Por Rocelito Paulo Pinto (*)
Ao Mestre, com carinho,
NATANAEL FERNANDES DE SOUZA
(Souza com S, se não seria zouza!)
“Oh! Oh! Oh! Seu Moço! Do disco voador
Me leve com você pra onde você for…
Oh! Oh! Oh! Seu Moço! Mas não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem tanta estrela por aí…”[1]
Olhando-me no espelho, apreciando os indicadores que a estatística apresenta, presumo que já não sou mais tão jovem. Observando os preceitos adotados como científicos, sou pressionado a concluir que tenho mais passado do que futuro, mais histórias do que sonhos, mais experiências do que expectativas, mais cabelos brancos do que pretos, mais lentidão do que pressa.
Por outro lado, meu passado, minhas histórias, minhas experiências, meus cabelos brancos e os meus passos lentos me revelam que, por não ser mais jovem, não é justo nem perfeito que permaneça na tolice de crenças bastardas, afetas às ideologias baratas e sem sentido. Sim, são sem sentido porque criadas por tolos que se imaginam jovens, promovem apologia à eternidade de coisas efêmeras, em detrimento dos significados essenciais que, mesmo sendo simples, nos tornariam humanos, demasiadamente humanos, velhos ou não.
Por exemplo, fato inegável é que um dia a gente vem ao mundo. E viemos livres!
Alguns são concebidos na liberdade dos faustos planos de saúde, que permitem ar-condicionado, ressuscitadores de última geração, equipes de filmagem e enfermeiras de comercial de creme dental. Outros são configurados no banco das praças, na liberdade ao relento, na misericórdia de estranhos e na caridade de uma tesoura velha para cortar o cordão umbilical.
Mas todos nascem iguais, com cara de joelho, cabeça ensebada e o mais importante: todos nascem na liberdade de estarem despidos, exibindo a pureza de sua identidade biológica natural, macho ou fêmea, como Deus os criou.
Não se observa compromisso com a moda ao nascer, então todos nascemos livres, embora com fome (ou seria sede?) de fluido material e espiritual, ávidos pelo leite materno que liberta o intestino e pelo pão que fomenta a alma de liberdade! Pão e conhecimento, apenas isso já seria o suficiente como seres humanos.
Todavia, tão logo nascidos, nos vestem com marcas empresariais, nos algemam a um sobrenome, nos atribuem um nome esquisito que reivindica um apelido carinhoso. Eu, por exemplo, ganhei um nome e há sessenta anos eu o cito e, ao fazê-lo, invariavelmente me perguntam pela origem do meu nome, como se eu fosse o culpado pelo nome que tenho, e me concedo a liberdade de narrar uma história que, pela repetitividade, já deve ser verdadeira.
O que estraga a história que conto sobre o meu nome é o meu sobrenome. Não sei por quê, mas, invariavelmente, todos tomam a liberdade de rir do meu sobrenome, e para isso, nem precisa de história.
O bom de tudo isso é que a vida inteira contei a história do meu nome! Essa, sim, minha primeira grande ficção científica, essência primária da minha humana criatividade, obra-prima da minha liberdade de expressão, e se alguém acredita nela, não sei, não é problema meu, mas continuo contando assim mesmo.
Um dia fui uma criança normal, tive amigos imaginários, fui herói do meu mundo, prendi meus bandidos, tangi a minha fazenda e fui apaixonado pela minha primeira professora. Até hoje eu sou! Nem sei se ela era casada, devia ser posto que ela era linda, dotada de um olhar expressivo e dona de um corpo maravilhoso! Mas eu podia me apaixonar sem limites porque era uma criança e tinha inteira liberdade para isso, e todos achavam tudo isso muito lindo, inclusive a minha paixão imaginária.
Eu era uma criança livre para amar, só não era livre para ver televisão, pois tinha que dormir cedo porque Vida Alves e Walter Foster inovaram com o primeiro beijo na boca dado em uma novela brasileira. Naquela época, beijo na boca era algo catastrófico e escandaloso para a formação do imaginário da infância e adolescência, verdadeiro atentado ao pudor.
Crianças, como eu, não eram livres para assistir ao beijo em preto e branco, mas velhos como eu, hoje, são obrigados a assistir beijos e outros contorcionismos circenses que a consciência liberal colorida e moderna chama de sexo livre. Significado de pudor? Juro que não sei.
