No próximo dia 8 de março, celebraremos mais um Dia Internacional da Mulher. Mas há o que celebrar? Desde o início da pandemia, aumentaram os casos de violência doméstica e feminicídio. Com os casais passando mais tempo em casa, com menos válvulas de escape para as tensões comuns do dia a dia e a necessidade de uma nova rotina de vida, que inclui mudanças nas relações de trabalho, as mulheres se tornaram o foco para a falta de contenção das tensões de seus cônjuges. As autoridades em defesa dos grupos vulneráveis andam mais preocupadas com este aumento dos casos que acontecem, muitas vezes, de forma silenciosa na sociedade.
A misoginia (aversão às mulheres) e o machismo, a crença mais naturalizada socialmente de que o homem é superior, andam lado a lado e as mulheres negras são seu principal alvo, inclusive dentro dos movimentos feministas há essa segregação entre mulheres brancas e negras. A maioria das mulheres brancas não aceitam que a discriminação, o preconceito e as mortes ocorrem mais entre as mulheres de etnia afrodescendente, na vã tentativa de querer estabelecer uma mesma luta entre as duas raças – coisa que só demonstra mais o nosso racismo estrutural.
Então, temos algo a comemorar no dia definido, inicialmente, na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em 1910, pelos muitos movimentos em todo o mundo, para garantir os direitos das mulheres, como o voto e direitos trabalhistas? Esses movimentos foram iniciados na antiga União Soviética, nos Estados Unidos e na França e cresceram pelo mundo. O fato de haver uma transformação mundial, com a Revolução Industrial, e as mudanças nos processos de produção que passaram a incluir as mulheres, principalmente no período das duas grandes Guerras, nos deu a oportunidade de sermos integradas na sociedade e sair da posição periférica de “donas do lar”.
Entretanto, uma mudança tão profunda na estrutura econômica e, consequentemente, familiar não poderia ser algo tão fácil e rápida. Passados um pouco mais de dois séculos dessa grande mudança, a afetividade humana – algo muito mais primitivo que a linguagem falada – não consegue evoluir na mesma rapidez e parece que os aspectos cognitivos não são suficientes para promover uma revolução orgânica no complexo corpo-mente, a fim de promover a igualdade de direitos e a justiça em sua equidade.
Então, temos algo a comemorar: Sim, lógico que sim! Avançamos em todas as áreas sociais, temos mulheres presentes em todas as profissões do mundo, além de apenas dentro de casa e responsável pela criação dos filhos. Alguns homens já se mobilizaram e compartilham as tarefas familiares em todas as suas instâncias. Mas ainda temos muito a construir. Ainda precisamos de um dia que sirva como marco reflexivo do longo caminho das transformações que serão necessárias, até que mulheres deixem de ser humilhadas, espancadas, violentadas, mortas, discriminadas em seus empregos, sequestradas de seus países para trabalharem como escravas sexuais, entre outros imensos absurdos. E… Lutando, desejo a homens e mulheres um reflexivo e consciente Dia Internacional da Mulher.
(*) Profa. Esp. Petruska Passos Menezes é psicóloga e psicanalista, integrante do Círculo Psicanalítico de Sergipe, tem MBA em Gestão e Políticas Públicas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Estratégica de Pessoas (pela Fanese), Neuropsicologia (pela Unit) e em curso Gestão Empresarial pela FGV.
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva da autora. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.
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