Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
No livro de Provérbios, em seu capítulo 6, versículos 16 ao 19, abomina, de forma contundente, a “língua mentirosa” e, de modo particular, o falso testemunho daqueles que proferem mentiras e, não satisfeitos, íncitam, em razão disso, a discórdia entre as pessoas. Para o filósofo Sócrates (Grécia Antiga): “Pessoas sábias falam sobre ideias; pessoas comuns falam sobre coisas; pessoas medíocres falam sobre pessoas”.
Seja como for e por quem for produzida, a fofoca (hoje também conhecida como fake news) produz efeitos nocivos. E por essa razão deve ser, a meu ver, combatida, rechaçada e evitada. Diria mais, há que se criar no seio das famílias e na escola, uma cultura da verdade. Já diziam os antigos: a mentira é a mãe do cão. E não há que se fiar na “tese” de fofoca inocente ou fofoca maldosa. Em síntese, uma ou outra pode destruir ou deturpar a vida de uma pessoa.
Ary Barroso (1903-1964), na canção “Caveira”, traz à baila essa discussão, valendo-se da parábola: “Caveira, quem te matou? No que ela responde: a língua”. Veja o que diz o poeta e compositor mineiro a respeito numa das estrofes: “Eu bem que te dizia / Que deixasse a vida alheia! / Que a justiça divina vê tudo e não se encandeia / Quem faz mal ao seu vizinho / Seu mal já vem no caminho”.
E nesse sentido, lembro muito de alguém, na minha infância, dizer para outra pessoa: “Menina, fulana é tão fofoqueira, que se morde a língua morre envenenada”. E por falar em veneno, mais uma vez valendo das Escrituras Sagradas do Cristianismo, lembremos do que fizeram Adão e Eva quando Deus descobriu que ambos haviam comido do fruto proibido para tentar justificar seus erros e desobediências: foi a mulher, disse o homem; foi a serpente, disse a mulher. E nesse jogo de empurra-empurra de responsabilidades, a mentira: o combustível da fofoca.
Bezerra da Silva (1927-2005) afirma, categoricamente, que o fofoqueiro é a imagem do cão, em canção de mesmo título de 1987. Chama a atenção que, o cantor e compositor pernambucano, famoso no Rio de Janeiro, relativa à ideia de que fofoca é coisa de mulher, quando diz: “Fofoca pra mulher é feio / Pra barbado é pior, podes crer / Assim como ele fala de você pra mim/ Também mete o malho de mim pra você”. E rememorando Bezerra, como não lembrar da imagem do caguete ou caboeta, no modo de dizer mais popular, sobretudo aqui no interior do Nordeste. Aquele que dedura, em algum momento, para salvar a própria pele, também se vale da fofoca.
Ismael Carlos (1947-2009), considerado cantor “brega”, ficou famoso nos anos 80 com a canção “Fofoqueira”, faixa um do compacto de 1981/1982 (Copacabana Gravadora). A canção virou uma espécie de ode da fofoca, até hoje executada em rádios e como canção para jingles e memes. Embora ele reduza a coisa de falar dos outros à mulher, vaticina o destino dos fofoqueiros mais nocivos, daqueles que vivem arrumando confusão, cuja língua não cabe na boca: “Se você não tomar jeito / Qualquer dia ainda acaba / Indo parar no caixão”.
E sobre quem dissemina a fofoca, o que dizer, para que este experimente do seu próprio veneno, e que se incomode com isto? Antes de mais nada, aconselho que cuide da própria vida. Já dizia a sabedoria que quem aponta um dedo para outra pessoa, não se dá conta que os quatro restantes da mão estão lhe direcionando de forma denunciante e advertidamente. Afora isso, procure ajuda psicológica e no divã, recupere seu tempo perdido falando dos outros, fazendo uma revisão de si mesmo. Tenho a certeza de que o fofoqueiro(a) não é uma pessoa feliz, resolvida. Sofre de dor de cotovelo e corre o risco de ser acometido de “espinhela caída” em razão dos pesos de seu pecado e de sua língua felina.
A fofoca é erva daninha à sociedade. Por isso, precisamos limpar o terreno de nossa alma e deixar que germinem e nasçam flores das mais diversas. Que possamos controlar, conter e domar a nossa língua e abrir o coração, sem destilar veneno mortal, às voltas do mal hábito/doença de cuidar da vida alheia.
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