Não é incomum que as memórias da infância se façam presentes, mesmo que de forma sutil, até o final da vida. Para muitos, o sentimento de nostalgia e as lembranças podem ser ativadas por meio de diferentes sensações, cheiros, sabores e, inclusive, músicas. Foi com essa perspectiva que a Orquestra Sinfônica de Sergipe (Orsse) construiu um concerto especial em alusão ao Dia das Crianças, comemorado no dia 12 de outubro, com a temática de jogos eletrônicos.
A programação do ‘Muzikstation’ foi iniciada no Teatro Tobias Barreto na noite desta quarta-feira, 11. O repertório incluiu desde as trilhas sonoras dos jogos mais mais atuais, a exemplo de Final Fantasy, Castlevania, League of Legends, The Last of Us e Cuphead, até os clássicos, como Mario Kart, Sonic e Street Fighter, o que impulsionou a presença não apenas das crianças, mas também de adolescentes, jovens, adultos e idosos que revisitaram as lembranças do passado.
Essa busca por um repertório mais plural e diverso tem sido uma tendência adotada pela Orsse. De acordo com o diretor artístico da orquestra, maestro Guilherme Mannis, isso vem com o intuito de reafirmar o grupo como uma extensão da sociedade sergipana nas mais variadas vertentes. “Da mesma forma que não abandonamos a tradição do repertório sinfônico, olhamos ao nosso redor para as possibilidades sinfônicas da contemporaneidade, tais como as belíssimas trilhas de filmes, de games, de seriados, o diálogo com a MPB e a música regional, sem deixar de lado a música de vanguarda também”, aponta Mannis.
Todo esse movimento permite a construção de uma maior identificação do público com o repertório da orquestra, não apenas ampliando o acesso da população à cultura como também tornando-a parte desse processo, o que, segundo o maestro, é uma prioridade da Orsse. “O público sente-se muito bem com esse caleidoscópio de ideias, encontrando-se no teatro com algumas de suas preferências e abrindo-se a inúmeras novas perspectivas. Assistir à Orsse tem sido um evento sensorial, e nosso público, independentemente de idade ou classe social, é nosso grande parceiro nessas descobertas. Sentir-se parte integrante da cultura é fundamental para o interesse pela programação, para a sensação de pertencimento do público”, acrescenta o regente.
Os aplausos e a aprovação do público comprovam o sucesso desse trabalho. A policial militar Adriana Littig, de 51 anos, ficou sabendo do concerto e decidiu levar os filhos, Arthur, 13, e Pedro, 11, que são fãs dos games. “Achei muito legal a proposta. Os dois gostam de jogos, então eu achei bem interessante porque leva a orquestra, a música e o instrumento para próximo de um público jovem”, afirmou. Foi a primeira vez em que os meninos assistiram a uma orquestra, e as expectativas para ouvir as músicas que embalam as tardes de diversão de uma forma completamente nova eram as melhores. “Eu gosto bastante de jogar. Jogo Hot Lap League, Minecraft, Fortnite. Eu acho que vai ser bem emocionante e bem legal”, contou Arthur.
Assim como Adriana, o professor Luiz Alberto Verdana, 40, levou a família para prestigiar o espetáculo da Orsse. Fã de jogos eletrônicos desde a infância, ele hoje compartilha o gosto com o filho, Mateus, 14, e ambos demonstraram bastante empolgação com o evento. “Eu comprei os ingressos para todo mundo, porque eu sou muito fã de videogames, e aí quando eu vi que eles iam fazer várias trilhas resolvi trazer toda a família. Nós jogamos juntos desde que ele tinha três anos de idade. A gente sempre quis vir assistir à Orsse, e agora vou acompanhar mais para não perder o restante da agenda deles, porque eu acho bem legal esse trabalho”, disse.
Para o engenheiro eletricista Caíque Nonato, 28, o concerto levou a possibilidade de ouvir a trilha sonora do seu jogo favorito, The Last Of Us, a partir de uma nova perspectiva. “Jogos são meu passatempo favorito. Acho que o espetáculo é um misto de nostalgia com alguns jogos atuais também, então é uma mistura de sentimentos. Traz um pouco da nostalgia e essa imersão nos jogos e na música também”, considera.
E quem é jovem há mais tempo também se divertiu. A professora Conceição Abreu, 70, relatou que é uma verdadeira fã de música clássica e tem o costume de frequentar espetáculos de orquestras, e o ‘Muzikstation’ foi uma oportunidade de ouvir as trilhas sonoras dos games que seus filhos, mesmo já adultos, continuam jogando assiduamente. “Eu achei super interessante, porque eu acho as músicas de videogame muito boas. Todos os meus quatro filhos adoram videogame, e quando eu passo na sala e escuto eu paro na hora, porque as músicas são lindas. Os melhores compositores são pagos pelas empresas produtoras para lançar músicas especialmente para o videogame, então a gente vê que é uma qualidade primorosa”, detalha a professora.
Teve até quem viajou só para conferir o concerto da Orsse. Mário Tavares, 28, é professor e maestro da Filarmônica Lira Popular de Lagarto, município do centro-sul do estado. Ele aproveitou a programação especial de Dia das Crianças para levar toda a turma, que recebe alunos a partir dos sete anos de idade. “Os alunos que estão vindo hoje nunca vieram ao teatro e a uma apresentação, e por ser Dia das Crianças e ser um concerto atrativo pela temática, foi uma oportunidade de trazê-los para prestigiar a orquestra sinfônica”, relatou.
Nesse contexto, ele acredita que a inclusão de repertórios mais diversos e inovadores abre portas para a entrada de novos públicos nos concertos. “Esse tipo de repertório, ao meu ver, é uma porta de entrada para que eles comecem a consumir música de concerto, que se familiarizem com o ambiente do teatro. Ano passado, na Filarmônica de Lagarto, a gente propôs uma ideia parecida, com temas de filmes, com a mesma finalidade de atrair as pessoas para o consumo da música instrumental, e a recepção também foi boa; acaba aumentando cada vez mais a procura dos jovens, justamente por ter essa roupagem mais próxima da realidade deles”, pondera o musicista.
E a inovação não vem somente no repertório. Vestidos a caráter, os músicos da Orsse possibilitaram ao público a oportunidade única de presenciar uma orquestra regida pelo Mario e a Princesa Peach tocando violino, além de outros tantos personagens dos games. Mas o que a plateia vê no palco é apenas uma parte do trabalho desempenhado pelo grupo para proporcionar mais inventividade e criatividade à programação da orquestra. Segundo o maestro Guilherme Mannis, a construção de um repertório envolve uma pesquisa extensa, incluindo o resgate de partituras e arquivos antigos e a produção de arranjos sinfônicos especiais, o que, muitas vezes, pode durar meses.
“Todos os projetos especiais – CineOrquestra, Muzikflix, Muziksation – são feitos por meio de arranjos especiais cedidos para o grupo. Há um nível de dedicação muito grande por trás de cada concerto, envolvendo uma equipe enorme. Seria muito mais fácil executar peças de repertório tradicional”, complementa Mannis.
Muzikstation
A programação de Dia das Crianças da Orsse segue a partir das 17 horas desta quinta-feira, 12, também no Teatro Tobias Barreto. Os ingressos estão disponíveis nas bilheterias do teatro, nos valores de R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira). A Orquestra Sinfônica de Sergipe é uma realização do Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap).
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