A cidade de Simão Dias terá, a partir deste ano, mais um filho ilustre ocupando um assento na Academia Sergipana de Letras. Valendo-me do livro “Perfis Acadêmicos”, em sua segunda edição, de autoria do acadêmico José Anderson Nascimento (2022), trata-se do sexto capa-bode, em 94 anos de existência de uma das instituições de memória mais importantes do Estado, celebrados ontem, dia 1º de junho.
Três simãodienses estão entre os fundadores da ASL: Antônio Manuel de Carvalho Neto (1889-1954), cadeira 25; Gervásio de Carvalho Prata (1886-1968), cadeira 28; e Marcos Ferreira de Jesus (1893-1983), cadeira 38. Gervásio Prata foi sucedido por Artur Oscar de Oliveira Déda, a quem tive a honra de suceder, em 2019. Até pouco tempo, Antônio Amaral Cavalcante (1946-2020), terceiro sucessor da cadeira 39. Significativos nomes da antiga Anápolis e da terra de Senhora Santana.
A estes se soma agora, eleito na última segunda-feira, 29 de abril, o arquiteto e escritor Ezio Christian Déda de Araújo, para a cadeira 19, em sucessão ao Imortal Jácome Góes, falecido em dezembro de 2022. Sua estada na ASL já era aguardada nos últimos anos, chegando a retirar candidatura na vaga do saudoso Fernando Soutelo. Mas, como diz a sabedoria popular: “tudo tem seu tempo”. E o tempo de Ezio chegou, de modo particular para somar não somente com sua juventude (47 anos), mas também com sua inteligência e capacidade de fazer as coisas acontecerem. Sua trajetória de vida, cuja síntese segue abaixo, subscreve a sua eleição para a ASL.
Filho de José Febrônio de Araújo e Creusa Armandina Déda de Araújo, nasceu no dia 30 de outubro de 1975. Em Simão Dias, viveu até os 15 anos, tendo estudado no tradicional Grupo Escolar Fausto Cardoso (até o segundo ano do Ensino Fundamental) e Colégio Cenecista Carvalho Neto (do terceiro até o sétimo ano). Em Lagarto, no Colégio Abelardo Romero Dantas, fez o oitavo ano.
A partir de 1991, passou a residir em Aracaju, onde fez o Ensino Médio no Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus e o Ensino Superior, em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade Tiradentes. Antes de se dedicar exclusivamente a estas áreas, chegou a fazer cinco períodos de Direito na Universidade Federal de Sergipe, mas não se identificou por entender que sua vocação era mesmo, como se confirmou com o passar dos anos, em Arquitetura e Urbanismo.
Em 2004, pela Universidade de Feira de Santana (UEFS), se especializou em Desenho, Registro e Memória Visual. O que o credenciou à docência em Ensino Superior, tendo sido coordenador dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Design de Interiores da UNIT, entre 2004 e 2009, onde leciona até a presente data, a disciplina Projeto de Arquitetura na UNIT
Entre 2007 a 2009, foi Conselheiro do CREA-SE. Tem um escritório chamado Ágora Arquitetos (fundado por ele, em 2008), localizado na rua de Itabaiana, 783, em Aracaju, com ênfase em projetos arquitetônicos e artes integradas. Entre os grandes feitos da empresa, o Projeto Arquitetônico e de Restauro do prédio do Antigo Atheneuzinho, monumento tombado pelo Estado, para sediar o Museu da Gente Sergipana, “primeiro museu em tecnologia interativa do norte e nordeste”. Ali, além de arquiteto, Ezio foi o coordenador geral das ações para construção de prédio. Em 2017, assinou o projeto do Tiradentes Institute, em Boston/EUA. Em 2018, realizou os projetos arquitetônicos do “Monumento Marcelo Déda” e do “Largo da Gente Sergipana”, juntamente com sua equipe do Ágora Arquitetos.
Desde 2009, se destaca à frente das ações desenvolvidas pelo Instituto Banese. Primeiro, como Diretor de Programas e Projetos, entre outubro de 2009 a maio de 2012. E desde este ano, Superintendente, mais de perto do Museu da Gente Sergipana. É Curador de diversas exposições e museus, desenvolve projetos multidisciplinares mesclando linguagens artísticas e tecnologia.
Em 2022, foi o arquiteto responsável pelo projeto de restauração e retrofit de duas edificações históricas centenárias de sua cidade natal, para instalação do Centro de Memória Digital Profª Enedina Chagas e do Clube Cultural Caiçara. Em ambos os projetos, também assinou a curadoria. É autor do Projeto Arquitetônico e de Retrofit do Museu dos Povos Acreanos, no centro histórico de Rio Branco-AC, cuja obra está em fase de conclusão, onde também a curadoria do equipamento cultural, que expõe o acervo através de modernos recursos tecnológicos e interativos. Ainda em novembro daquele ano, esteve em Portugal, quando palestrou no evento “Cultura 5.0: O Papel do Museu na Sociedade Digital”, promovido pela Universidade de Coimbra.
Membro do Conselho Editorial da Editora do Diário Oficial do Estado de Sergipe, Ézio é autor de dois livros: Árvore de Folhas Caducas (2001), apresentado por Maria Bethânia, e A Casa das Ausências (2010), esta última, uma obra em multimídia que mescla literatura, desenho, dramaturgia e música, com participações de importantes artistas e personalidades sergipanas e brasileiras.
Todos esses predicados lhe valeram as seguintes premiações e reconhecimentos, até a presente data: Medalha do Mérito Inácio Barbosa, pela Prefeitura de Aracaju (2016); Medalha do Mérito Tobias Barreto, pelo Governo do Estado de Sergipe (2018); a Medalha Armindo Guaraná, condecoração do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe (2021) e o Título de Cidadão Aracajuano (2022). E agora, os loiros da Academia Sergipana de Letras, com muito mérito e justiça.
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(*) Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.