As adolescentes sergipanas dos 15 aos 18 anos são as que mais procuraram o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para tirar o título eleitoral e, com isso, estão aptas a votar nas eleições de outubro. Foram 7.453 meninas ante 5.688 meninos, perfazendo um total de 13.141 adolescentes. Os números são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referentes a janeiro, fevereiro e março deste ano. Em todo o Nordeste, 173.529 meninas tiraram o título de eleitor; entre os meninos foram 135.243. Ainda esta semana, o TSE divulgará informações referentes ao mês de abril, mas somente em julho terá os dados finais. E lembrando, que o cadastro eleitoral deste ano se encerrará, amanhã, 4 de maio, quarta-feira.
Entre as adolescentes sergipanas que tirou o título pela primeira vez – em março – está a estudante Sophia de Souza Seixas, 17 anos. “Decidi tirar agora porque as eleições são importantes para o futuro do país e não queria deixar de fazer a minha parte”, afirma Sophia, estudante do terceiro do ensino médio numa escola particular de Aracaju.
A iniciativa de fazer o título de eleitor partiu dela mesma, interessada em contribuir para mudar o destino do país. “Nestes quatro anos, do jeito que o Brasil vem sendo governado causou uma tragédia com pessoas morrendo de Covid-19. Acho que tem que mudar essa situação e o único meio é a população votando num novo representante”, explica referindo-se às eleições para presidente da República.
Quanto às mudanças em Sergipe, Sophia disse que ainda vai procurar saber quais serão os candidatos ao governo – por enquanto os postulantes são pré-candidatos – “ouvir o que eles defendem e só depois me posicionar”. Com o prazo para tirar o título próximo a se encerrar na quarta-feira, Sophia faz um alerta aos jovens: “Quero reforçar a ideia de que não adianta reclamar dos governos e não fazer a nossa parte. Todos nós temos a responsabilidade como cidadãos”.
O adolescente Bruno de Souza Santos, 15 anos, já tem o título de eleitor, emitido na semana passada. “Nós temos que ser donos do nosso próprio destino. Já que posso votar, darei minha contribuição para mudar os destinos do meu país”, disse. De janeiro a março deste ano, 285 garotos (de 15 anos) tiraram o título de eleitor, enquanto entre as meninas este número foi de 436, perfazendo um total de 721 adolescentes.
Enquanto Sophia e Bruno mostram-se dispostos a votar, Marcos Oliveira Souza, 17 anos, (nome fictício, pois o adolescente preferiu não ser identificado) ainda não tirou o título de eleitor e nem sabe se o fará até amanhã. “Não tem nenhum nome para presidente que me chame a atenção. Quero mais é estudar para depois ir embora do Brasil”, disse Marcos que pretende cursar Ciência da Computação.
Marcos se enquadra entre os adolescentes sergipanos que, por enquanto, não procuraram o TRE para tirar o título. Pelo menos, 2.104 meninos de 17 anos tiraram o título, enquanto o número de meninas foi um pouco maior: 2.645. Na faixa etária de 15 anos, as meninas são maioria: 436, ante 285 meninos; de 16 anos, 2.482 meninas e 1.379 meninos; e na faixa dos 18 anos, foram 2.325 meninas e 1.919 meninos.
De acordo com os dados do TSE, de janeiro a março deste ano, em todos os nove Estados nordestinos, 308.772 jovens de ambos os sexos, de 15 a 18 anos, tiraram o primeiro título de eleitor. Os menores números de novos eleitores estão na faixa etária dos 15 anos: em janeiro foram 3.945; em fevereiro aumentou para 4.559; e em março 7.791.
Os números foram crescendo de acordo com o mês. Em janeiro, 48.523 meninas tiraram o título, anti 37.6445 meninos, dos 15 aos 18 anos; em fevereiro, este número aumentou para 53.054 entre as meninas, e 43.059 entre os meninos; e em março, 71.952 meninas e 54.539 garotos. No total, 173.529 meninas dos 15 aos 18 anos estão aptas a votar, enquanto entre os meninos desta mesma faixa etária, o número é de 135.243.
Dentre os nove Estados nordestinos, os maiores números de eleitores de 15 aos 18 anos estão concentrados na Bahia, com 62.817 novos eleitores; Ceará, com 50.555; e Pernambuco, com 40.790. O Estado de Sergipe tem o menor número, com 13.141 eleitores.
O sociólogo e professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Marcelo Ennes, explicou que o número expressivo de meninas tirando o título de eleitor pela primeira vez, reflete o protagonismo feminino. “Primeiro se refere a uma maior participação da mulher na sociedade como um todo. Além disso, as mulheres estão se envolvendo no mundo da política, que deixa de ser um assunto só de homens. Isso é vivenciado pelas novas gerações, que são aquelas que vivenciam as mudanças de maneira mais intensa e consegue incorporá-las sem obstáculos culturais que as gerações mais velhas carregam”.
Outro ponto importante que Marcelo Ennes destaca é o cenário político atual. “Nós temos claramente um debate político, também uma guerra de narrativas, em torno do papel da mulher na sociedade. De um lado, uma perspectiva mais de esquerda que incorpora toda uma trajetória, todo um desdobramento dos movimentos feministas e suas conquistas, da ampliação dos lugares da mulher na sociedade. Esse é um lado mais progressista”.
“Do outro lado, temos o protagonismo mais conservador que vai defender uma sociedade patriarcal, com papéis sociais muito definidos na família e na sociedade. Esse discurso ideológico tem sua fundamentação em questões religiosas, resgatando as escrituras sagradas que define claramente o papel do homem e da mulher”, observa.
A juventude está nos campos progressista e conservador. “Mas intuo que a maioria das jovens estão concentradas no campo progressista, porque se vêem, muitas vezes, ameaçadas por um discurso mais conservador. Essas meninas não querem mais ser do lar, viver em função do marido, dos filhos. Elas querem se casar, ter filho, mas não querem mais viver em função disso. Querem ter vida profissional. Tirar o título de eleitor é uma resposta disso também. As moças pensam numa campanha eleitoral em que os novos governantes venham expressar essa visão de mundo delas”, ressaltou o sociólogo.
Os homens, de acordo com Marcelo Ennes, sempre tiveram o protagonismo na política, nas lideranças partidárias e nos movimentos sociais e não há nenhuma novidade nisso. A novidade são as mulheres que estão crescendo e é bom que elas queiram participar da vida política. “Então eles vão disputar cada vez mais com as meninas”, afirmou.
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