“Mas sendo um bom brasileiro
O seu café vai ser doce
Como se fosse um carinho”
(Samba do café, de Baden e Vinicius)
Foi em 2002. O jornalista Elio Gaspari, hoje colunista do Globo e da Folha de S. Paulo, perguntou ao então senador José Sarney, durante uma entrevista: “No final do seu governo o café vinha frio?”. O ex-presidente da República (1985-1990), que sempre primou pelo respeito à liturgia do cargo, respondeu de bate-pronto: “Nunca. Isso é folclore”.
Em dezembro de 2018, a menos de um mês para deixar o cargo, ao ser homenageado pela Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil, foi a vez do então presidente Michel Temer lamentar: “Quando o governo começa a acabar, ninguém mais te procura. A história do café frio é uma verdade absoluta”, afirmou.
Folclore ou não, o fato é que a história do cafezinho frio no fim de mandato entrou no vocabulário político. Costuma-se dizer que um governo está chegando ao fim quando o garçom que atende ao gabinete do governante já não atenta para a temperatura do líquido ao servir o cafezinho. É sinal de que o rei perdeu definitivamente a majestade – contrariando um antigo provérbio, que diz que essa perda nunca acontece.
Pouco atento aos ritos da política, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um médico que no exercício do cargo trocou o diploma pelo negacionismo científico ao defender, na contramão do mundo, o uso do medicamento hidroxicloroquina como eficaz para o tratamento da covid-19, esteve em Aracaju na quinta-feira passada, dia 3. Participou da abertura do 8º Congresso Norte/Nordeste de Secretarias Municipais de Saúde, quando foi alvo de vaias da plateia, devidamente retrucadas, e esteve na Câmara Municipal, onde recebeu o título de cidadão aracajuano.
O título foi proposto pelo vereador Pastor Diego, do PP, que se cercou de cautela para evitar uma eventual rejeição: omitiu, no texto original do projeto de resolução o sobrenome “Queiroga” do homenageado, informando apenas que a cidadania seria concedida ao “senhor Marcelo Antônio Cartaxo Lopes”, sem qualquer indicativo de que se tratava do ministro da Saúde.
Ao receber o título, em sessão solene da Câmara, o novo cidadão de Aracaju se disse “honrado e muito feliz”. Agradeceu, salientou que via na honraria uma homenagem ao próprio Ministério da Saúde e trocou sorrisos e abraços com as autoridades presentes. Uma festa singela na sua formalidade. Ninguém notou que o cafezinho estava frio.
O vexame veio no dia seguinte: o diploma de cidadão de Aracaju entregue ao ministro não vale nada. É fake, para usar uma palavra da moda.
A vereadora Linda Brasil, do Psol, garante que o projeto de resolução que concede a honraria ao ministro não passou pela etapa obrigatória de votação na Câmara Municipal. Ou seja, não vale nada. Sequer tramitou pela Comissão de Justiça e Redação – etapa obrigatória no processo legislativo e que precede o encaminhamento para votação pelo plenário – conforme atesta o vereador Anderson de Tuca, do PDT, que é presidente da comissão.
Ou seja, o cafezinho servido ao ministro pela Câmara de Vereadores de Aracaju, nesse fim de mandato, não só estava frio: sequer era café de verdade. Vexame para uns. Divertimento para os demais.
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(*) O jornalista José Carlos Teixeira, articulista do site Olá Bahia, gentilmente, autorizou a publicação deste artigo no Portal Só Sergipe. Teixeira é graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.
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