Embora a ASES esteja nascendo com 16 associados, Lucas diz que a ideia é que “esse número aumente agressivamente, visto que no interior do Estado há muitas startups ainda não mapeadas”. De fato, é difícil saber exatamente quantas startups existem no Estado, primeiro porque não existe um mapeamento oficial no Estado, segundo porque “por sua natureza e fases as startups possuem uma linha muito tênue entre a vida e a morte”.
Apesar de não existir, por enquanto, números oficiais, Lucas Resende assegurou que “tem muita coisa boa acontecendo em Sergipe nessa área”. Mas está longe de ter unicórnios. “Há muito potencial, mas me arrisco a dizer que o nosso ecossistema hoje está mais para matar os possíveis unicórnios a estimular o surgimento deles (risos)”, alfineta. Segundo ele, no Brasil há 16 unicórnios e existem outras que são candidatas a chegarem a esse nível, “mas nenhuma delas de nosso estado, infelizmente”.
Mas tem zebra. A sergipana Quero Delivery é um exemplo. Ela foi criada depois que o empresário Miguel teve dificuldades de pedir um hamburguer em Tobias Barreto, porque o dono do trailer de lanche nunca atendia as ligações. “Hoje, o Quero Delivery está presente em 180 cidades de 14 estados. Em 2020, o faturamento foi de R$ 13 milhões. Ou seja, o iFood deixou um gap (espaço) que foi fantasticamente ocupado”, conta Lucas Resende.
E, como já disse Lucas, tem muita coisa boa acontecendo em Sergipe. Você vai se surpreender ao ler esta entrevista e saber quais são as novidades neste setor.
SÓ SERGIPE – O senhor, junto com outras pessoas, lidera a criação da Associação Sergipana de Startups (ASES). Como nasceu a necessidade de ter uma entidade que pudesse reunir as startups e quando, efetivamente, ela se tornará realidade?
SÓ SERGIPE – A entidade já começa com quantos associados e quais são os principais objetivos dela?
LUCAS RESENDE – São 16 startups que já vão começar como associadas. A ideia é que esse número aumente agressivamente, visto que no interior do estado – como Lagarto, Itabaiana e Santa Luzia – há muitas startups ainda não mapeadas. Ou seja, está se criando micro ecossistemas em várias regiões e um de nossos objetivos é uni-los para tornar o ecossistema sergipano ainda mais forte. Além disso, sabemos que ter representantes com voz ativa em fundos, aceleradoras, sistema S e governo, por exemplo, fará toda diferença para aqueles que fazem acontecer inovação e tecnologia no estado através de suas startups.
SÓ SERGIPE – O senhor já está se mobilizando como representante da ASES para manter intercâmbio com outras entidades brasileiras e estrangeiras?
LUCAS RESENDE – Sim, faz parte de nossos objetivos. O universo das startups é inovador e célere. Isso contribui com a ausência de limites para troca de experiências. Constantemente as startups do estado participam de eventos e programas de várias entidades importantes do cenário Nacional, como o Sebrae-PE, que é uma referência.
“A ASES se fará presente nesses eventos e fará intercâmbio com outras entidades, mas precisamos, inicialmente, escrever um belo caminho para fazer Sergipe despontar como referência.”
A ASES vai buscar estar o mais próximo possível dessas entidades. No tocante às estrangeiras aqui em Sergipe, ainda há muito caminho a percorrer. Apesar disso, existem programas de internacionalização de startups como o Sebrae Like a Boss, que terá a sua etapa estadual acontecendo aqui em Aracaju nas próximas semanas. É primordial, como eu costumo dizer, fazer um alinhamento de expectativas. Primeiro precisamos arrumar a casa. A ASES se fará presente nesses eventos e fará intercâmbio com outras entidades, mas precisamos, inicialmente, escrever um belo caminho para fazer Sergipe despontar como referência. Potencial nós temos. E isso passa por se aproximar das entidades locais, prioritariamente.
