Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Há uma discussão sobre homenagens que vale a pena sempre revisitarmos: se elas devem ser feitas em vida ou não. Eu, particularmente, entendo que ambas são importantes e bem-vindas. É bem verdade que as que são feitas em vida são mais emocionantes e, em geral, fazem justiça à memória de pessoas em tempo, sem deixar que o esquecimento tome seu lugar. Entretanto, as homenagens póstumas também têm seu significado, sobretudo, para os familiares. Fato é que elas não devem deixar de ser feitas, não no afã de massagear o ego de um ou de outro, mas de dizer um muito obrigado a quem tanto nos fez bem em vida ou não.
Mais na frente, retomarei esse ponto. Antes, até porque uma coisa tem a ver com a outra, gostaria de fazer registro de um evento que ocorreu no último dia 4 de novembro deste ano, nas dependências do Museu da Gente Sergipana (MGS). Trata-se de uma escuta pública com vistas à atualização do seu Plano Museológico, previsto para o quinquênio 2025-2030. Depois de uma etapa de escuta ao nível das redes sociais e outros expedientes para ouvir a sociedade e seus visitantes (recorde batido de um milhão deles esta semana), a instituição convidou e reuniu alguns especialistas, estudiosos e entusiastas da história e da cultura sergipanas na modalidade presencial, dividindo-os em quatro Grupos de Trabalho, a saber: GT 1 – Penduricalhos da Gente Sergipana; GT 2 – Educação e Museu: Um espaço de fomento a identidade sergipana; GT 3 – O lugar da tecnologia para a interação com a gente sergipana; e GT 4 – Acessibilidade e Museu: Pensando a acessibilidade para expandirmos a inclusão.
A professora Karla Jamylle Souza Santos, supervisora do Museu da Gente Sergipana, ficou responsável de conduzir todo o processo, não somente de fazer as vezes de cerimonialista, mas também de organização das falas. Na parte da manhã, uma espécie de “esquenta tamborins”, com uma apresentação síntese de cada GT e de seus propósitos e motes discursivos, momento este precedido de uma fala de boas-vindas do superintendente do Instituto Banese e diretor do museu, Ezio Déda, que fez, também, um breve relato do histórico do lugar; e de uma palestra proferida pela museóloga Heyse Souza de Oliveira, com o tema “Introdução ao conceito de plano museológico, sua importância e principais componentes”.
À tarde, deu-se a escuta propriamente dita. O GT 1 foi coordenado por mim e pela professora Aglaé d´Ávila, que debatemos sobre a escolha e a inserção de elementos simbólicos dos 75 municípios sergipanos e que estão representados no hall de entrada do Museu da Gente. O GT 2 ficou sob a responsabilidade do Prof. Osvaldo Ferreira Neto e da Profa. Dra. Verônica Maria Meneses Nunes, que ficaram responsáveis por refletir sobre a composição da exposição “Nossos Cabras” e fatos culturais, sociais, ambientais e históricos de relevância para o Estado, na perspectiva de atualizar a “Renda do Tempo” na exposição “Midiateca”. O GT 3 procurou discutir métodos para a utilização dos recursos multimídias como dispositivos para explorar de maneira mais ampla os discursos presentes nas exposições, além de atuarem como dispositivos pedagógicos para o ensino-aprendizagem da cultura sergipana, tudo isso sob a competente e dinâmica coordenação das professoras Janaína Cardoso de Mello e Priscila Maria de Jesus. Por fim, coordenados por Cristina de Almeida Valença Cunha Barroso e Germana Gonçalves de Araújo, o GT 4 apontou e vislumbou possíveis melhorias no acesso à informação, à orientação espacial dos visitantes e à estrutura predial, no que diz respeito à acessibilidade.
Em linhas gerais, os caminhos apontados para o Museu da Gente Sergipana são alvissareiros. É bem verdade que boa parte deles dependerá, por exemplo, de dotação orçamentária. São ideias que agregarão ainda mais valor a um dos mais representativos lugares de memória do Estado. Ele existe desde 26 de novembro de 2011, que hoje, também leva o nome do saudoso governador Marcelo Déda (1960-2013). Vale aqui, destacar o papel dos estagiários e demais componentes do MSG, que colaboraram para que tudo acontecesse a contento: Romero Crispim, Carlos Weniso Fonseca Viana (supervisores), Analice Silva Araújo Moura, Leonardo Teles de Matos Santos, Jenyfer Elizabeth França, Sofia de Jesus Carvalho e Sabrina Pereira de Jesus (estagiários). Afora, Karla Jamylle Souza Santos, a quem me referi antes.
“Apois”, voltemos à questão das homenagens. Naquele mesmo dia 4 de novembro, véspera do Dia Nacional da Cultura, no final da tarde, após os trabalhos da escuta pública, também nas dependências do museu, pude testemunhar uma das mais belas, criativas e justas homenagens a um de nossos mais importantes nomes no campo cultural de Sergipe: professora Aglaé d´Ávila Fontes. Tudo feito às escondidas, em parceria com amigos e colegas do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, para que o elemento surpresa fosse a tônica de toda a solenidade, que contou com exibição de trechos de um documentário sobre ela, produzido por Patrícia Cerqueira, apresentação de jogral (com Tereza Cristina, Lindolfo Amaral e Angélica), grupo folclórico, cantoria, com participação de familiares, tendo como corolário o descerramento de placa e de sua escultura no pátio do museu à frente da sala de exposição “Mamulengo de Cheiroso: a magia do teatro de bonecos”.
Entre os presentes à homenagem, inúmeras personalidades, autoridades e agentes culturais sergipanos, a exemplo de Beatriz Góis Dantas, Terezinha Alves de Oliva, Pascoal Maynard, Dr. José Anderson Nascimento e Dr. Paulo Andrade Prata, presidente da Academia Lagartense de Letras. Todos muito felizes e emocionados, rendendo graças a ela que ficou visível e sensivelmente muito emocionada. Tudo isso, seja no que se refere à escuta pública, seja ao momento sublime de reconhecimento à Aglaé, sob a batuta do arquiteto Ezio Déda, com o distinto esmero, carinho e cuidado que lhes são peculiares na lida com tudo que ele se prontifica a fazer e fazer muito bem feito.
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