Com muita justiça, na última quarta-feira, 24, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o cantor e instrumentista Armando da Costa Macêdo recebeu o título de doutor honoris causa, um reconhecimento pelo conjunto da obra, mas também dos baianos e do campo intelectual, a um dos grandes nomes da música popular brasileira. Entre as autoridades presentes, destaque para o reitor da UFBA, Prof. Dr. Paulo César Miguez; o vice-reitor, Prof. Dr. Penilso Silva Filho; e o diretor da Escola de Música da UFBA, professor e maestro José Maurício Brandão.
Armando da Costa Macêdo nasceu em Salvador-BA, no dia 22 de maio de 1953. Portanto, 70 anos de vida, uma considerável parte dela dedicada à música. Filho de Osmar Macêdo, um dos inventores do pau elétrico (guitarra baiana) e do trio elétrico, foi um garoto precoce, em termos artísticos. Diretamente influenciado pelo pai e por Jacó do Bandolim, começou a tocar instrumentos de corda ainda muito cedo, sendo um dos grandes destaques no programa “A grande chance”, em 1969, apresentado por Flávio Cavalcanti, na TV Tupi.
Dali em diante, sua carreira decolou, seja ela no formato solo, seja ela com dois grupos: o Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar (com os irmãos Betinho, Aroldo e André) – até hoje em atividade, prestes a completar 50 anos; e A Cor do Som. Ao longo de sua carreira fez grandes parcerias, com quem compôs grandes sucessos, a exemplo de Moraes Moreira, falecido no dia 13 de abril de 2020.
Para além da música trieletrizada, Armandinho se transformou num dos maiores nomes do gênero musical choro de todos os tempos, o que lhe permitiu também ter uma ascensão e reconhecimento internacional. Sua carreira solo é composta por onze discos, incluindo o primeiro, um compacto duplo, em 1969.
Dono de um carisma todo particular, Armandinho mantém uma postura simples, sem as firulas típicas de grandes estrelas da música. É atencioso com seus fãs e também para com as bandas das quais ele faz parte. Sua presença de palco é indescritível e junto à guitarra baiana, instrumento que ajudou a imortalizar e difundir, forma um todo inseparável, que o define não somente enquanto pessoa, mas também artista.
Nesse sentido, me valho das palavras de sua biógrafa, no livro “A Voz de Armandinho”: “Pensei na quantidade infinita de palavras que poderiam me ajudar a contar a história que traduziria alguém que, naturalmente, respira música e faz dela sua essência, sua alma. Quando ele toca, hipnotiza, seduz, cala. Ouve-se apenas o som que ele tira do seu instrumento… sua própria voz” (2012).
Sou suspeito para falar e dizer algo além do que está posto aqui. Eu o conheci pessoalmente em 2010, numa apresentação em Lagarto-SE, juntamente com seus irmãos. Sou fã do Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar desde 1982 e, nos últimos anos, tenho me dedicado a estudar e a escrever sobre o grupo. Entre as passagens que vivi com eles, uma, em especial, eu tive com Armandinho, no escritório e estúdio da banda, em Salvador, no Bairro Canela. Eu estava pesquisando no acervo, junto a um computador, quando ele entrou, aproximou-se de mim e colocou os óculos sob a ponta do nariz e me disse: “muito obrigado pelo que você está fazendo por nossa memória”. Aquilo me marcou bastante. Sem exagero, confesso que foi a mesma sensação de ouvir John Lennon, alguém tão grande, perto de mim, notando, por alguns segundos, que eu existo.
Em um trecho de seu discurso, o agora doutor Armandinho Macêdo deu um recado às novas gerações e ressaltou todo seu apreço e gratidão pela arte: “O meu desejo é que toda essa celebração seja uma lanterna a iluminar mentes e corações, para evidenciar o poder da arte na elevação da vida humana”.
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(*) Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.