Juliana Melo (*)
As incertezas provocadas pela covid-19, a imposição do isolamento social e a suspensão de vários eventos esportivos, a exemplo das Olimpíada de Tóquio, tem preocupado a principal paratleta sergipana com chances de participar da paraolimpíada. Mesmo sem nenhuma definição de data, ela segue, ainda que com dificuldades, enquanto que dirigentes esportivos buscam ampliar o paratletismo em Sergipe.
Uma das paratletas é a sergipana Maria Gilda dos Santos, com experiência em competições internacionais. Ela é uma das que sente, diariamente, o impacto provocado pelos sucessivos decretos de distanciamento social. Paratleta há mais de 20 anos de parabadminton, Gilda, que nasceu no povoado Lagoa do Meio, em Capela, é integrante da Seleção Brasileira de Parabadminton desde 2016.
“Eu participei de dois mundiais no ano passado e fui classificada para o mundial da Suíça. Eu também participei de algumas competições internacionais que estão pleiteando a vaga para Tóquio, mas devido à realidade social que estamos vivendo, atualmente, não pude completar a participação na última competição necessária para essa vaga. Estou aguardando para saber como ela será realizada, ou se existirá algo que a substitua”, revela a desportista.
Gilda começou a traçar sua história no esporte por meio da natação transformando-se em paratleta de alto rendimento e possuindo a categoria funcional S9 nessa modalidade. Antes dessa prática esportiva, a guerreira partiu para o basquete em cadeira de rodas.
A modalidade possui uma classificação funcional que compreende do 1 ao 4,5, Gilda está classificada no 3 (os números representam a capacidade física de cada profissional do esporte adaptado, quanto maior as dificuldades físicas dos mesmos, menor é o número de classificação deles). Ela também perpassou pelo paratletismo realizando as provas de circuito fechado, arremesso de peso e lançamento de disco, adquirindo a classificação T54.
Enquanto não há uma decisão quanto à competição que definirá sua participação ou não na Paraolimpíada de Tóquio, Gilda segue ansiosa. “A possibilidade de participar das paraolimpíadas é uma mix de distintas emoções e incerteza. Mas o que me angustia é a covid-19. É difícil para mim não poder treinar e não saber como será o processo de continuação das competições. Eu moro em apartamento e fico batendo peteca aqui de um lado para o outro. É incômodo para os vizinhos, mas eu preciso manter ativo o meu treino. Outro problema é a dieta, pois não podemos engordar e nem ficarmos inativos na prática esportiva. É muito complicado lidar com essa realidade”, acrescenta.
Os jogos Paraolímpicos de Tóquio deste ano devem contar com cerca de 230 paratletas brasileiros, sendo 150 homens e 80 mulheres, mas devido à pandemia gerada pelo novo Coronavírus, tudo torna-se incerto.
De acordo com o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), atualmente existem 22 modalidades adaptadas para a pessoa com deficiência nos jogos paraolímpicos de verão, sendo algumas delas, atletismo, goalball, natação, tênis em cadeira de rodas, voleibol sentado, basquete em cadeira de rodas, halterofilismo, parabadminton, hipismo, tiro esportivo, esgrima em cadeira de rodas e judô. Já nos de inverno existem cinco modalidades, sendo elas esqui cross country, biathlon, hóquei, curling em cadeira de rodas e esqui alpino (que engloba o snowboard).
Enquanto Gilda sonha com Tóquio, o paratleta de halterofilismo, Afonsos Santana, em tempos de pandemia e isolamento, se reinventa todos os dias para manter a rotina de treinamentos. Os objetos que ele possui em casa são alternativas encontradas para não ficar parado.
“O halterofilismo significa muito para mim e eu me viro com o que encontro. Um pedaço de borracha preso a uma grade me possibilitando puxá-lo. É um treino relevante e possível de ser praticado de maneira rápida, mas é necessário otimizar o tempo e se adequar à situação estabelecida com a esperança que ela logo e se modifique, nos possibilitando retornar às competições”, afirmou.
Com 27 anos de idade, Afonsos já ganhou o terceiro lugar no Campeonato Nacional de Halterofilismo em São Paulo, em novembro do ano passado, e em março deste ano ficou em segundo lugar no Campeonato Norte-Nordeste que aconteceu na cidade de Recife.
Para o ex-atleta e coordenador de inclusão no esporte da Secretaria Municipal da Juventude e do Esporte (Sejesp), Luiz Carlos Bossa Nova, Aracaju precisa gerar mais iniciativas que fomentem a prática dos esportes adaptados na capital.
“Deus não tira uma coisa sem dar outra. Uma pessoa com deficiência é tão capaz quanto uma que não possui deficiência. A carência de incentivo para o esporte adaptado é um problema no nosso Estado que precisa ser trabalhado para assegurar projetos que venham a elucidar essa temática o quanto antes. Fora a Universidade Federal de Sergipe eu, infelizmente, não consigo enxergar muitas alternativas para essa possibilidade de esporte na capital”, lamenta Luiz Carlos.
