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Elocubrações de um (eterno) curioso

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Por Luiz Thadeu Nunes (*)

 

Sou curioso, admito. Nasci curioso; no outono da vida continuo curioso. Pensei que com o adiantado da idade a curiosidade arrefecesse. Ledo engano, só aumentou. Não sei você, amigo leitor, querida leitora, mas minha mente irrequieta continua atrás de respostas que não tenho, talvez nunca terei.

Ontem, final da tarde, com o sol já recolhido, dando lugar ao luar, após mais um dia de labuta, voltando para casa, vi uma revoada de pássaros — em algazarra — passarem por cima, riscando os céus. Cruzava a ponte que liga a ilha ao continente em minha São Luís do Maranhão. Logo pensei: de onde virão esses pássaros, para onde vão? Como estava na ponte, lembrei dos peixes, no oceano, embaixo, e pensei: peixe dorme? Ou passa o tempo todo nadando até serem pescados ou morrerem?

Esses dias, com as notícias das guerras inundando as telas das TVs e do meu smartphone, meus pensamentos se voltam para aquele povo que vive em conflito. Como será a vida dos que estão permanentemente em peleja? O que pensam? Como será seu dia? Não é uma vida que gostaria para mim. Acho que têm pouco tempo para dormir. E… para fazer sexo? Acredito que também não têm. Aprendi desde cedo que sexo alivia a tensão; e eles com a arma (bélica) nas mãos não pensam em outra coisa, a não ser guerrear. Talvez por fazerem pouco ou nenhum sexo vivam guerreando.

Como será o dia dos senhores das guerras? Como serão as 24 horas de Wladimir Putin, presidente russo; o dia de Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia; de Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel; do aiatolá Ali Khamenei, presidente do Iran; de Mahmoud Abbas, presidente do Estado da Palestina; ou de Najib Azmi Mitaki, primeiro ministro do Líbano? Como comem, como defecam? Quantas horas dormem? Fazem sexo calmamente ou têm ejaculação precoce? Ou, simplesmente, nem se lembram disso.

Apenas uma observação, todos os citados são homens, mulheres não fazem guerra; não querem perder seus filhos para a brutalidade e ignomínia alheias.

Em minhas andanças pelo mundo, visitei todos os países que estão em conflitos. Uma coisa chamou minha atenção por onde andei. Vi homens com terços nas mãos: em pé, sentados, ajoelhados. As mesmas mãos que rezam, são as que jogam bombas.

Lembrei de Osama Bin Laden, morto pelos soldados norte-americanos americanos em 02 de maio de 2011, nos arredores de Abbottabad, a 120 km de Ismalabade, capital do Paquistão. Os últimos dias do homem mais procurado do mundo, segundo li, saciando minha curiosidade, foram terríveis. Vivendo recluso, em um bunker, com suas seis esposas e dezoito filhos, sem poder sair de casa, foi um inferno sem tamanho. Osama Bin Laden, milionário, filho do maior construtor saudita, não era melhor ter uma vida tranquila que viver brigado? Mas, como dizia minha saudosa mãe, Maria da Conceição: “Cabeça que não pensa, corpo padece”.

Na minha ignorância permanente, não consigo entender como os homens resolveram se matar, se não vão sair vivos dessa vida mesmo. Logo mais, por algum motivo, findará nosso estágio aqui na terra. Todos viraremos pó. “Do pó viemos, ao pó voltaremos”, isso é bíblico.

Duck, o pacífico

Confesso que além de curioso, sou medroso. Se dependesse de mim, guerras não existiriam. Não perderia meu precioso e escasso tempo em querer aniquilar alguém ou me defender para não ser aniquilado, vivendo em permanente tensão, deixando de usufruir das boas coisas da vida, já tão passageiras. Enquanto escrevo, Duck dorme refastelado no tapete da sala, alheio aos pacóvios que se acham serem humanos e superiores. Duck que só dá amor e carinho, não está nem aí para nossas questiúnculas, e segue no seu pacífico sono. Quando acordar, vem lamber minha mão, beber um pouco de água, e comer algo. Se vier novamente ao mundo, e puder escolher, quero ser cachorro, de preferência da raça buldogue inglês.

Ainda temos muito a aprender com os cães.

 

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Luiz Thadeu Nunes

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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