A direção do Aeroclube de Sergipe vai ingressar com uma ação na Justiça para impedir que o governo do Estado leiloe (leia o edital aqui) o terreno de 182 mil metros quadrados, localizado na avenida Maranhão, sem que, anteriormente, indenize a entidade. A informação foi dada hoje, 22, pelo presidente do Aeroclube, Everton Alves Ribeiro, que lamentou a decisão do governo: “acabar com o aeroclube é o mesmo que fechar uma rodovia”, comparou. “Do dia 1º de agosto até hoje, 32 aeronaves de pequeno porte pousaram e decolaram neste local”, completou.
Everton disse que a Justiça já deu o direito a uma indenização ao aeroclube. “Estamos lutando para que não nos tirem daqui e só paguem a indenização quando quiserem, pois a entidade está aqui há quase 80 anos. Nós não estamos de forma ilegal. Houve investimentos, custos das taxas aeroportuárias, construção de hangares, despesas com funcionários, além de pagarmos as contas de água e energia”, explicou.
O presidente do aeroclube afirmou que encomendou um estudo a uma empresa de engenharia que fará um levantamento do terreno informando, inclusive, qual o valor venal. Uma sugestão de Everton é que o Governo do Estado doe um terreno ao aeroclube e leiloe a área como deseja.
“Seria mais salutar fazer uma troca. O governo nos doaria uma área, faria o asfaltamento da pista, arcaria com os custos da homologação para fazermos pousos e decolagens a fim de transferirmos as aeronaves (num total de 13), montaria um hangar com um escritório. O que não vale é, depois de tantos anos aqui, recebermos um chute e sairmos com uma mão na frente e outra atrás”, comentou Everton.
Ao anunciar o leilão do terreno, o Governo do Estado informou que as três áreas (duas de 52 mil metros quadrados e uma com mais de 50 mil) estão avaliadas em R$ 9 milhões, cada lote. Com este estudo em mãos, a direção do aeroclube saberá de quanto será o valor da indenização que o Governo pagará, com valor atualizado no dia do pagamento.
Se o aeroclube for fechado, segundo Everton, a cidade terá um prejuízo muito grande porque, diariamente, empresários se utilizam daquela pista para chegar e sair de Aracaju. Sem citar nomes, Everton afirmou que conhece empresários que estão, semanalmente, em Aracaju, para negócios. Questionado se estas pessoas não poderiam utilizar o Aeroporto Santa Maria, Everton disse que este “é muito pequeno” e não comporta a demanda. As aeronaves não poderiam pernoitar no Santa Maria e os empresários teriam que sair de Aracaju com horário marcado.
Ele explica que aeroclube é um nome de fantasia. “O que temos mesmo é uma pista homologada que serve como alternativa. O aeroporto de Aracaju não suporta mais a demanda. Embora tenha nove estacionamentos para aeronaves, só comporta cinco de vez, a depender do tamanho. E outra: as aeronaves pequenas não podem pernoitar no Santa Maria, por falta de espaço e vêm para cá. Se acabar o aeroclube, essas aeronaves vão para onde?”, questiona.
História
“O Governo do Estado está jogando a história da aviação de Sergipe no lixo”, reagiu Everton ao lembrar que no dia 23 de outubro a entidade fará 80 anos (fundada em 1939). “Começou como aeroclube, depois aeroporto e em 1958 com a inauguração do Santa Maria, voltou a ser aeroclube. Nestes quase 80 anos, mais de 500 pilotos foram formados aqui e hoje temos cerca de 100 em atuação” disse Everton que é um deles.
Em 1974, através da lei estadual 1.874, ficou autorizada a doação do terreno da avenida Maranhão para o aeroclube, no governo Paulo Barreto de Menezes, mas essa doação nunca saiu do papel.
De novo?
Essa não é a primeira vez que o Governo de Sergipe diz que vai vender o terreno do aeroclube para tentar tapar o rombo da Previdência Estadual. No dia 12 de novembro de 2015, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou o fechamento do aeroclube, atendendo a um pedido do governo que solicitou o terreno. Na época, a direção do Aeroclube de Sergipe recorreu da decisão na Justiça Federal e ganhou.
Naquela época, todas as atividades do aeroclube foram transferidas, a exemplo do Grupamento Tático Aéreo (GTA) da Polícia Militar para o aeroporto onde está até hoje. O presidente do SergipePrevidência naquela ocasião, Augusto Fábio de Oliveira, disse que o terreno seria vendido para auxiliar no caixa da previdência social do Estado. Hoje, o atual presidente, José Roberto Lima, tem o mesmo discurso.
E apesar do GTA ter saído do aeroclube desde 2015, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) deixou no estacionamento algumas viaturas que estão se acabando pela ação do tempo, transformando-se em sucata. “Não colocaram mais porque falamos com os motoristas que não dava mais para colocar esses carros aqui”, disse Everton.