“…as startups possuem uma linha muito tênue entre a vida e a morte.”
SÓ SERGIPE – As startups nasceram para apresentar ao mercado um produto inovador. Atualmente, temos quantas startups em Sergipe?
LUCAS RESENDE – É uma pergunta difícil de responder por dois motivos. Um deles é que não existe um mapeamento de startups, no estado, que seja oficial. Outro é que, por sua natureza e fases, as startups possuem uma linha muito tênue entre a vida e a morte. Ontem ela poderia ser uma ideia, hoje ela é early-stage (estágio inicial) e amanhã pode estar validada ou morta. Não é uma tarefa fácil. Vamos começar fazendo um mapeamento e, inclusive, usando um que foi iniciado pela Comunidade CajuValley e contando com a ajuda de todos que fazem parte do ecossistema.
SÓ SERGIPE – E em Sergipe, existem startups unicórnio? Algumas são expressões nacionais?
LUCAS RESENDE – Não há unicórnios por aqui. Há muito potencial, mas me arrisco a dizer que o nosso ecossistema hoje está mais para matar os possíveis unicórnios a estimular o surgimento deles (risos). Olhando para os padrões de captação, o tempo médio para se tornar unicórnio é de 6,9 anos e por isso, quem sabe, o nosso unicórnio não está por aí, né? No Brasil há 16 unicórnios e existem outras que são candidatas a chegarem a esse nível, mas nenhuma delas de nosso estado, infelizmente. Eu costumo dizer que as zebras ocupam o lugar onde os unicórnios são falhos, e por “n” motivos isso pode acontecer. Um exemplo disso é a sergipana Quero Delivery que foi criada depois que o Miguel Neto teve dificuldade de pedir hambúrguer em Tobias Barreto (SE), porque o dono do trailer de lanche nunca atendia as ligações. Hoje, o Quero Delivery está presente em 180 cidades de 14 estados. Em 2020, o faturamento foi de R$ 13 milhões. Ou seja, o iFood deixou um gap (espaço) que foi fantasticamente ocupado.
SÓ SERGIPE – Quem não está ambientado a esse setor, não conhece o termo unicórnio. Para muitos, é um animal mitológico que tem forma de cavalo, geralmente branco, com um único chifre em espiral. Mas no universo das startups, o que é o unicórnio?
LUCAS RESENDE – São startups avaliadas em pelo menos 1 bilhão de dólares. iFood, Nubank, 99, Hotmart e C6Bank são algumas delas aqui no Brasil. Existem algumas candidatas a unicórnio para 2022 como a Beep e o Descomplica. É importante eu destacar que para assumirem esse posto são necessários três requisitos indispensáveis: tecnologia, escalabilidade e crescimento acelerado.
SÓ SERGIPE – O termo startups, do inglês, significa “começar algo novo” e sempre relacionado à inovação no mundo dos negócios. Em Sergipe, temos muitas coisas novas nesse segmento? Quais o senhor destacaria?
SÓ SERGIPE – Qual a importância da CajuValley dentro deste sistema?
“A CajuValley surgiu como um grupo de colegas que queria falar sobre tecnologia e aos poucos foi evoluindo.”
Tudo pode melhorar. Na minha opinião é preciso escolher um espaço bem definido no espectro, um posicionamento mais assertivo. Caso contrário pode ser visto por alguns apenas como um “grupo de WhatsApp de startupeiros”. É estar sempre atento a responder a seguinte pergunta: quais são os elementos essenciais para atingir o *Comum* da *unidade* = Comunidade?
