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Natanael Fernandes de Souza (*)

O homem é por natureza o veículo do bem. Ele  somente age erradamente quando desconhece a verdade; portanto, o que nos dá sentido na vida é a investigação incessante da verdade.

A verdade, por sua vez, é tão-somente alcançada pela busca do conhecimento e da sabedoria.

Platão, no seu livro A República, inicia, em um dos seus capítulos, um diálogo entre os personagens Sócrates e Glauco, estabelecendo a Alegoria da Caverna, uma pedagógica parábola que serve para qualquer instituição, seja ela familiar ou de poder.

A importância da Alegoria da Caverna ainda não é percebida pela maioria das pessoas de forma mais aprofundada, e desta relevante obra filosófica procuraremos extrair os conceitos de discussão, debate e diálogo.

A maioria das obras de Platão, nascido Arístocales, foi escrita em forma de diálogo, ou seja, a fala interativa entre duas ou mais pessoas sobre diversos temas filosóficos, e tem sempre como personagem central Sócrates, seu mestre.

Sócrates defendia uma vida justa e como vivê-la; e Platão, no seu denso livro A República, defende essas ideias, numa cidade justa e perfeita. No capítulo VII de A República, Platão apresenta-nos a Alegoria da Caverna que é a percepção dos nossos mundos, expressa em um diálogo entre Sócrates e Glauco (primo de Platão).

O interessante é que o diálogo travado entre os dois tem no Glauco um interlocutor passivo, o que é extremamente necessário para que a ideia da realidade, da verdade, seja exposta, assim como a compreensão da nossa pequenez e fragilidade. Enquanto estamos no fundo da caverna, dialogamos com nós mesmos e testamos a nossa capacidade de cognição e de saber.

Templo da Loja Maçônica Clodomir Silva

Dentro de nossa instituição maçônica, os melhores exemplos de diálogos estão inseridos nos rituais, que estão repletos de lendas e alegorias. Aproveitando que estamos a mencionar Platão, lembremos que o filósofo alcançou a democracia grega. A liberdade promovida pelos gregos permitia que todos os cidadãos emitissem suas ideias e opiniões numa praça chamada Ágora, local onde o povo se reunia para debater os temas de interesse público, com a presença de um mediador sorteado entre os participantes da assembleia. Ele ordenava os temas e tinha o direito de conceder e cassar a palavra de qualquer um. Tinha mandato limitado. Nascia assim o debate, com fim precípuo de governar a Grécia.

Hoje ampliamos aquele conceito para várias esferas, com o significado de expor, ouvir, esclarecer opiniões ou ideias divergentes. Os cidadãos que discursavam e se destacavam nos debates eram aqueles que detinham o poder da oratória e da retórica, do convencimento; eram os formadores de opinião, do senso comum (aqueles que passeavam com as figuras por trás do muro na caverna!), aqueles que tentavam mais se aproximar da realidade.

Note-se que nos debates havia os “donos da verdade”, a massa crítica (os demais membros das reuniões, a massa de manobra, os acorrentados da caverna); e o mais importante, o respeito, personificado nos mediadores dos debates, sorteados entre os participantes da assembleia e por um número limitado de assembleias.

Aqui, temos exemplos de debates: na Ordem do Dia, no Tempo de Estudos, na Palavra a Bem da Ordem e do Quadro em Particular, e nas nossas assembleias o nosso mediador é o Venerável Mestre.

Sem sombra de dúvida, os meios de comunicação são hoje os verdadeiros formadores de opinião, expondo livremente suas verdades projetando as suas imagens no fundo da caverna de nossa sociedade; dentre tais meios, destaques para as redes sociais e a televisão que nos impingem uma falsa realidade das coisas sensíveis.

Na alegoria, aquelas pessoas que tagarelam por trás do muro exemplificam muito bem o que é a discussão, pois não têm nenhum compromisso com a verdade, simplesmente conversam sobre os seus mundos, suas realidades.

Podemos, também, considerar como uma discussão aquele momento em que o acorrentado vê a luz e não acreditando naquela visão, aterrorizado, retorna ao fundo da caverna e tenta descrever o que vivenciou; seus antigos pares não o reconhecem e não o identificam com nenhuma das imagens anteriores, portanto, a tentativa de transmitir um novo conhecimento é frustrante e não alcança nenhum resultado prático e, por óbvio, não altera a realidade existente no exterior da caverna.

Na busca do conhecimento e da sabedoria, filosoficamente, o Homem usa como instrumentos os sentidos e a razão; e como objeto de análise, o mundo sensível e o mundo inteligível. A comunicação, torna-se, então, imperativa e interativa quer seja na discussão, no diálogo ou no debate.

 

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(*) Natanael Fernandes de Souza é engenheiro aposentado.

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