“O livro é uma viagem sem sair de casa”. A frase bem que poderia ser de um leitor voraz, mas não é. Quem tem essa definição é Edmilson Batista dos Santos, 49 anos, que há mais de 10 anos saiu de Aracaju sem rumo certo, devido a problemas familiares e viveu, oito anos e três meses em Lima, no Peru, depois de passar por Argentina, Paraguai, Chile. Durante todo esse tempo, passou por diversos problemas, o mais sério deles, o alcoolismo, que o levou ao fundo do poço. Enquanto isso, a família em Aracaju, sem saber do seu paradeiro, o procurava. Mas eis que um dia, a mãe dele, Edirani Menezes Santos, recebe um telefonema e o filho fala com ela.
Mas o que tem a ver a frase de Edmilson com sua vida de maltrapilho pelo mundo? É que ao retornar para casa, em agosto do ano passado, mais maduro e sem a mania de grandeza que permeou esse período, Edmilson decidiu abrir um sebo, na rua Dona Abigail Ferreira Araújo Ramos, no bairro Luzia, onde mora com a mãe, e chamou o local de “@Cantinho Sempre Viva”. Na verdade, o passeio da casa passou por uma transformação, com a chegada das estantes e dos livros, que são vendidos a preços que variam de R$ 4 a R$ 40. Nas negociações com os clientes, ele aceita troca e, claro, doações de livros.
Para não dizer que Edmilson não é um leitor, ele cita um livro – e pede para que não seja citado o título – que o tirou do alcoolismo, que quase o matou em terras andinas. Em Lima, ele dormiu na rua, comeu quando lhe chegava o alimento, e ingerir bebidas alcóolicas era tão comum quanto respirar. “Nunca roubei ninguém”, garantiu o ex-dependente químico.
Quando vivia maltrapilho, além de ter, literalmente, esquecido da família, em virtude dos problemas que passou, Edmilson também tinha mania de grandeza. “Eu dizia que era rico, que tinha posses, que pessoas da minha família tinham carro bacana”, contou. Mas a realidade era bem outra. Edmilson saiu de casa porque não suportou ver o avô ser violento com a avó, e nesse tempo que passou fora, dormiu, inclusive, em cemitérios. “Fui neto de um alcoólatra”, lembra.
A viagem, até então sem volta, de Edmilson foi de bicicleta. Ele conseguiu convencer algumas empresas que o patrocinaram nesse projeto de viajar de bike, mas não entrou em detalhes de como isso ocorreu. O fato é que ele tinha, sempre, na bagagem, um litro de bebida alcoólica, que segundo ele era o seu “conforto”, e cigarros. Muitos cigarros.
Em 20 de janeiro do ano passado – portanto completa um ano hoje – Edmilson retornou ao Brasil e ficou entre as cidades de Tabatinga e Letícia (cidade colombiana que faz fronteira com o Brasil). Detalhe: ele não tinha nenhum documento: sem carteira de identidade, CPF, ou seja, como cidadão ele sequer existia.
Em agosto de 2020 chegou a Aracaju com a ideia de montar o sebo – incentivado pelo livro que leu – e hoje esse é o seu trabalho. Ele “abre” o sebo às cinco da manhã e só “fecha” à noite, numa rotina de domingo a domingo. Esse abre e fecha significa o movimento dele colocar as estantes na rua, por os livros nela e retirá-los à noite.
Um dia de cada vez. Esse tem sido o passo a passo da vida de Edmilson, ao se referir à bebida, pois está há cinco anos e dois meses “limpo”. Esse é o mesmo período em que não fuma. Quando não está no sebo, ajuda a mãe que vende plantas.
Trabalhando intensamente, recebendo doações de livros, Edmilson quer recuperar o tempo e ficar perto da mãe e das irmãs e, um dia não muito distante, reencontrar o casal de filhos que fez nessa jornada. “Primeiro quero encontrar a mim mesmo e depois, preparado, a família perdida”, disse. Como ensinou Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”, em Delfos, na Grécia, diante do pórtico de entrada do templo do deus Apolo, que Edmilson descubra-se nessa nova etapa em Aracaju. E que a vida lhe seja plena.
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