Na semana passada entrei em uma aeronave, em um voo de duas horas e desembarquei no moderno aeroporto de Salvador, que fazia vários anos que não visitava. Após um ano e meio sem viajar, quebrei um longo jejum. Desde o início da pandemia do coronavírus minhas viagens são apenas pelas ruas estreitas e ladeiras de minha Ilha do Amor. Estava com abstinência de voar.
Três adiamentos da viagem, finalmente desci na capital baiana, na tarde de um domingo ensolarado. Quem estava à minha espera era um amigo, que conheci em um trabalho, em Fortaleza, no distante ano de 2000.
Hidelbrando Valadares, baiano de Feira de Santana, é um amigo que cultivo desde aquela época; era com ele que trabalhava, em 2003, em João Pessoa, quando me acidentei seriamente, mudando minha trajetória para sempre.
Homem de posses, sem excessos, encontrei um Hidelbrando sereno, usufruindo de tudo de melhor que seus recursos podem lhe assegurar. Hospedou-me por dois dias, sempre gentil e generoso. Apresentou-me seu seleto grupo de amigos, em diferentes jantares. Conheci Arnaldo Lemos de Sousa e Eduardo Mascarenhas, colegas de faculdade de Direito, amizades longínquas e sedimentadas. Sentei à mesa como um contador de histórias, mas Arnaldo logo assumiu a posição, com histórias únicas e hilárias. Arnaldo, advogado por formação, juiz de direito por concurso, mas sua melhor versão é de cronista, cativa com seus relatos de casos vividos e vivenciados. Ouvi-lo é um deleite. Ficaria horas a sorver seus relatos.
Em outro jantar, Hidelbrando e eu fomos dividir mesa com Antônio Carlos Silva e a namorada Vanessa. Já tinha ouvido falar em Antônio Carlos desde os tempos dos trabalhos em Fortaleza. Gentil, educado, atencioso, Antônio Carlos, baiano que reside em Brasília, estava de férias em Salvador.
Hidelbrando e Antônio Carlos se conheceram como concorrentes, ambos são frasistas, e sempre participavam dos mesmo concursos de frases, de produtos divulgados pela mídia. Alternavam prêmios, até que por uma dessas coincidências da vida, conheceram-se pessoalmente, nunca mais se separaram. Até uma viagem para África do Sul foram juntos, dividindo o mesmo prêmio. Na viagem à África do Sul estava Arnaldo.
De Salvador segui viagem para Aracaju, lugar que me surpreendeu positivamente: limpa, calma, bucólica, praiana e pessoas agradáveis e atenciosas.
Na rodoviária de Aracaju estava me aguardando Luís Roberto Freitas, velho amigo e colega dos bancos escolares do antigo Colégio Batista Daniel de La Touche, referência no ensino e disciplina em nossa cidade.
Conheço Luís Roberto há 50 anos, desde o 4º ano do antigo primário, época que fomos matriculados na mesma turma. Cursamos o primário e o científico, por sete anos. Após esse período, nos separamos, cada um trilhou caminhos diferentes. Não tivemos mais notícias um do outro. Ele foi morar fora de São Luís, e por causa do emprego morou em diferentes lugares do Brasil, até no exterior, serviu na Embaixada brasileira em Buenos Aires.
Luís casou com uma colega de turma do Batista, Maria Goretti, que frutificou com filhos Igor e Lorena. Hoje a alegria do casal está voltada para as lindas e inteligentes netas gêmeas, Maria Laura e Maria Geovana.
Na estadia em Aracaju fiquei hospedado com o casal de amigos de longo tempo, e assim tivemos a oportunidade de revisitar muitas coisas e pessoas de um tempo bom e que não volta mais.
Luís Roberto é Corregedor Geral da Polícia Penal de Sergipe, e graças à sua influência e intermediação palestrei para três diferentes plateias.
Em dois encontros falei para turmas do Curso de Formação Polícia Penal, para jovens em construção de suas vidas e futuro. Como minha matéria prima são os sonhos, tive a oportunidade de falar de minha recuperação após cinco anos preso à leitos hospitalares, 43 cirurgias, e minhas andanças pelo mundo.
Conheci através de Luís Roberto, o jornalista Antônio Garcia, e passamos a ter contato virtual. Garcia foi se encontrar comigo em um shopping de Aracaju, e assim pude desfrutar de sua presença e atenção. Antônio Garcia escreveu um excelente artigo em que gentilmente me compara com Phileas Fogg, do livro “A volta ao mundo em 80 dias”, do escritor francês Júlio Verne. São essas pequenas deferências que alegram o meu coração, e fazem bem para o espírito.
Quando estive em visita ao deserto do Atacama, em julho de 2018, jantei com um casal de sergipanos, muito viajados. Continuei mantendo contato com Igor, e nesta visita à Aracaju, tive a oportunidade de reencontrá-lo juntamente com a esposa Mônica. Almoçamos juntos, a convite do casal, um ótimo encontro em torno da mesa, boa comida e ótimas conversas. Luís Roberto me acompanhou, e devidamente apresentado ao casal, trocaram contatos.
Longe de mim ser um Dale Carnegie (1888-1955), americano autor do best-seller “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, que li quando tinha treze anos, cujos ensinamentos seguem atuais para mim.
Digo sempre que sou um homem sem grandes talentos: não sei cantar, jogar futebol, e nem assobiar, mas Deus, em sua infinita bondade, deu-me a capacidade de atrair e preservar amizades com pessoas boas, gentis e generosas que tornam minha caminhada mais leve.
Obrigado a todos vocês pela atenção, carinho, gentileza e generosidade, que fazem parte de minha história, que mesmo com a passagem do tempo, conseguimos manter a chama acesa e ardente da amizade.
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Luiz Thadeu Nunes e Silva
Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.