Dia desses eu encontrei o gênio IsmaEl Pereira, grande representante mandalístico das artes plásticas universais, e ele comentava sobre uma certa crônica que eu havia escrito no ano passado. O universo, como quem conspira quando quer algo, colocou-me encliticamente diante de algumas outras pessoas que abordaram nas conversas o mesmo texto levantado por IsmaEl. Indagaram-me por qual razão eu não havia publicado ainda aqui no Só Sergipe. Claro, refleti…
Evidentemente, como bom obediente das forças da vontade do universo, publico aqui o que foi escrito em face de um fato, acontecido ano passado, no contexto da realização da %*#$* Copa do Mundo (saudade: nenhuma!), que poderia passar insignificante. Mas não passou. Para vocês, Dona Não-Sei-Quem!
A vida é um livro cheio de lições…boas ou más…porém lições. Sempre temos algo a aprender. Cabe a cada um de nós saber, cirurgicamente, aproveitar os ensinamentos gratuitos que nos cercam a toda hora. Esse ‘saber aproveitar’ diz respeito à capacidade que temos de discernir o que queremos ou não aprender.
Uma dessas lições se insurgiu para mim no dia 08 de julho (logo no dia da emancipação política do meu querido Sergipe, essa terra que amo incondicionalmente!). Era o fatídico dia da semifinal da Copa do Mundo no Brasil entre a nossa ‘seleção’ e a Alemanha, aquele massacre indelével, que não sairá das nossas retinas nem se quisesse.
A chuva… a idade… o peso da caixa… enfim, o contexto mexeu comigo. Sinceramente, fiquei impactado (parecia os jogadores do Brasil no intervalo de pouco mais de seis minutos quando levaram 4 gols). Minha cabeça parecia um liquidificador que bateu informações como uma vitamina e alimentou meu coração. Foi um misto de sensações. Não sei dizer se, naquele instante, senti compaixão, pena, ódio (por ver uma situação daquelas), um verdadeiro paradoxo digno de catarse diante de uma tragédia grega.
Movido por esse impacto, passei a frente do IFS, fiz a volta e parei o carro. Esperei que ela se aproximasse. Chamei-a:
– Minha senhora, boa tarde!
– ô, meu fio, respondeu-me a mulher, vindo na direção do carro, com seu rosto enrugado, olhos de quem já morreu faz tempo, palavras balbuciadas que saíam com dificuldade bilabialmente.
– A senhora tá indo pra onde?
– Pra minha casa.
– Onde fica?
– Perto do campo do Sergipe.
– Bora, eu levo a senhora. Tá chovendo e a senhora tá com esse peso na cabeça. Entre.
A distinta senhora, cujo nome não tive nem a decência de perguntar, simplesmente me disse não. Afirmou que iria caminhando. Agradeceu e, antes de seguir estrada, me pediu uma ajuda “pra comprar a balança”. Como um autômato, sem pensar no que fazia, abri a carteira e lhe dei uma nota de dez reais.
– Ajuda?
– Ajuda.
E balbuciou outras palavras, pra mim, ininteligíveis. E seguiu caminho, curvada, olhar perdido, com a ajuda no bolso. Uma balança pra pesar o quê? Sonhos perdidos?
Naquele instante em que me despedia simbolicamente daquela senhora, questionei a mim mesmo o porquê dela não ter aceitado a minha carona amiga. Meu próprio consciente me respondeu afirmando veementemente que não devemos confiar em estranhos (estamos vivenciando dias de dor, traições e muito sofrimento, verdadeiros descasos com o ser humano). Estava respondida a minha angústia. Ela estava certa. Distância de estranhos. Distância.
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