Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
Há dias sem falar com uma querida amiga, liguei para saber como estava. Como todos nós, estava administrado seu inferno particular. Contou que esteve enferma, contraiu COVID, em uma época em que ela disse que nem mais lembrava da moléstia que assolou a todos, levando embora muitos. Resiliente, continua aqui.
Falou da vida, da separação de um filho, e se deteve em falar de uma entrevista do ator Tony Ramos, que recentemente teve um grave problema de saúde, levando-o a ficar em coma em um hospital no Rio, onde mora e trabalha.
Minha amiga se referia a uma entrevista que Tony Ramos dera a um programa de TV, na emissora onde tem exclusividade, após alta hospitalar, falando da falta de elegância nos dias atuais. Não a havia assistido, mas busquei no YouTube, e vi que maravilha de entrevista. Quanta sabedoria, quanta elegância no uso das palavras.
“Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se distinguir. Portanto, saber a hora de aparecer ou deixar alguém aparecer é o que pode haver de mais chique. Civilizado é não invadir e não abusar.”
Cito Glória Kalil, estilista e mestra em etiquetas. Sem querer, Glória está descrevendo o próprio Tony Ramos. Aos 75 anos, com longa carreira na teledramaturgia brasileira, Ramos é exceção. Discreto, casado com Lidiane Barbosa há 54 anos, sempre preservou sua vida, mantendo-a longe dos holofotes. Em tempos de redes sociais, em que qualquer sub-celebridade expõe sua vida sexual, falando o que fazem entre quatro paredes, Tony Ramos é a elegância em pessoa. Esses dias vi em um podcast jovens atrizes – e uma no adiantado da idade – falando dos brinquedinhos sexuais que lhe dão prazer, citando em detalhes, onde os introduzem. O mais hilário foi a mais velha, querendo experimentar logo. Se o programa demorasse mais um pouco, acredito eu, que ela faria ali mesmo. Acabou o tempo do suspense, da surpresa, estamos no tempo do instantâneo, do explícito total.
“Enquanto a deselegância estiver nas roupas, nos sapatos e no cabelo, fica fácil de se contornar; mas quando a deselegância for no caráter, aí não tem conserto.”
Cito Glória Kalil novamente. Acho que não existe nada mais deselegante do que nossa classe política. Não são apenas feios, mal vestidos, mas deselegantes no trato com a coisa pública. E, não me refiro somente ao governo de plantão, mas ao anterior também. São broncos, toscos. Nada mais sem elegância do que quem nunca teve acesso a dinheiro, e de repente, se cobre de grifes. Não é só cafona, é horroroso. Chique mesmo é honrar a palavra dada, ser grato a quem o ajuda, correto com quem se relaciona e honesto nos seus negócios.
Em tempos de selvageria, de canibalismo, sem respeito pelo outro, uma sociedade que perdeu a civilidade, que desconhece as mínimas regras de convivência, onde todos querem levar vantagem em tudo, tende a ser esse Brasil brutal, com uma violência crescente. Seria salutar que fossem resgatadas alguma normas civilizatórias e, se não fosse pedir muito, algumas regras de etiquetas.
Parabéns a um dos homens mais elegantes deste país, Francisco Buarque de Holanda, grande Chico, que hoje completa 80 anos. Com sua elegância e sabedoria conhece como ninguém a alma feminina.
Saudações.
Meu caro, seu texto, notadamente, quanto aos argumentos que orbitam como partículas essenciais um dos fatores centrais do fenômeno Civilização, vale dizer, a elegância, iluminou minha manhã. Bons textos implicam num risco: a apologia ao mesmo pode não alcançar a mesma qualidade, tornando o autor do elogio indigno diante do autor e do escrito elogiados. Espero não pecar tanto.
Elegância tem a ver com harmonia, e esta como referência/essência secular, desempenha papel dos mais importantes no que tange à manutenção da Cultura, o que inclui, evidentemente, a convivência. Não estou a negar os conflitos, as discordâncias. Fazem parte da história de todos nós. Porém, creio, mesmo espíritos em desacordo podem exercitar o respeito mútuo — a elegância.
Quanto a (sem) classe política, esta sempre foi a condição psicopatológica da sociedade. A projeção das monstruosidades inerentes às almas imperfeitas que somos.
Sei o que digo. Por força do trabalho, fico perto demais de vereadores, deputados e congêneres… São sim, deselegantes em todos os aspectos. Quando próximo às estas existências medonhas, sou tomado do mais profundo asco. Por isso nutro esperança de, o mais breve possível, distanciar-me definitivamente. Pois, sim, é possível faturar menos, mas, ainda assim, manter a elegância, amar e ser feliz.
Fraternal abraço 🍷🍷