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É melhor ir às ruas ou esperar o golpe sentado?

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Gabriel Barros (*)

O assunto 07 de setembro e seus eventuais desdobramentos estão sendo bastante comentados no cenário político atual. Afinal, haverá ou não golpe?

É certo que o atual plantonista da república, o decrépito presidente Jair Bolsonaro, desde muito antes de ser eleito como tal, sempre expressou seu olhar afetuoso por um golpe militar. E nos moldes clássicos, com tanques e soldados armados tomando o poder e instaurando assim uma nova ordem, a qual, supostamente, gozaria de apoio popular, o que é frequentemente dito pelos golpistas. Com sua popularidade em queda, a convocação para o famigerado 07 de setembro me parece não uma tentativa de demonstração de força por parte do plantonista, mas apenas uma forma de mobilizar suas bases mais radicais que estarão sempre consigo, como uma maneira de fazer com que as chamas do fascismo estejam sempre acesas, ainda que quase apagando. São carinhosamente chamados de “gado”, fazendo alusão a um rebanho que segue seu comandante independente do que ele quer que você faça.

Nesse sentido, por mais que haja essa mobilização, os fatos corroboram que o presidente tende a instigar tão somente seu eleitorado fiel. Público esse, ainda que importante eleitoralmente, vem ficando cada vez mais restrito. Portanto, nada de novo tende a acontecer a não ser os tradicionais gritos pedindo fechamento do Congresso e do Supremo, intervenção militar, AI-5, entre outras medidas inconstitucionais e criminosas. Além, é claro, de demonstrar todo o seu patriotismo ao comemorar o PIB negativo, o aumento da energia, gasolina, gás, alimentos, racionamento da água e luz e as incontáveis rachadinhas.

Com isso, não quero dizer que devemos fingir que nada irá acontecer e ignorar as manifestações bolsonaristas pelo país. É por isso que quero chamar atenção para um determinado setor da esquerda liberal e setores da grande mídia que apelam para que não haja mobilização popular em demonstração de força contra o bolsonarismo. Pedem para que as manifestações de esquerda sejam feitas a posterirori, isto é, em outra data que não o 07 de setembro, fazendo com que esse dia seja exclusivo dos fascitóides.

Ora, seria totalmente contraditório fazer com que o único movimento ativo da data comemorativa da independência brasileira fosse dos reacionários. Somente assim esses confirmariam alguma força, eis que estariam “protestando” sem que houvesse alguém do outro lado para confirmar que as ruas não são uma exclusividade dos reacionários.

É certo que há risco de confrontos. Contudo, as mobilizações convocadas pela oposição estão articulando-se para ficar em locais distantes das manifestações do bolsonarismo. Fora que o risco de confronto é sempre um fator a ser levado em consideração em qualquer protesto popular, haja vista que a truculência Estatal é algo que surge muito antes do atual fenômeno, pois que inerente à sociedade de mercado – diga-se, capitalista -, uma polícia violenta que acabe com qualquer levante de massas, culminando naquilo que Engels chamava de terrorismo burguês.

Diria que o risco real de eventual golpe se dá justamente com a ausência dessas mobilizações de oposição. E isso se dá sobretudo olhando para as vésperas de eleições. Pois que sem um enfrentamento direto que garanta resistência frente à ofensiva dos fascistas, estes ganharão mais confiança, por exemplo, para fazer algo pior do que aconteceu com a invasão ao Capitólio nos Estados Unidos. Acho que ninguém duvida que milicianos armados têm mais potencial belicoso do que aqueles fantoches trumpistas, que mesmo sendo fantoches não eram inofensivos, haja vista que restou algumas mortes no execrável acontecimento.

O professor Mauro Iasi escreveu em recente texto intitulado “Um Golpe em Marcha” que, de fato, “há um golpe em marcha. Ele pode fracassar, pode não passar de um blefe ou pode ser uma vitória de Pirro, na qual o golpista não consegue montar no tigre que pretendia cavalgar. ” O que me parece factível, é que se não houver resistência popular, (não meramente institucional, que já falhou por demais) que confronte direta e sem medo as forças reacionárias, este golpe, que já está em marcha ao menos desde quando o Presidente assumiu o poder, pode passar de mero blefe para uma tragédia, ainda que já amplamente anunciada. E até concretizada com a pandemia e as centenas de mortes fruto de uma política genocida do governo. Mas, ainda assim, é como reza aquela velha frase: “nada é tão ruim que não possa piorar”. Ademais, a crise em que nos encontramos, tal qual no inferno de Dante, padece de vários estágios, sempre podendo piorar, frise-se. Por isso, tomemos as ruas! Motivos não faltam.

*Gabriel Barros é bacharel em Direito pela Faculdade de Aracaju (Facar) e pós-graduando em Direito Público.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.

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