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Flexibilizar ou não flexibilizar? O que pensam um economista e um infectologista

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Se por um lado a medida em que a retomada gradativa das atividades comerciais satisfaz quem empreende e quem precisa do trabalho, por outro, a possibilidade do aumento de pessoas contaminadas pelo coronavírus preocupa, principalmente autoridades da área da Saúde. E como em Sergipe o pico da doença ainda não foi alcançado, a decisão governamental pela reabertura do comércio, mesmo que fundamentada em opiniões técnicas, representa a busca pelo equilíbrio entre as áreas afetadas da economia e da saúde.

Essa decisão deve permear por muitos meses a necessidade de retomada da economia com o risco de uma inevitável segunda onda, ainda que a primeira sequer tenha passado. Diante do dilema, surge a dúvida sobre como promover uma flexibilização que minimize os impactos da crise econômica e, ao mesmo tempo, preservar a vida das pessoas que ficarão mais expostas à doença que alastrou o planeta.

Especialistas das áreas manifestam suas opiniões e, assim como toda a sociedade, demonstram que o desejo é de uma solução para o grave problema que se abateu sobre todos. Sobre o plano de abertura da economia de Sergipe, cujo lema é Retomando a Economia com Responsabilidade – Compromisso de Sergipe, o economista e vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Tiradentes, Saumíneo Nascimento, considera que o importante está na apresentação das premissas, entre as quais o rigor técnico e científico. Segundo Saumíneo, por conta das premissas, a possibilidade é de uma retomada gradual e responsável.

Saumíneo Nascimento: “seguir regras sanitárias”

União entre as gerações

“Entendo que Sergipe está seguindo o que muitos estados brasileiros já fazem. A flexibilização de regras para determinação da retomada parcial de atividades econômicas, a fim de evitar um colapso econômico que possa deteriorar a situação social da população local”, diz o economista, que considera que já estava mesmo na hora da efetivação do plano.

“A expectativa é que tenhamos consciência dos cuidados com as regras sanitárias, a fim de evitar um retrocesso da reabertura das atividades. Cabe a cada um de nós primar e zelar pela maximização do isolamento social, otimizando nossas saídas”, completa.

Sobre como preservar o máximo de vidas sem que impacte tanto a economia, Saumíneo acredita que isso só será possível, a partir do entendimento da necessidade de união entre as gerações e sem discriminação entre os municípios e o Governo Estadual e entre os setores público e privado.

“Seria importante que setorialmente fossem apresentadas sugestões adicionais, tipo anexos complementares às recomendações gerais apresentadas pelo estado, que seriam as recomendações adicionais de garantia de busca da mitigação do risco de aumento do pico da pandemia”, sugere o economista.

Ele reconhece ser grande o desafio de retomada dos empregos que foram perdidos, das rendas que evaporaram e da movimentação de produtos e serviços sem perder de vista, os protocolos de segurança e saúde. Saumíneo acredita que tudo depende da responsabilidade de cada um e entende que as recomendações apresentadas pelo Governo de Sergipe devem ser difundidas e cumpridas, além de protocolos setoriais. Ele diz que é necessário criatividade para conviver em um novo mundo e uma nova realidade que não será para sempre, mas provisória, ainda que não tão passageira.

“Distanciamento social é questão de saúde pública, e prevenção é a melhor forma de cuidarmos de nossa saúde. Precisamos de saúde para termos condições de cuidar das atividades econômicas que propiciam adequadas condições de sobrevivermos e garantirmos o futuro das gerações e a nossa perpetuação”, finaliza Saumíneo enfatizando que o valor da vida é infinito e não existe equação que a calcule.

“Não chega em boa hora”

Sob o olhar de quem lida cotidianamente com o agravamento de pacientes e a ameaça do colapso na rede de saúde, a medida de retomada da economia não chega em boa hora. O médico infectologista Matheus Todt diz que a OMS estabeleceu seis critérios antes que qualquer região possa iniciar a flexibilização de restrição de mobilidade e de isolamento social.

São elas: o controle do número de casos; a capacidade de testar e tratar todos os pacientes que venham a adquirir a covid-19; a capacidade de fazer controle de surtos em regiões específicas, a exemplo de lares para idosos, hospitais; a capacidade de ter controle de fronteiras; e, por fim, ter um plano de retomada das atividades com protocolos de atividades escolares, bem como a garantia do engajamento social.

Matheus Todt: “não estamos no momento de flexibilização”

“Se considerarmos as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que esses critérios devem ser seguidos, não estamos no momento de flexibilização e corremos o risco de não apenas constatar o aumento do número de casos, como o de observar o que tem acontecido na costa leste americana que se encontra em manutenção do pico há quase dois meses”, pondera Todt.

O infectologista lembra que o Brasil é o país que possui o pico da pandemia com o registro crescente do número de casos, fato que por si só já representa um critério de impedimento da flexibilização. Outra questão levantada pelo médico é que o país não dispõe de capacidade para testar ou mesmo internar todos os pacientes.

“Estamos na posição número 131 de pacientes que menos testam no mundo, fato que comprova a nossa incapacidade. Além disso, a nossa incapacidade de lidar com os surtos em hospitais, onde registramos uma taxa que chega a 30% de profissionais da saúde infectados no país”, diz Todt. Ele reconhece que o controle da infecção é muito ruim em profissionais da saúde, quase sempre provocada pela falta de equipamentos. Por fim, outro aspecto, que sob a ótica médica aponta para o fato de ser precipitada a flexibilização, é que o engajamento social é excessivamente baixo.

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