sábado, 16/11/2024
Luanderson, de blusão azul, na peça O Pequeno Grande Índio Serigy

Criatividade: Ator se reinventa na arte e no empreendedorismo para conseguir manter sua renda no atual contexto social 

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Juliana Melo (*)

Negócios com vendas de açaí, churrasco, apresentações teatrais e poesia. Essa mistura nada convencional faz parte da vida do jovem ator e empresário Luanderson Moraes que, ao ver a churrascaria do pai comercializando apenas quentinhas, resolveu partir para o novo negócio a fim de promover seu próprio sustento e ajudar a família. Como  a sensibilidade os poemas começaram a brotar, se surgir uma oportunidade, um livro pode até  ser um projeto a ser pensado.

Esse é apenas um resumo da história de vida de Luanderson Moraes, 19 anos, que criou o delivery de açaí e terminou por criar até um nome sugestivo: WhatsÇaí (9.9909.7188). O serviço começou há duas semanas e até o momento Luanderson só fez oito vendas.

Açaí preparado pelo empreendedor

Mas isso não o desanima, muito pelo contrário: além de usar as redes sociais, está distribuindo panfletos pelos condomínios do Conjunto Augusto Franco, onde mora. Ele anuncia que “a taxa de entrega para os locais próximos onde mora e redondezas, tem um custo de R$ 3. Para outros bairros nós calculamos a taxa de entrega embasada na distância em que o cliente se encontra”.

Ator desde 2018, Luanderson conta que, sem peças teatrais e festas para animar, a venda de açaí foi a alternativa encontrada para a sobrevivência financeira. “Eu não estava mais conseguindo trabalhar com o teatro, resolvi montar meu açaí. A ideia sempre foi recorrente nos meus pensamentos e sem dúvidas o momento mais propício para idealizar essa vontade foi diante da realidade pela qual estamos passando”, afirmou.

Ele compra cerca de 10 quilos de açaí, de quatro em quatro semanas, na empresa Tia Augusta, na Coroa do Meio. “As vendas não estão como eu esperava, mas não vou desistir, estou aos poucos conseguindo vender”, frisa o empreendedor.  O açaí é também vendido em um quiosque da família no Conjunto Augusto Franco.

O açaí, que é disponibilizado em copos ou em tigelas, atualmente está gerando uma renda irrisória para o rapaz, sendo essa apenas utilizada para as compras de reposição dos acompanhamentos como amendoim, castanha, kiwi, creme de avelã, morango e paçoca.

Churrasco e poesia

Luanderson é de uma família de empreendedores. Há nove anos que a o pai dele, Sidinei Walter é proprietário da Churrascaria e Restaurante Gaúcho, no bairro Farolândia. O nome da empresa é em homenagem a Inácio Walter, avô de Luanderson. Esse tino  empreendedorismo vem de berço.

Enquanto Sidinei estava em Petrolina (PE) com sua esposa e seus dois filhos, Luan e Luanderson, trabalhando com a venda de frutas, Inácio tinha um restaurante na capital sergipana localizado no bairro Siqueira Campos, também denominado de Gaúcho. Quando as vendas em Petrolina começaram a despencar, Sidinei resolveu se juntar ao pai e recomeçar sua renda financeira abrindo, com a ajuda do Inácio, um quiosque no Augusto Franco, que depois se transformou no segundo restaurante do gaúcho.

“A princípio somente eu e minha mãe viemos para arrumar o quiosque, enquanto meu pai estava correndo atrás das mercadorias e analisando os preços. Nós começamos vendendo churrasco, almoço, cervejas e refrigerantes, mas na época o nosso forte era o churrasco. O quiosque ficava em uma praça que na época era um tanto isolada, mas assim que chegamos ao local conseguimos agregar um bom público. Nós ficávamos abertos manhã e tarde, e graças a Deus sempre tínhamos bons clientes”, explicou Luanderson.

O quiosque, localizado na praça do Triângulo, ia ganhando uma nova roupagem, pois cada lucro adquirido era investido na estrutura do negócio.  Com o passar do tempo, a renda conseguida com as vendas fez a família Walter alugar uma nova moradia localizada na mesma rua, se diferenciando desta principalmente em relação ao espaço.

Churrascaria do Gaúcho, no Augusto Franco

A casa que foi conquistada dispõe de dois andares. O salão localizado no térreo ganhou espaço para o empreendedorismo do Sidinei que deixou de ser somente quiosque para transforma-se em um restaurante. O primeiro andar abrigou a família Walter, cumprindo essa função até os dias atuais.

“Quando vimos a casa, logo pensamos como seria interessante adquiri-la para ampliar o nosso negócio, investimos e deu certo. Com o passar do tempo foram surgindo outros restaurantes na praça e ela passou a ser cada vez mais movimentada. Os novos estabelecimentos comerciais não foram um problema para o nosso restaurante. Os clientes gostavam muito do churrasco do meu pai, então não fomos afetados. O que nos afetou mesmo foi o decreto governamental nos proibindo de abrir o estabelecimento devido à realidade social de isolamento”, salienta Luanderson.

