O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos (Dieese) em Sergipe, Luiz Moura, afirmou hoje, 25, “que enquanto não se definir qual o papel do Estado brasileiro na Petrobrás, ficaremos nesse dilema, mesmo com o subsídio e a mudança de nome na presidência da estatal”. O presidente Jair Bolsonaro anunciou a troca no comando da estatal, saindo o economista liberal Roberto Castello Branco, entrando o general da reserva do Exército, Joaquim Silva e Luna.
De acordo com Moura, hoje o preço do combustível é ditado pelo mercado internacional, mas o consumidor não recebe em dólar “e o combustível está dolarizado”, acrescentou. Para o economista, é preciso resolver o seguinte: “se for privatizar as refinarias, a Petrobras vai perder o controle de preço, porque ela é única que refina. Agora tem uma concorrente que é a Relam a Landulfo Alves, na Bahia, que foi privatizada”.
Se houver privatização, no entendimento do economista, quem adquirir vai querer por um preço muito baixo e avaliará a situação do governo interferir. Hoje a Petrobras vive uma dicotomia entre ser uma empresa estatal e ter uma parte privada. “É claro que a parte privada vai querer maximizar o lucro e a parte estatal tem que olhar, também, a situação dos consumidores no Brasil. Bolsonaro viu que sua popularidade estava em queda e o preço dos combustíveis era um dos itens que pesava nisso, então, decidiu intervir na Petrobras” explicou.
Para ele, essa interferência pode gerar problema com a estatal, porque ela tem ações negociadas em Bolsa, tanto no Brasil como em Nova Iorque, “e os acionistas minoritários poderão ingressar na Justiça pedindo a recuperação de perdas por conta dessa ação de Bolsonaro”. Então, tem as ações desvalorizadas por conta de uma atitude do presidente da república, que representa o Estado brasileiro que é o acionista majoritário. De fato, na segunda-feira, a Petrobras perdeu bilhões em valor de mercado, encolhendo R$ 74,2 bilhões apenas em um único pregão.
Luiz Moura lembra que o preço do combustível, atualmente, é ditado pelo mercado internacional. Será bom para os acionistas, segundo ele, porque o lucro vai sair agora da Petrobras, por conta dessa política, será enorme. “Isso beneficia quem comprou ações da Petrobras, mas ao mesmo tempo o consumidor brasileiro não recebe em dólar e hoje combustível está dolarizado, quer seja a gasolina ou o gás de cozinha”
Para ele, a situação do gás de cozinha é mais grave porque pega a camada mais pobre da população. “Ao conceder o subsídio, Bolsonaro vai impactar muito pouco sobre o gás de cozinha, que é de 3%. Mas, ao querer beneficiar caminhoneiros também vai beneficiar os donos da Hilux. Um caminhoneiro não pode pagar o diesel, mas o dono da Hilux pode. Porém, ao fazer o subsídio para todo mundo, indiscriminadamente, ele cria situação de privilégio para quem tem carro a diesel para transporte pessoal. E para os caminhoneiros o benefício será pouco. O problema deles é o valor do frete. Como a economia está em recessão, o preço do frete é muito baixo. Para sobreviver, o caminhoneiro tem que rodar mais e ganhar menos mesmo assim”, explicou.
Ao anunciar a troca de comando da Petrobras, Bolsonaro, de certa forma, imita a presidente cassada Dilma Roussef, que na sua gestão impediu reajustes nos preços dos combustíveis, de olho no controle da inflação, e causou perdas bilionárias à Petrobras. “É o que diz o deputado federal DEM-SP), um dos líderes dos protestos pelo impeachment da petista em 2016.
Na sua conta no Twitter, Kim fez a seguinte crítica: “A troca do presidente da Petrobras indica somente uma coisa: vão controlar o preço dos combustíveis na canetada. Vimos esse filme recentemente com a Dilma. O final a gente lembra: quebradeira na estatal”.
Até mesmo ex-integrantes do governo fizeram a crítica: “Nunca o governo Bolsonaro foi tão parecido com o governo Dilma como hoje”, postou também Paulo Uebel, ex-Secretário Especial de Desburocratização do governo Bolsonaro.
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Com informações da BBC Brasil
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