Também já fui um adolescente e o meu primeiro beijo de verdade foi roubado (que delícia de beijo!), num tempo em que não havia uma liberdade tão oportuna para se beijar uma menina com cara de sonhos e cheia de espinhas. Assim como também o primeiro sutiã que, gostosa e nervosamente, me foi consentido despir e, realmente, a liberdade de expressão daquele comercial da Demillus tinha toda razão: o primeiro sutiã a gente nunca esquece, muito menos a primeira garota, o primeiro beijo, a primeira aventura, a primeira… Ah!
Sinto muita piedade desses adolescentes de hoje. Eles têm a liberdade de se exibirem sem sutiã, porém jamais terão histórias para contar, porque nunca terão a oportunidade de saber o que é despir um sutiã com inocência e temor. Serão velhos que perderam, sem nunca terem conhecido, a poesia, a liberdade, a emoção e a oportunidade de saber o que é desabotoar um sutiã e torcer para que a missa nunca acabe.
Também fui jovem, época em que meus cabelos eram pretos e era uma delícia cantar as músicas que o governo proibia. Primeiro a gente cantava, depois a gente corria! Uma vez, não consegui correr, então pulei um muro. Acreditem, muros já foram baixinhos e sem cerca elétrica. Pois, pulei o muro e subi num abacateiro e lá do alto me diverti vendo a “joaninha” passando para lá e para cá. Joaninha, meus caros, era um fusca[2] convertido em viatura policial.
Hoje é impossível explicar para os jovens que cantar algumas canções já foi proibido, assim como também é impossível compreender por que algumas músicas que os jovens hoje cantam são liberadas!
Depois me tornei um adulto e o elegante era vestir uma jaqueta de couro, andar de moto sem capacete, encher o tanque com a gasolina azul barata, fazer poses para fumar e passar gel nos cabelos pretos! Bons tempos aqueles! Como era bom ser livre naquela jaqueta de couro, o vento na cara por estradas estreitas, sem hora para voltar, desde que fosse antes das dez. Após as dez, o portão era trancado pelos pais, e a única opção era dormir na rua, sem medo de ser assaltado.
Desculpem-me, mas não dá para desenhar! Hoje, jaqueta de couro não é mais de couro, e sessenta por cento do seu valor é imposto que não dá para encarar. Pilotar moto sem capacete é proibido por agentes do governo que nunca pilotaram motos. O preço da gasolina comum, misturada com álcool, está mais caro que a moto, cigarro faz mal à saúde e gel não pega bem em cabelo branco. O jeito é caminhar a passos lentos pelo passado e lá se foi a liberdade!
Por falar em liberdade, devíamos concebê-la como “condição daquele que é livre. Capacidade de agir por si mesmo. Autodeterminação. Independência. Autonomia.”,[3] mas acabei casando e na minha época de casar, casamento significava capacidade de agir por si e pela mulher amada, possuir independência suficiente para voltar para casa, diariamente, sem justificativas a dar, depois de uma reunião de trabalho com os amigos no bar, ou com os irmãos de pelada nos jogos de fim de semana, e ter autonomia para morar na sua própria casa e se tornar visita na casa dos avós dos nossos filhos.
Hoje, meu passado, minhas histórias, minhas experiências, meus cabelos brancos e os meus passos lentos me revelam que, por não ser mais jovem, não detenho mais a condição daquele que é livre. Não há mais graça em ficar sentado na calçada, conversando com os vizinhos, vendo as nossas crianças fazendo o que fazíamos na infância, porque sem segurança, é um risco ao resto de nossas vidas.
Não tenho mais a liberdade da capacidade de agir nem por mim mesmo, porque inventaram o celular com controle remoto. Tem sempre alguém precisando de que se faça qualquer coisa para outrem em algum lugar, não se sabe onde, para exercer alguma tarefa importante para quem não sabe e não o quer fazer. E se você não atender à ligação, irá ouvir palestras sobre a desgraça do mundo graças à sua liberdade de não querer atender um telefone.
Hoje não tenho mais a liberdade da autodeterminação, nem posso mais pular muros. Câmeras estão por toda parte e basta um toque, meu celular revela aonde fui, com quem falei, o que comprei. E se ele se enganar e registrar que por acaso roubei um beijo, ou desatolei um sutiã, nossa, o mundo se acaba!
Independência? Esquece! Minha linda médica gastroenterologista já me fez a lista do que não posso comer ou beber. Não posso assinar um contrato que não tenha sido autorizado pelo meu honorário advogado. Não posso adquirir um veículo que não tenha sido inspecionado pelo meu mecânico, graduado em gambiarra. Não posso desfrutar do meu salário sem que o meu contador contabilize previamente os impostos a serem recolhidos.