Com a pandemia o Restaurante do Gaúcho não teve outra alternativa senão baixar as portas e, por enquanto, só está trabalhando com o quiosque. Antes, o atendimento era feito na parte interna do estabelecimento e também no quiosque.

“Nós tivemos que baixar as portas para diminuir as despesas, afinal nós estamos impossibilitados de exercer o nosso trabalho e não estamos mais conseguindo a renda que tínhamos anteriormente.  Só estamos com o nosso quiosque da praça, com o delivery e com o pega e leva das quentinhas. Infelizmente a pandemia provocou uma quebra financeira na nossa estrutura familiar, e eu quero muito que essa covid passe logo para nós podermos trabalhar normalmente”, torce Luanderson. O estabelecimento, que vendia 150 quentinhas por semana e nos finais de semana chegava a 350, agora vende uma média de 90 a 100.

O ator, um observador e poeta.

Além de empreendedor, com a venda de açaí, Luanderson  também é ator, mas há cinco meses não atua em peças e festas infantis, por conta da covid-19. E aí, como já foi dito, as finanças foram a zero. O sonho de ser ator é algo que ele acalenta desde a infância.

“Eu sempre quis proporcionar orgulho para os meus pais. Minha mãe gostava muito de novelas e o meu pai de filmes de ação, e eu via o quanto isso os entusiasmava. Mesmo sem entender direito que aquilo eram atores exercendo suas profissões, eu queria estar ali no lugar deles ou com eles. Eu queria que meus pais se orgulhassem de mim. Essa vontade [de ser ator] há muito tempo vem gritando dentro do meu coração, faltava oportunidade para realizar esse sonho. Quando  tive a chance de fazer parte de uma escola de atuação eu embarquei com tudo. Eu sempre estou disposto a melhorar e tornar meu trabalho cada vez mais rico, porque é isso que eu amo fazer”, revela Luanderson.

O ator sempre foi ligado ao esporte e houve uma época em que o jovem era o atleta do Augusto Franco. Se destacando no boxe, ele fraturou uma costela.

“Com muita dor eu sabia que o modo como eu tinha sido atingido pelo meu adversário de luta havia me ocasionado algum prejuízo, a dor me obrigou ir ao médico e  descobri que tive uma costela fraturada. Tomei todos os cuidados e os remédios prescritos até a formação do calo ósseo. Meu pai sentiu medo que eu levasse o boxe à frente e terminasse todo quebrado, então eu pensei: se eu não posso mais ser boxeador vou tentar de fato conhecer o que é ser um ator, já que essa vontade nunca me abandonou”, lembra Luanderson.

Ele tinha o costume de ir ao teatro assistir a peças e shows de stand up e conta que sempre sentiu uma energia muito forte nesses passeios. Ainda no início da sua carreira, Luanderson já realizou mais de seis peças teatrais, sendo algumas delas o Rei do Show, Romeu e Julieta, Expresso Polar, O Pequeno Grande Índio Serigy, Ararinha Mágica e O gato de Botas.

Os últimos trabalhos realizados pelo ator foram no Grupo Raízes pertencente ao produtor cultural Jorge Lins. Além dos colégios que já o contrataram para realizar peças infantis pagando um cachê por elas, Luanderson também já se transformou em Capitão América, Thor e Homem Aranha para alegrar festas infantis.

Luanderson, de Capitão América, animando uma festa

Para se reinventar e não abandonar a arte por inteiro,  Luanderson, no período da pandemia, está se dedicando cada vez mais à escrita dos seus poemas que surgem por meio de um olhar atento a tudo que rodeia o jovem.

 “Meu objetivo com a escrita dos poemas é fazer com que as pessoas tenham mais compaixão umas com as outras, é transmitir por meio das palavras um imenso grito para que as pessoas se lembrem que existem outras pessoas que estão sofrendo. O que eu relato nas poesias são coisas concretas, não são apenas palavras jogadas ao vento, elas têm um significado, é uma maneira de explanar o que eu trago dentro de mim. Meus poemas são importantes para mim, mas se existisse a possibilidade de vendê-los, dependendo de como seria esse processo, eu os venderia, assim como também os colocaria em um livro se Deus me permitisse a oportunidade”, explica o rapaz.

A inspiração surge justamente devido à atenção que Luanderson tem com as pessoas, as atitudes e as situações que os cercam. “Às vezes eu aparento ser um cara ríspido, mas não, isso é só uma aparência, no fundo quem fala mais alto é o meu coração. Quando uma cena me chama a atenção eu esqueço do mundo, só existe aquilo nos meus pensamentos e é a partir disso que eu transcorro minhas palavras digitando-as na tela do meu celular”, esclarece o poeta.

(*) Estagiária sob supervisão do  jornalista Antônio Carlos Garcia

 

Luanderson contabiliza 14 poemas elaborados sendo alguns deles Vamos parar de adiar, Não desista, Criticador, e Esse Beijo. Assista agora Luanderson recitando seu poema mais recente, Nossa Vida é uma Glória.

 

Amanhã, a próxima história: Como três jovens se uniram e, de olho no futuro, abriram a Infantaria Motos.

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