Não estou falando de ter CNPJ, por exemplo, como a ASES, mas de ser retroalimentado constantemente com mais práticas. Obviamente que a pandemia pode ter atrapalhado o movimento, de fato. Mas, muito precisa ser feito. A CajuValley surgiu como um grupo de colegas que queria falar sobre tecnologia e aos poucos foi evoluindo. Hoje não tenho dúvidas que sem ela praticamente não haveria interação entre o ecossistema. É lá que se marcam os encontros, divulgam eventos, concentram os players, conhecemos as startups nascentes. Imaginem não ter o CajuValley? Vale lembrar que a ASES não veio para substituir a comunidade. Ao contrário, veio para fazer uma soma a esse ator tão importante para o ecossistema.
SÓ SERGIPE – Hoje temos jovens empreendedores e alguns deles, talvez, pensem em fundar uma startup. Que orientação o senhor pode dar a essas pessoas que pensam neste tipo de empreendimento?
LUCAS RESENDE – Sem dúvida nenhuma um bom começo é visitar o SergipeTec, o Innovation Center e entrar no grupo de WhatsApp da comunidade CajuValley.
“Muitas startups morrem por falta de experiência dos fundadores e/ou ausência de alguns conhecimentos técnicos.”
A partir daí é ser proativo. Se conectar com pessoas que tenham o interesse em ajudar e que vivam a inovação diariamente. É estar perto de quem faz a inovação e conhecer como funcionam os processos das startups o máximo possível. O Thalles Carvalho, da comunidade, tem uma frase muito boa que é “estamos a uma mensagem de distância” e isso representa muito bem essa orientação. É claro que, não é tudo só subjetividade, tem que estudar a parte técnica. Muitas startups morrem por falta de experiência dos fundadores e/ou ausência de alguns conhecimentos técnicos. Ler livros, por exemplo, aos menos os clássicos, e ir tentando aplicar o aprendizado é uma ótima forma para ir se livrando de boa parte dos percalços.
SÓ SERGIPE – Como o senhor avalia o trabalho da Fapitec Sergipe no fomento de startups?
LUCAS RESENDE – A Fapitec tem lançado alguns editais nos últimos 4 anos e vemos, inclusive, uma crescente na quantidade, mas ainda segue uma linha muito acadêmica, o que na nossa opinião, se esse for o único objetivo, há muito mérito. Gostaríamos de ver mais editais voltados para startups e que esses editais possam englobar a realidade dos nossos empreendedores da área e do ecossistema do Estado, que ainda é muito incipiente e precisa de incentivo para as fases iniciais do negócio. Quem tem startup em Sergipe e vive o dia a dia da jornada sente falta desse tipo de apoio. O único edital que tem essa vertente é o Centelha e que já está na segunda edição. Somos gratos por isso, mas como ele é replicado do Governo Federal, não é pensado e adaptado à realidade estadual.
SÓ SERGIPE – E o SergipeTec?
LUCAS RESENDE – O SergipeTec é um órgão e ator importante do ecossistema, mas para nossa diretoria o seu trabalho ainda não gerou ações diretas e relevantes para a comunidade de startups do Estado, se tornando um ator distante das startups em suas práticas. Citamos isso pelo tamanho que tem o parque tecnológico e pelos recursos que ali são empregados. Porém, atualmente, estamos mais motivados e esperançosos com a retomada do setor de startups que enfim foi assumida por alguém que conhece e atua diretamente com o segmento, o Thalles Carvalho, que é líder de comunidade empreendedora e acadêmica no estado e tem muita vontade de fazer as coisas acontecerem. Isso ajuda a Associação em seus anseios. O Thalles já está organizando espaços que nunca tinham sido usados para receber as startups e um coworking exclusivo para as Empresas Juniores. Além disso, novos editais e eventos de empreendedorismo estão prontos para serem lançados ainda este ano. A decisão de trazer um profissional que é fruto do ecossistema de startups deveria ser copiada pelas demais instituições públicas e privadas no nosso Estado, isso traz para essas instituições uma adequação à realidade do nosso ecossistema e, consequentemente, resultados sólidos e expressivos. A ASES conta com o apoio direto do SergipeTec para evoluir como ator de inovação no Estado.
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