E ainda há as medidas protetivas, que limitam o horário do samba na Lapa de madrugada, impedem de caminhar no calçadão de Copacabana sem ser revistado (pela polícia e depois pelos larápios) e desaconselham pedalar em certas ciclovias de Aracaju. Nossa, quanta saudade de ser livre!
Agora, com o advento dos cabelos brancos, autonomia é um conceito de sociedade na qual tenho desejos e o governo impostos a receber! Se compro um carro, quarenta e oito vírgula seis por cento do valor do veículo é do governo. Se abasteço o tanque de combustível, o valor de trinta e nove por cento é do meu sócio, o governo. Se viajo, cinco por cento do valor do carro que penso ser meu é imposto do governo e, antes de usar o carro, que tive a liberdade de comprar, devo obter o licenciamento ou a autorização oficial que me concede a liberdade para poder utilizar o carro que já não sei mais se é meu.
Ao pôr o veículo na estrada, devo ter dinheiro vivo e trocado, para não tomar o tempo da menina do guichê e fazer fila no pedágio, tumultuando a liberdade do ir e vir alheio. Ouvi dizer que os jovens de hoje são tecnológicos, usam tag[4] e passam direto nas cancelas, então resolvi me fazer de jovem e, além do governo, também dou carona no meu cartão de crédito à empresa que destrava a cancela, porque agora sou livre e “tagado”.
A vantagem de se ter cabelos brancos e passos lentos, é a liberdade para ler pergaminhos. Li um de 1789 que dizia que “A livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão deve, portanto poder falar, escrever, imprimir, livremente, devendo contudo responder ao abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei”[5].
Então consulto a lei e me deparo com uma que me diz que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;”[6] e quando ensaio algumas palavras, me vem um tal de “politicamente correto” que, por acaso, não é lei, e me avisa que posso ser acusado de “fake news”, que também, por acaso, ainda não é crime especificado em lei, e tudo se modifica outra vez.
O que era antes já não é mais! O que é, deixou de ser! A liberdade de se descrever as coisas ganha um colorido, uma licença poética, revelando aos jovens uma realidade palatável, de cores lúdicas e harmoniosas. Assim como a inteligência, a realidade se torna artificial e trágica, porque sob uma condição indescritível para os não jovens como eu, na liberdade de uma realidade que meus olhos embotados e estúpidos não enxergam, não há como encontrar lógica entre aquilo que se ouve e aquilo que se vê!
Face a essa ausência de lógica, interpelei um jovem amigo meu que, muito admirado, aplaudia o relato de uma autoridade política que queria ser politicamente correta, quando, na sua liberdade de autoridade, demonstrando extremo zelo e cuidado com o que proferia, se referiu ao resto do mundo na “generalidade não discricionária que culmina em ação inominável e abjeta praticada por um sujeito oculto sob a titulação do formidável cidadão afro-descendente de baixa estatura”.
Indignado, e livre, expliquei-lhe que o excesso de preciosismo no relato da aludida autoridade era, no meu entender, desperdício de tempo e de vocábulos, além de ser um insulto à inteligência. A prolixa e eloquente autoridade gastou, com muita liberdade, vinte e cinco palavras e cento e setenta e seis caracteres para dizer, de forma lúdica e poética, que “neguinho fez merda”. E apesar do português política, e corretamente empregado, não minimizou a hipocrisia, a ausência de respeito ao próximo e o preconceito racial degradante.
Houve um tempo, antes de envelhecer, que me concedi a liberdade de ouvir do velho Vinicius de Morais que “O destino dos homens é a liberdade.”[7] Hoje, eu me pergunto se ainda fazemos parte da humanidade como homens que possuem destino, ou se foi a liberdade que mudou de sentido. E fico surpreso quando os jovens Paulo Sérgio Valle e Chico Roque se indagam “O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade, se estou na solidão pensando em você”[8], enquanto rememoro um certo sutiã que já não existe mais, pelo menos não com a mesma liberdade!
Confesso que às vezes me perco na apreciação da liberdade como vulto de expressão humana, porque sinto que a humanidade só a conhece quando a percebe ausente e, ao longo dos anos, a liberdade de expressão tem emprestado razão ao velho Sophocleto[9] quando este observa que “as melhores coisas sobre a liberdade têm sido escritas no cárcere.”
