Paulo César Santana (*)
Há pouco mais de uma década, Érlon Santos e Joseane Celestino decidiram expandir a parceria de casa para o ambiente profissional. Unidos há mais de 15 anos, eles se tornaram sócios de um salão de beleza (@erloncabelereirosunissex) e, assim, dividem as tarefas administrativas, trabalhando lado a lado para receber os clientes em busca de serviços como corte de cabelo, barba, escova, depilação, entre outros. “Nós sabemos bem separar a vida pessoal da profissional. Cada um tem o seu espaço de trabalho, suas responsabilidades e um não se envolve no que é do outro. Então, tem dado certo sim”, afirmou o empresário.
A forma de operacionalização definida pelo casal de cabelereiros é o que defende a coach de Carreira e Propósito, Helena Braz. Para dar certo, ela afirma que é fundamental estabelecer bem os limites de cada membro da família, ou de cônjuges, na rotina administrativa. “Na grande maioria dos casos, o que gera conflito não é o fato de trabalharem juntos e, sim, a não definição de papéis, de responsabilidades, de atividades. Logo, de primeira instância, essa tomada de consciência é importante para iniciar a construção de uma jornada juntos”, esclareceu ela.
Além disso, especialistas em gestão empresarial advertem para aspectos como a transparência nas informações e decisões, sobretudo em situações de desentendimento, assim como as oportunidades de valorização nas quais, na medida do possível, precisam tomar forma para que haja mais estímulo por parte dos que compõem o espaço empresarial. Para quem aposta nesse tipo de modelo, as vantagens são apontadas pelo próprio Sebrae como sendo:
“Como vão os dois pra o mesmo rumo, temos a vantagem de sair de casa sempre juntos, sem aquilo de cada um ir pra um lado, e no retorno a mesma coisa, além de conseguirmos passar mais tempo com a nossa filhinha. Pra dar certo, acreditamos que é preciso haver tolerância e paciência, porque casamento é isso, não é? (risos),” declarou Joseane.
Ainda que com um expressivo índice de empresas que adotam um modelo de negócios em família, o número de casos que vão na contramão também é preocupante. De cada 100 empresas neste perfil, abertas e ativas, apenas 30 sobrevivem à primeira sucessão e somente cinco chegam à terceira geração, segundo o Sebrae. Os laços fortes que, quase sempre, influenciam no comportamento dentro do ambiente setorial ou na realização de atividades, além do jogo de poder bastante comum em casos onde há maior capital envolvido, são alguns dos pontos frágeis que, se não contornados, podem levar ao fechamento da empresa.
“Ter como meta primordial o fato de não misturar trabalho e vida pessoal; eis uma dica de ouro. Super desafiador, pois nem sempre é possível conseguir, mas decidir por esse caminho é sempre possível. Faz-se essencial que não levem o trabalho para casa e o da casa para o trabalho. Dessa forma, as possibilidades de um afetar o outro serão mínimas,” pontuou Helena.
Para evitar conflitos futuros, sobretudo em eventuais sucessões, algumas recomendações e questionamentos devem ser feitos ainda durante o processo de abertura do negócio, ou até mesmo, no decorrer de seu planejamento.
Falar numa mistura entre trabalho e relacionamento matrimonial pode não ser visto com bons olhos por muitos casais. Ainda assim, o mercado empresarial tem mudado nas últimas décadas e feito com que muitos descubram os pontos fortes em dividirem a liderança de uma empresa. Uma pesquisa conduzida pela International Stress Management do Brasil (ISMA-BR) constatou que a parceria entre casais no contexto profissional faz com que entendam melhor as angústias e a carga horária do parceiro, reduzindo os conflitos, aumentando a produtividade e a maturidade entre ambos.
Uma medida saudável ressaltada pela coach é adotar estratégias que fujam da rotina para manter o entrosamento e intimidade entre o casal fora do lugar de trabalho. “Investir num hobby ou numa atividade física; fazer passeios juntos são algumas sugestões para que desfrutem de situações diferentes das vivenciadas no dia a dia profissional. Isso vai aproximá-los e manter o interesse de ambos na relação”, complementou Helena.
(*) Estagiário sob supervisão do jornalista Antônio Carlos Garcia
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