A Sejesp deve inaugurar, segundo semestre deste ano, o Centro de Iniciação ao Esporte (CIE) no bairro Bugio, e Luiz será um dos responsáveis pela gestão do local. Ele garante que tentará, em comunhão com seus colegas de trabalho, incluir no centro o paradesporto.
Outra iniciativa que contempla os paratletas sergipanos é o Projeto Paradesportivo de Sergipe da Universidade Federal (UFS) idealizado pelo professor Marcelo de Castro, que é um profissional atuante no Departamento de Educação Física. Ele administra a disciplina Adaptada no curso da instituição.
A iniciativa conta com modalidades como o handebol para cadeirantes, tênis de mesa, atletismo, parabadminton e a bocha. A bocha é um esporte jogado entre duas equipes, cada qual tendo direito a seis bochas (bolas) na modalidade trio, quatro bochas na modalidade de duplas – duas para cada atleta -, e quatro também na modalidade individual.
O objetivo do projeto é reabilitar por meio da prática esportiva qualquer pessoa com deficiência que queira participar. Atualmente já passaram pelo projeto mais de 75 deficientes, possuindo atletas classificados nos três níveis de competição, oito deles são de nível internacional.
A UFS dispõe para os paradesportistas, o auxílio de fisioterapeutas e nutricionistas além dos amparos relacionados com a utilização das cadeiras de rodas adequadas para os treinos e competições das distintas modalidades, a utilização da quadra, o material de iniciação e a disponibilidade de transportes de forma gratuita, atendendo tanto os alunos da instituição como também a comunidade.
Outra entidade que tem como foco os paratletas é o Centro Integrado Esportivo Paradesporto (CIEP), uma entidade filantrópica construída por meio de alguns voluntários e sem sede fixa. O clube possui conquistas esportivas importantes, mas precisa de uma visibilidade maior para as nove mulheres e 18 homens que fazem efetivamente parte do centro que atualmente encontram-se na quinta posição no Campeonato Brasileiro.
Cléa Gonçalves é a voluntaria mais antiga da entidade e conta que ter se voluntariado efetivamente em 2016 no centro foi uma lição de vida. “Eu era atleta de voleibol e entrei com a finalidade de ensinar um pouco da modalidade para eles. Mas o aprendizado foi todo meu. É impressionante a resiliência que cada um deles possue”, conta a voluntaria da parte técnica do Ciep.
A entidade filantrópica possui, entre outras modalidades, o vôlei sentado, natação, lançamento de dardo, arremesso de peso e corrida de 100, 200 e 400 metros, sendo as três últimas modalidades englobadas no paratletismo.
Wilton Gois é um dos praticantes de vôlei sentado do Ciep desde 2012 e afirma que o esporte foi um grande aliado na melhora do seu condicionamento físico. “A prática esportiva fez a minha saúde melhorar muito, eu era extremamente sedentário, e ter agregado o esporte na minha vida foi um favor que eu fiz para o funcionamento do meu corpo”, esclarece o paradesportista.
O diretor de Juventude da Sejesp, coordenador da equipe de vôlei da Associação Desportiva Confiança (ADC), e profissional em Educação Física, Chico Albuquerque, assim como Bossa Nova, também acredita que o paradesporto necessita de uma maior atenção no estado.
Anterior ao decreto de isolamento social, Chico entrou em contato com integrantes do Ciep e relatou a vontade de agregar a equipe de vôleibol sentado deles ao volêi do Confiança. “Eu investi em alguns departamentos oferecidos pela modalidade além do vôlei masculino, como o vôlei de praia e o vôlei feminino. Com as equipes já consolidadas eu quero agregar o vôlei sentado, que é um trabalho belíssimo realizado por esses gigantes do esporte amador. E nada mais justo do que gerar visibilidade e inclusão social por meio da prática esportiva que eles realizam”, relata o coordenador.
Camila Feitosa é paratleta de halterofilismo há cerca de três anos e já conquistou seis medalhas, além de ser a mulher mais forte do Brasil por ter conseguido levantar no Campeonato Brasileiro de São Paulo no ano passado 2.4 vezes o equivalente ao seu peso corporal. Ela relata que a inclusão oferecida pelo esporte, além de ser benéfico, é a garantia de um direito.
“O esporte me mostrou possibilidades infinitas e abriu os meus olhos para um mundo novo, um mundo onde eu me sinto ainda mais capaz para chegar aonde eu desejo. O esporte fortaleceu o meu corpo e a minha mente, ele abriu um leque de amizades maravilhoso e reforçou o meu direito de estar inclusa na sociedade’’, revela a paraesportista.
Acompanhe o vídeo abaixo com uma mensagem que eles gravaram para vocês.
(*) Estagiária sob coordenação do jornalista Antônio Carlos Garcia
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