“O Livro das Maravilhas” (1508) foi ditado para um amigo de cela por Marco Polo; “Dom Quixote” (1605) foi escrito por Miguel de Cervantes durante o cumprimento de pena; “Justine – Os Infortúnios da Virtude” (1787) foi elaborado por Donatien Alphonse François de Sade (Marquês de Sade) durante sua estada na Bastilha, a prisão que simboliza a transição do pensamento humano do Medieval para o Iluminismo; “De Profundis” (1905) foi concebido por Oscar Wilde enquanto cumpria pena por comportamento inadequado; “Memórias do Cárcere” (1936) retrata a biografia presidiária de Graciliano Ramos; “Long Walk to Freedom” (Longa Caminhada até a Liberdade – 1994) flui na reflexão da formação política e da luta contra a segregação racial enfrentada por um homem que passou vinte e seis anos de sua vida na cadeia por discordar de um sistema em vigência: Nelson Mandela.
Se algum velho, como eu, ainda não os leu, está desperdiçando a liberdade de ser jovem e de conhecer o que é liberdade!
Não obstante, parece que a sina do povo brasileiro é sempre perseguir a liberdade, como um Alferes Tiradentes obcecado por “Libertas quae sera tamem”[10], sob o diapasão de um enigma pautado por velhos patriotas, presente em versos icônicos que fazem a alma vibrar: “Brava gente brasileira. Longe vá, temor servil. Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil!”[11]; “Seja o nosso País triunfante, Livre terra de livres irmãos! Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade, Dá que ouçamos tua voz!”[12]
Os jovens, se sábios, compreenderiam que não são apenas trechos de canções patrióticas, mas um clamor à própria essência de suas vidas e, por esta razão, os jovens sábios diriam “A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.”[13], enquanto os mais aguerridos se acautelariam por perceberem que “A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras.”[14].
Ainda assim, não há o que temer! “Nada do que eu conheço paga o preço de viver sem liberdade.”[15], todavia, “Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo.”[16], e neste sentido reside a essência Epicurista de que, para ser beneficiário da liberdade, há que se tornar escravo da filosofia.
Infelizmente, tudo isso só faz sentido ao cultivar cabelos brancos, quando os pensamentos se tornam mais rápidos do que as pernas, e se percebe ter gasto a juventude desejando o poder (entre eles, o de arrancar incontáveis sutiãs!!!). É próprio do jovem, “Não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja (…) Tenho pressa de viver!”[17]. Como diria Francis Bacon, “É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade…”[18]
Infelizmente, também, é horrível possuir mais passado do que futuro, mais histórias do que sonhos, mais experiências do que expectativas, mais cabelos brancos do que pretos, mais lentidão do que pressa, e ter que suportar uma prepotente autointitulada autoridade disposta a dirigir e orientar o que se deve ouvir, ler ou mesmo pensar. É como se, ao invés de velhos, fôssemos eternas crianças, e como nada é tão ruim que não possa ser piorado, ainda inventa termos novos para expressar mazelas antigas.
Fake news, por exemplo, é só um termo novo para uma antiga atividade, a velha fofoca. Adão e Eva, por exemplo, teriam comido maçã motivados por fake news. Certo, e daí? Perderam o paraíso? Não! Apenas descobriram que despir sutiã é mais emocionante e gera sensações mais extasiantes do que andar nu.
Assim como Adão e Eva, o que mais move a curiosidade dos jovens de hoje e de ontem é aquilo que eles ainda não conhecem, exatamente aquilo que mais os fascina, porque o proibido é sempre mais instigante.
Todavia, proibir, cancelar, censurar, coibir são males que afetam a liberdade e inibem a cultura, produzem efeito contrário à expectativa, porque ao invés de fomentar uma juventude sábia, forjam velhos tolos e escravos de ideologias obtusas, levando a humanidade a caminhar “com passos de formiga e sem vontade!”[19] até que desperta no sonho de se tornar livre.
Ademais, em todos os momentos em que na história se impôs silenciamento de vozes, entorpecimento de consciências, padronização de interpretações, acorrentamento de pensamentos, enforcamento da liberdade, a humanidade encontrou caminhos que a tornaram desumana. A crucificação do Cristo, adoção do Santo Ofício da Inquisição, escravização de pessoas, invenção da guilhotina, criação da bomba atômica, Holocausto, Gulags, atos institucionais, são tristes memórias de uma humanidade sem liberdade.
Como bem observou minha jovem filha, ainda de cabelos pretos e um longo futuro, o fim é tão ruim, que chega a ser orrível com ó, porque sem liberdade para acreditar, falar, pensar, ir e vir, não vale o sacrifício de viver e acumular mais passado do que futuro, mais histórias do que sonhos, mais experiências do que expectativas, mais cabelos brancos do que pretos.
