Na letra de “Um homem também chora”, diz o poeta Gonzaguinha que:
“Um homem se humilha… Se castram seu sonho… Seu sonho é sua vida… E vida é trabalho… E sem o seu trabalho… O homem não tem honra… E sem a sua honra… Se morre, se mata…”
E, dando crua concretude a essa constatação, a economia brasileira vem, desde fins de 2014, promovendo um aumento sistemático do nível de desalento entre os trabalhadores desocupados.
Entende-se por desalentada a pessoa que gostaria de trabalhar e que para tanto estaria disponível, porém não procurou trabalho por achar que não o encontraria.
Os motivos que justificariam essa atitude seriam o não encontrar trabalho na sua localidade, o de não arranjar uma colocação adequada, o de não arrumar emprego por ser considerado muito jovem ou idoso ou pelo fato de não ter experiência profissional ou qualificação.
Registre-se que, quando do início da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD), no primeiro trimestre de 2012, a proporção de trabalhadores desalentados era de 1,9% da força de trabalho ampliada (soma do número de ocupados, de desocupados e a força de trabalho potencial).
Assim continuou até meados de 2013, quando apontou uma tendência de queda que se seguiu até o trimestre de julho/agosto/setembro de 2014.
A partir daí, entre idas e vindas, a taxa de desalento passou a crescer a uma taxa média de 0,1% ao mês, chegando, no trimestre de setembro/outubro/novembro, à inédita marca de 5,2%.
Frisando que, desde o início de 2018, o desalento vinha tangenciando um piso de 4,0% da força de trabalho ampliada, mas, com a chegada da Covid-19, ele recrudesceu e ultrapassou a casa dos 5,0%.
Traduzindo em números, isso implica que, há pelo menos três anos, um contingente de quase 5 milhões de pessoas não vê sentido em procurar um emprego e, com a pandemia, esse total pode ter passado dos 6 milhões de pessoas.
Noutra analogia, isso seria o mesmo que a soma das populações de Brasília (DF) e Salvador (BA) desistissem de ofertar sua força de trabalho, porque sabiam que não seriam contratados.
(*) Emerson Sousa é Mestre em Economia e Doutor em Administração
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe