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Em época de covid-19 o individual ajuda o coletivo

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“ Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de compreender-se entre si e aos seus ancestrais, ou de fazer planos para o futuro e prever as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir, os homens não precisariam do discurso ou da ação para se fazerem entender”. (Arendt,p.188)

 

Valtênio Paes (*)

Para quem pauta pela prática da beneficência, generosidade, solidariedade, desapego, fraternidade centrados no interesse coletivo, literal e excepcionalmente, pode defender o exercício do individualismo radical na proteção contra a covid-19.  Fará o bem para todos e resultará em benefício coletivo.

Aliás, individualidade versus coletividade é uma constância na vida humana. Somos um, porém composto de 10 trilhões de células.  Afinal o corpo humano é uno, mas composto de vários órgãos. Se um falhar o conjunto em unidade poderá ir à morte.

A pessoa coletivista prioriza a comunidade, coloca suas qualidades individuais a serviço de um projeto coletivo que escolheu. Tem voz ativa e é escutado no coletivo. A Individualista prioriza seu ego, não gosta de grupo, busca o desejo e o prazer solitários. A presença da covid-19 faz a exceção desta diferenciação na medida em que ser rigorosa no isolamento fará o bem ao coletivo humano.

Da vida em cavernas,  aldeias, da Antiguidade ao mundo medieval, a sobrevivência dependia do coletivo. O indivíduo não era relevante, compunha sempre o coletivo. A sofisticação do individualismo veio com iluminismo, tecnologia, e direitos humanos. O “eu” está presente nos discursos e argumentos públicos ou particulares. O “nós” pouco se fala ou se pratica, até mesmo quem se coloca como progressista.

Desde a Segunda Guerra Mundial (1945), o capitalismo liderado pelos EUA exacerbou o consumismo. O “produto combina com você”… “te deixa feliz”… “mais bonito em”… “ mais inteligente você usando”… serão substituídos porque “atende suas necessidades”. No marketing, as empresas buscavam falar diretamente para cada consumidor, hoje deveriam falar para a comunidade.

Alguns individualistas se aproximam do fanatismo quando, ao invés de contra argumentarem na defesa de suas ideias, acusam interlocutores ou desvirtuam o objeto do diálogo. Seria bom que esse tipo de individualista defendesse e praticasse o isolamento. Toda pessoa tem inteligência, a diferença está na capacidade de usá-la. O individualista inveterado direciona a sua para seu interesse imediato, opondo-se ao interesse coletivo. Neste momento da covid-19, o mínimo que se espera, é que permita a exceção, para o bem de todas as pessoas. Ainda não há remédio, o único meio de estancar o vírus é o isolamento.

Quando o individualista obriga o ego fazer profundas concessões, ele mantém as exigências pessoais, no entanto, cumpre as regras de isolamento contra a covid-19 fortalecendo o coletivismo no ambiente e na comunidade onde está inserido. Não descarta o desejo e prazer individuais no fazer, mas prioriza o sucesso do projeto coletivo, bem maior da vivência humana.

Nos dias atuais apareceu o individualista-político-fanático e provocador, que não se interessa por analisar os fatos. Posta textos ou imagens, produzidas por terceiros, portanto não assume criativamente, não sabe ou não discute o mérito. Quando se depara com uma contra argumentação fundamentada, foge do tema, como “o diabo fugiu da cruz” acusando terceiros como “o governo anterior”,  “esquerda”, “direita” “sistema”, “imprensa”, “STF”, etc. Pasmem, mesmo do tipo religioso, defende a violência como solução em defesa do tema postado. Ao propor direta ou indiretamente a violência, nega os princípios do Cristianismo (católicos, evangélicos, etc.). Terceirizar a prática religiosa, aceitar ser guiado por outro cego ou faz estelionato religioso torna-se contradição no interior do ser individualista. Esse tipo, bem que poderia usar sua exagerada individualidade para estancar a covid-19 protegendo a si e às demais pessoas, praticando o isolamento. Também radicalmente. Assim, manteria seu individualismo e beneficiaria em especial, mais de 13 milhões que vivem na miséria, segundo o IBGE, que para a medicina estão em condição de risco por estarem mais vulneráveis.

Prejuízos financeiros serão para todas as pessoas. É preciso delimitar e distribuir os prejuízos que o momento vem trazendo. Defender que CNPJ (empresa) é mais importante na saúde pública que CPF (pessoas) é monetizar pessoas. Equivoco, porque empresas voltam com fim do CNPJ, mas pessoas não ressuscitam com fim do CPF. Após a morte, empresas podem voltar, pessoas não.  Cruel e desumano individualismo inoportuno.

O planeta tornou-se uma aldeia global, não é possível um Robinson Crusoé de 300 anos atrás. Cautela, criatividade, solidariedade e paciência facilitarão a travessia para o pós covid-19. No século XXI relação comunitária, que se previa paulatinamente, foi acelerada com presença do vírus.

É necessária a liberdade de existir para construir no espaço público a constante comunicação, mas também, a necessidade da responsabilidade social, através da prudência, solidariedade e compartilhamento, é imperativo.  Exagerar na individualidade ao sair sem máscara e sem cautela, é postura individual que não beneficia o coletivo e prejudica todas as pessoas.

(*) Valtênio Paes de Oliveira é professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada -Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.

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Valtenio Paes de Oliveira

(*) Professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada-Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.

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