“E o que é liberdade, você pergunta? Significa não ser escravo de nenhuma circunstância, de qualquer constrangimento, de qualquer chance.”[20]
O bom seria se todos nos tornássemos velhos, mas com um passado livre e um futuro cheio de esperanças, com histórias de liberdades e conquistas, a inspirar ideais para uma sociedade com esperanças de aprender a voar como pássaros por não ter que caminhar como ovelhas. Se não houver liberdade, não há razão para se colecionar cabelos brancos. Sem liberdade, não há ideal que dê suporte a experiências que ensejam expectativas.
É lógico e racional não ignorar que na vida tudo tem limites, e não seria diferente em relação à liberdade. Uma sociedade, que se propõe civilizada, constrói (e não impõe!) limites à liberdade, propiciando uma educação (que não seja fantasiada nem fantasiosa!) que instrui e liberta o cidadão e a autoridade, conduzindo-os no discernimento autônomo e autoconsciente no qual a liberdade de um termina onde começa a do outro.
A Sagrada Escritura nos adverte: “Ensina a criança no caminho que deve andar e ainda quando for velho, não se desviará dele.”[21] Não foi por acaso que o Marechal Manuel Luis Ozório, Marquês de Herval, em plena guerra da Tríplice Aliança, atestou: “É fácil a missão de comandar homens livres: basta mostrar-lhes o caminho do dever!”[22]
É por esta razão que um leão só se torna um rei se estiver livre na selva e um tubarão só inspira respeito se estiver livre no oceano. Todavia, só o ser humano se apraz com cercas e muros quando poderia contemplar o universo. O homem é o único animal que cria regras para serem desobedecidas, limites para serem rompidos, pecados para julgar seus próprios semelhantes, conceitos para produzir litígios e justificar guerras, preceitos para condenar outros seres humanos.
Parafraseando o Padre Antonio Vieira, que dizia que “o todo sem a parte não é o todo, e a parte sem o todo não é parte”, o ser humano sem liberdade não é um ser humano, assim como a liberdade sem o ser humano não é liberdade.
Parece loucura, mas o bom é ser jovem e livre. Mas o melhor é ser velho e saber que já foi jovem e exerceu a liberdade até para despir sutiãs (consensualmente consentido, é claro!)!
[1] S.O.S. Raul Santos Seixas. Album Gitá. 1974.
[2] primeiro modelo de automóvel fabricado pela companhia alemã Volkswagen, sendo produzido entre 1938 e 2003. Wikipedia. Wolkswagem Fusca.
[3] JAPIASSU: Hilton; MARCONDES: Danilo. DICIONÁRIO BÁSICO DE FILOSOFIA. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. – 4ª Edição. 2006.
[4] TAG – termo inglês que significa marcação.
[5] Declaração dos direitos do homem, 1789
[6] Inciso IV do Artigo 5º da Constituição
[7] Vinicius de Moraes Para uma menina com uma flor. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
[8] ESSA TAL LIBERDADE. VALLE: Paulo Sérgio. ROQUE: Chico. Albúm SÓ PARA CONTRARIAR. Sony BMG, 1994.
[9] Sofocleto. Luis Felipe Angell de Lama. Peruano. Escritor. Wikipedia.
[10] Texto em Latim retirado da primeira Écloga de Virgílio. Proposto pelos Inconfidentes para marcar a Bandeira da república que idealizaram. WIKIPEDIA. Liberdade ainda que tardia.
[11] Hino da Independência. Composição: Dom Pedro I. Evaristo Da Veiga. 1822.
[12] Hino da Proclamação da República. José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque. Leopoldo Miguez. 1890.
[13] BARBOSA: Rui., Obras completas de Rui Barbosa.
[14] ANDRADE: Carlos Drummond de. O Avesso das Coisas . Rio de Janeiro. Record. 1990.
[15] TUDO CERTO. André Gomes. Gabriel Contino (Gabriel o Pensador). ONErpm. 2012.
[16] Albert Camus.
[17] BELCHIOR. Coração Selvagem. Disco Coração Selvagem. Warner Bross Records. 1977.
[18] BACON, F., Essays, 1625
[19] Assim Caminha a Humanidade. Luis Mauricio Pragana dos Santos (Lulu Santos) – Album Assim Caminha a Humanidade. BMG. 1994.
[20] Sêneca Cartas de um estoico: volume I. São Paulo: Montecristo, 2017.
[21] Provérbios (22:6)
[22] Trecho da Ordem do Dia, no Passo da Pátria, de 15 de abril de 1866.