Quem for à Feira de Santana, a mais importante cidade do interior baiano, não pode deixar de visitar o maior acervo fonográfico do cantor Nelson Gonçalves, conhecido como o Rei do Rádio, no Centro de Cultura Maestro Miro, rua Itacarambi, no bairro Muchila. O acervo, com centenas de LPs, fitas cassetes, filmagens, reportagens sobre o cantor veiculadas em diversos jornais do país, foi montado pelo aposentado Diógenes de Carvalho Nunes ao longo de 60 anos e foi considerado pelo próprio Nelson, “como o fã número um da minha carreira; esse título nem meu pai tem”, conta orgulhoso.
Diógenes conta que foi apresentado a Nelson Gonçalves, em 1950, por um sargento quando servia ao Exército, em Salvador. A partir daí, ele e Nelson começaram a amizade que seguiu até a morte do cantor, aos 78 anos, no dia 18 de abril de 1998, no Rio de Janeiro.
Em uma das viagens de Nelson Gonçalves a Feira de Santana, Diógenes lhe falou da intenção de criar um museu em sua homenagem. “Mas aí, ele reagiu e me disse que ‘não era tão velho assim’”. E assim nasceu o acervo, que foi inaugurado no dia 31 de agosto de 2018, pelo prefeito Colbert Martins, numa sala do Centro de Cultura Maestro Miro e pode ser visitado no horário comercial.
Todas as manhãs, de segunda à sexta-feira, Diógenes vai para o memorial, recebe visitantes e conta um pouco da sua história de amizade com o Rei do Rádio, autor de “A volta do Boêmio”, uma das canções mais conhecidas. E, claro, pode ouvir qualquer música de Nelson Gonçalves durante a visita.
Uma das inúmeras histórias que Diógenes conta é que, numa visita à Feira, Nelson estava com 39 graus de febre, queria comprar remédio, “mas lhe dei mel e agrião e ele ficou bom”. Em outra, numa entrevista, Nelson disse ao jornalista que Diógenes “sabe mais da minha vida do que eu”.
Todo o acervo de Nelson Gonçalves foi tombado pela Prefeitura de Aracaju e agora pertence ao município. Diógenes garante que tem toda discografia do cantor, mas não se incomoda caso algum fã queria fazer doação de algum disco, CD, vídeo, reportagens. Aliás, dentre as várias reportagens guardadas no acervo, Diógenes destaca uma da Folha de São Paulo, publicada no dia 16 de junho de 2019. Nascido há 85 anos, Diógenes já fez um pedido: “Quando morrer quero ser velado aqui no Maestro Miro, ao lado desse acervo”, diz.
Gaúcho de Livramento, o nome verdadeiro do cantor era Antônio Gonçalves Sobral. Por sua voz, ele imortalizou “A Volta do Boêmio”, canção de Adelino Moreira. Além disso, gravou 114 LPs, superando Elvis Presley, com 63 LPs gravados. sendo que o primeiro foi em 1941, iniciando uma carreira que teve auge nas décadas de 40 e 50.
Detalhe, no acervo há todos esses LPs. Portanto, se quiser ouvir uma das músicas do Rei do Rádio é só ir ao Centro de Cultura Maestro Miro, conversar com Diógenes e começar o sarau.
O Centro de Cultura Maestro Miro é administrado pela Fundação Cultural Egberto Costa e conta, também, com o Teatro Ângela Oliveira (com capacidade para 320 pessoas sentadas), o Foyer Jota Morbeck, a Galeria de Arte Aliomar Simas. É palco de várias atividades artísticas, como exposições de pinturas e fotografias e apresentação de espetáculos teatrais. Também é sede do Projeto Arte de Viver, que realiza uma série de oficinas artísticas, como dança, música, teatro e artes plásticas, gratuitas e voltadas principalmente para crianças e adolescentes de famílias carentes.
Seu nome é uma homenagem ao músico Claudemiro Daltro Barreto, o maestro Miro, regente da Filarmônica 25 de Março, quando do centenário da instituição em 1968. Ele nasceu em Boquim (SE), no dia 2 de agosto de 1918 e morreu em Feira de Santana, no dia 23 de setembro de 2022.
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