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Daniel Alves e o moralismo patriota

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Gabriel Barros (*)

É sabido por todos que o jogador aposentado, porém ainda em atividade, Daniel Alves, está preso na Espanha acusado do crime de estupro. Para além das questões jurídicas, discutirei as nuances morais e psicológicas que envolvem a prisão do sujeito. Talvez nem todos saibam, mas o acusado é um patriota de carteirinha, um típico sujeito de cunho político reacionário que adora pagar de cidadão de bem e pai de família.

O que é chocante, no entanto nada surpreendente, é o fato de ter causado muito mais indignação dos “especialistas de futebol” da internet a sua incorreta convocação para a copa do Qatar do que a acusação gravíssima do crime ora imputado. Isso acontece por conta da coisificação que configura a sociabilidade capitalista que vê na mulher um mero objeto de reprodução para garantir a propriedade privada, que é majoritariamente branca e masculina.

Nesse espeque, os machões das redes sociais logo tratam de buscar algum meio que desabone a mulher, e não o autor do crime. E diga-se que até aqui todos os elementos indicam para o cometimento do crime, sobretudo a partir de filmagens, testemunhas e as contradições em declarações do jogador. Essa busca em culpabilizar a vítima de crimes sexuais tem origem na nossa forma societal de exploração. Para isso, basta observar que não existe esse mesmo sentimento de culpar a vítima quando se trata de crimes patrimoniais ou de outras espécies que não sejam de natureza sexual. Ou alguém aponta como culpado o dono de um celular por ter sido roubado?

A categoria psicanalítica de denegação descrita por Freud nos ajuda a entender a mente do patriota. Essa quadra teórica consiste em trazer o recalcado ao conhecimento, isto é, permitindo que o sujeito formule negativamente o conteúdo de um desejo inconsciente.

Portanto, ao afirmar o tempo todo que é um cidadão de bem, homem de família, cristão, apaixonado pela pátria, entre outras coisas, escondem a real intenção daquilo que de fato perseguem. E a denegação surge exatamente no momento em que sempre falam “não sou racista, mas…não sou homofóbico, mas…não tenho preconceito com isso ou com aquilo, mas…” E nessa toada despejam tudo aquilo que realmente faz parte da sua essência, pois habita o seu inconsciente de tal maneira que precisam afirmar constantemente aquilo que não são para que o que de fato são não seja revelado.

Embora seja muito difícil de esconder, porque mais cedo ou mais tarde isso aparece explicitamente. Vejamos a intentona golpista do famigerado 08 de janeiro e tantas pessoas com esse mesmo discurso sendo acusados de corrupção, terrorismo, estupro, pedofilia etc.

No primeiro turno das eleições o “crack” fez um vídeo pedindo voto para o ex-presidente, embora não o citando nominalmente, invocava os lemas fascistas de Deus, pátria e família. O que deixava bem claro para quem ele se referia ao “refletir” sobre o processo eleitoral. Por essas e outras razões que é um negacionismo afirmar que política e futebol não se misturam. Antes o contrário, diria que até se confundem. Além de nos mostrar peremptoriamente a personalidade desses sujeitos que posam de pessoas bem-intencionadas e usam a popularidade que o futebol lhes concedeu para manipular os afetos na política. O patriota é uma piada, mas uma piada mortal.

 

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(*) Advogado e graduado em Direito Público.

 

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