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Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Esses dias recebi uma mensagem de uma amiga querida que optou por ser feliz. Mesmo com seus perrengues, é alto astral; educou o olhar para o lado bom da vida.

A felicidade é uma opção, ou melhor, uma construção contínua e permanente. Mesmo diante das adversidades, que ninguém está imune: frustrações, sofrimentos, desilusões, ela não deixou que isso tudo dominasse ou limitasse seus anseios e desejos.

Citando Cora Coralina: “Não é porque o problema lhe bate à porta, que você tem que convidá-lo a entrar, puxar a cadeira, e ele sentar”. Da porta mesmo, ela o expulsa. E, como as mulheres sábias, basta passarem um batom e seguirem em frente, espalhando formosura e alegria.

Li recentemente o texto da escritora mineira Adélia Prado, sobre envelhecer:

“Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos”.

A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos. O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar.

Imagem: Pixabay

Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história. Que usa a espontaneidade para ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos. Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores. Aprenda: nenhum bisturi vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio.

Sempre elas, as mulheres nos ensinando.

Perfeito. Ninguém vai conter o caminhar do tempo. Temos que nos adaptar à sua passagem.

Na semana passada, no voo de Belo Horizonte para o Rio, sentou-se ao meu lado na aeronave, Fernando Grisi, 81 anos, baiano de Vitória da Conquista, Bahia.

Comunicativo, afável, bom papo, foi conversa para mais de metro. Em pouco mais de uma hora, até aterrissarmos no aeroporto Santos Dumont, ele mostrou seu entusiasmo com a vida. Tratando de três cânceres, em nenhum momento mostrou-se taciturno ou sorumbático. Ao contrário: vivo, vibrante e alegre, sorriu e me fez sorrir o tempo todo, narrando fatos de sua longeva e rica trajetória. Ao desembarcarmos no Rio,  a esperá-lo, a namorada carioca, de 67 anos.

“Ter problemas na vida é inevitável, deixar-se abater por eles é opcional.”

Quando crescer quero ser que nem Fernando Grisi, o novo amigo que ganhei voado pelos céus do Brasil. Vida longa, amigo Fernando, com o que há de melhor. Você descobriu o segredo da felicidade. Parabéns! Avante!

 

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