Valtênio Paes de Oliveira (*)
Mais uma vez campeão sergipano, a Associação Desportiva Confiança tem características diferentes da maioria dos outros clubes nacionais. Além de ter nascido numa fábrica, teve manifestações populares na sua história e ídolos marcantes. Torcedores politizados! Segundo a edição histórica da revista “Proletário” em sua edição 80-ADC, o dirigente da Federação Sergipana não permitiu que o Confiança jogasse, em seu campo, a segunda partida da final do campeonato sergipano, após ter vencido a primeira do Sergipe por 3×1. O fato ensejou conflitos jurídicos que ameaçaram fechamento do clube. Como consequência acontecera o rompimento do clube com a federação e a decisão de seu fechamento. Torcedores foram às ruas, protestaram, ensejando a célebre frase do patrono Joaquim Ribeiro: “Se para o bem de todos e felicidade maior do Confiança, o Confiança fica e fábrica sai, porque o Confiança não pertence mais à fábrica, o Confiança agora é povo”.
Na época em que empresários permitiam que seus empregados praticassem esportes, expandiu-se bastante a criação de times de futebol. O Bangu, na fábrica Companhia Progresso Industrial em 1902 no Rio de Janeiro, o Crespi em 1909, depois renomeado de Juventus em S. Paulo, e tantos outros. Em Sergipe, o Passagem em Neópolis, o Santa Cruz fundado em 03.05.1930 na Vila Operária Santa Cruz por funcionários da Companhia Industrial de Estância, reativado pela fábrica, em 1937 com apoio do diretor Júlio César Leite e Coriolano Alves. Chegou ser campeão estadual nos anos 1956 a 1960. Na Europa, o PSV – Philips Vereniging em 1913, o Arsenal em 1889, no sudeste de Londres na fábrica de armamento, a farmacêutica Bayer em 1904 com ginástica, depois futebol. Foram vários, pelo planeta transformando a FIFA, talvez, numa poderosa multinacional.
Segundo publicação intitulada “Proletário”, em 2016, a Associação Desportiva Confiança fora fundada em 01 de maio de 1936 também vinculada a uma fábrica, a Fábrica de Tecidos Confiança, no bairro Industrial, de propriedade de Joaquim Sabino Ribeiro. No último dia 13 de abril se sagrou, mais uma vez, campeão do Estado de Sergipe. O que mudou na ótica da relação torcedor e atleta?
Bela trajetória, várias vezes campeão estadual, vice-campeão da Zona Nordeste da Taça Brasil em 1964, campeonato que antecedeu a Copa Brasil. No passado, decorava-se a escalação mesmo em longínqua memória. A torcida tinha simpatia pelo atleta que durava no clube. Saudosistas ou amantes da história, enfileiram nomes marcantes da vida com duas escalações que marcaram época: Roberto, Zazir, Zé Mecânico, Ti Carlos e Alfeu; Paulo e Luis Carlos; Nininho, Marcílio e Joãozinho. Individualmente, Aldair, Fanta, Elio Abacate e Naninho; Jurandi, Beto, Ruiter e Daniel. Evangelista, Debinha também se destacavam. Noutra época, outro grande time: Zé Luís, Gilson, Fiscina, Lourival e Tinteiro. Dudu, Samuca (Deri), Vevé, Mirobaldo, Miro, Maromba, Luiz Carlos Bossa Nova, Nunes, Lumumba. Tantos outros marcaram a imaginação do torcedor proletário até a ascensão para a série B do campeonato brasileiro em 2015.
Em 1963 na Taça Brasil, Ruiter superou Pelé na artilharia do torneio ao marcar em 25 de agosto, em Fortaleza contra o Ceará. Segundo o cronista Francisco Viana Filho, depois foi jogar na Europa, tornando-se ídolo na França, retornando em 1975, no fim de carreira, chegando a jogar alguns amistosos ao lado de Nunes que despontava.
Doravante ficou difícil decorar escalações que perpassassem alguns anos. A mobilidade de contratos curtos, a força de empresários de atletas deixou o Confiança e a maioria dos clubes com dificuldades de manter seus destaques por várias temporadas. Torcedores e atletas perderam vínculos de convivência e identidades. Difícil listar no século XXI, grandes ídolos em face a rápidas passagens.
Fato é que, neste 13 de abril, os azulinos vibraram com mais um título de campeão sergipano. Dificilmente decoraremos a escalação do time campeão. Muitos atletas logo sairão. Ficará sempre a paixão pelo time do bairro Industrial, graças à iniciativa de Joaquim Sabino Ribeiro e os demais dirigentes subsequentes. Afinal, vão os ídolos, fica o clube, carregando sua história para o gáudio de seus admiradores.
Que venham novos títulos!