Constituição é desrespeitada, assim como todo o eleitorado.
Quem antes criticava todos os governos, hoje, no poder, não aceita críticas e faz pior ou igual aos antecessores. Seja no Estado ou na capital não há inovação nenhuma. Os Chanteclers se revezam no poder, e passam de pai para filho como se ali fosse um feudo e o povo, os submissos vassalos, contribue placidamente para isso. Há um lugar, onde há governador que vira prefeito, que vira governador novamente, que depois é prefeito, depois governador, depois… Ufa! Cansa.
Embora exista muita gente ingênua e que ainda acredita nesse canto, chegará o dia em que – e espera-se que esteja próximo – ninguém mais acreditará neles.
Além de calar e aposentar estes Chanteclers, é necessário começar do zero. Cada recomeçar tem que ter como marca o otimismo. Então, que os novos que vierem a sucedê-los (se pudesse, eles já teriam ido embora com 2015) não tenham nenhuma ligação com eles, pois há sempre o risco de contaminação.
O sol nasce, independente de Chantecler. E o povo não precisa ser submisso a nenhum galo cantador. Ele é o senhor da própria história.