Dizem que a vaidade é a coisa mais cara do mundo. É verdade. Há vaidade de todos os tipos, gosto, tamanho e bolsos. Há quem mate e morra para estar em evidência nas famigeradas redes sociais; os que fazem tudo para ter o maior saldo bancário; os que se entopem de botox na vã ilusão de driblar o caminhar do tempo, e manter a beleza fugaz; os que praticam esportes radicais para mostrar que fazem o que ninguém faz. Também tenho minha vaidade. Diminuta, porém enorme para mim. No outubro da vida, quando tenho menos tempo pela frente, do que o que já gastei, me descobri escritor. Minha vaidade é ser chamado de escritor. Ah! Como fico feliz e envaidecido com tal deferência.
Na verdade sou um contador de histórias/estórias, transformando-as em crônicas, que ocupam espaço nos jornais, blogs, portais de diferentes cidades de norte ao sul deste imenso país, abençoado por Deus e bonito por natureza. Ver meu nome impresso nos jornais é uma enorme honra. Alguns dirão, quanta bobagem! Não para este escrevinhador, que há pouco tempo mal juntava palavras que fizessem sentido.
Em junho de 2022, após longo tempo ruminando, lancei o livro “Das muletas fiz asas”, onde conto um pouco de minhas andanças pelo mundo; a visão que desenvolvi do que vi, observações do meu entorno; das pessoas que cruzaram meu caminho. O que move o mundo são as pessoas e suas histórias.
Na posse no IHGM, em 10 de julho, na bela cerimônia realizada na Câmara Municipal de São Luís, no centro histórico de minha Ilha do Amor, ao ser apresentado como escritor, enchi meu coração de alegria, transbordando felicidade.
O escritor é ser sonhador, que coloca no papel pensamentos, observações, ruminações. Um ser livre, que viaja pelo mundo, com sua mente prodigiosa, a criar, recriar, sonhar, devanear. O escritor é um criador, um pequeno deus, que cria, manipula, dá vida e voz ao seus personagens, e pode até matá-los. O ato de criação é um ato solitário, libertário, sem limites. Seus pensamentos não têm limites.
“Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto.” – Machado de Assis
“Escrever é um processo de transformações alquimísticas. O escritor transforma – ou, se preferirem uma palavra em desuso, usada pelos teólogos antigos, “o escritor transubstancia” – sua carne e o seu sangue em palavras e diz aos seus leitores: ‘Leiam! Comam! Bebam! Isso é a minha carne! Isso é o meu sangue!’. A experiência literária é um ritual antropofágico. Antropofagia não é gastronomia. É magia. Come-se o corpo de um morto para se apropriar de suas virtudes. Não é esse o objetivo da eucaristia, ritual antropofágico supremo? Come-se e bebe-se a carne e o sangue de Cristo para se ficar semelhante a ele. Eu mesmo sou o que sou pelos escritores que devorei… E, se escrevo, é na esperança de ser devorado pelos meus leitores”, cito Rubem Alves para melhor descrever o processo de criação.
Portanto, nunca subestime um escritor, eles são franco-atiradores, armados com palavras; eles sabem como mirar com frases, como atirar com parágrafos, como imortalizar suas mortes em versos.
A alegria de quem escreve é o retorno de quem ler. Só me tornei verdadeiramente escritor quando recebi o retorno dos leitores, que descobriram no livro e nas crônicas algo que não havia pensado. Quantas descobertas, quantas interpretações em cima de um texto que mesmo escritos por mim, me surpreendem.
Escrever é libertador; muito me alegra saber que chego ao leitor através de palavras. Escrever para mim é viver; escrever é minha vaidade.
Dia 25 de julho, Dia do Escritor.