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Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Quarta-feira, 28 de fevereiro, o segundo mês do ano foi embora.

Acordo com a ligação de alguém dizendo que o pai de minha secretária havia falecido na madrugada. Espero passar um pouco e ligo para ela para dar-lhe os pêsames.

– Chefe, não estou sabendo. Não vi ainda as mensagens. Vou ver agora.

Fiquei preocupado com meu açodamento, talvez ele nem tivesse morrido. Ligo de volta para a colega que me passou a informação, e ela, também preocupada, apagou a mensagem que colocara no grupo de trabalho. Não sou arauto de más notícias, ao contrário, só dou boas novas. Lembro, sempre, de um sujeito que trabalhou comigo, ainda no começo de minha carreira de Engenheiro Agrônomo, que tinha orgasmos múltiplos em anunciar notícias ruins. Era comum ele entrar em nossa sala, e com voz empostada dizia:

– Vocês souberam o que aconteceu com fulano? Sofreu um acidente; está grave, talvez nem escape. Quanto pior a notícia, mais feliz ele ficava.

Todos o conheciam como rasga-mortalha, o pássaro agourento, que rompe o silêncio da noite com seu grunhido estridente, anunciando a morte de alguém.

Passados alguns minutos, a secretária me liga, confirmando a notícia. Ele falecera no final da noite anterior. Como tinha pouco contato com o pai, estava ali a explicação para o desencontro de informações.

Também durante o café da manhã soube do falecimento da irmã de outra servidora. Ela estava hospitalizada há dias e veio a falecer na madrugada.

Mudei minha agenda do dia, em função dos acontecimentos. Mesmo não conhecendo os mortos, era importante ir ao encontro de pessoas queridas, levar um abraço.

Pela manhã fui ao velório do pai de minha secretária e, no começo da tarde, ao velório da irmã da servidora. Os velórios foram em lados extremos da cidade, em um dia caótico, de muita chuva, trânsito pesado, normal para esta época do ano.

Não gosto de cerimônias fúnebres. E, você caro leitor, amiga leitora perguntará: “Mas tem quem goste?”. Sim, algumas pessoas gostam. Conheço uma senhora que não perde um velório, e não precisa ser de conhecido. Só de santinho de sétimo dia, ela tem uma coleção com mais de mil.

À noite tinha dois compromissos. Uma missa de sétimo dia, e um Sarau literário, da Academia Atheniense de Letras e Artes, ATHEART.

Optei por ir ao sarau. Ouvir poesias, muitas histórias boas e divertidas. A arte nos salva da aridez da vida. Ouvi diversos acadêmicos fazerem uso da palavra para expressar seus sentimentos através de poemas. Era o que precisava para fechar o dia.

Um acadêmico contou sobre sua amizade de mais de cinquenta anos com um amigo poeta. Uma amizade etílica-poética, que frutificou em muitos poemas e crônicas para jornais.

Seu amigo poeta, por questões de saúde deixou de beber. E, após desenvolver uma enfermidade que o levaria à morte, foi até a casa do amigo para se despedir.

– Vim aqui para te dizer que não estou bem, sei que desta vez não escapo.

– Não fala isso, você já ressuscitou tantas vezes, com certeza vais ressuscitar mais vezes, e vamos ter muitos e bons momentos juntos.

– Tenho certeza de que desta vez não escapo; vim te fazer um convite?

– Faça, meu amigo.

– Vim te pedir para morrermos juntos. Imagina eu chegar lá e não ter com quem conversar…

Ele pensou um pouco, e para não desagradar o amigo, disse:

– Deixe de besteira, poeta, nem você vai morrer agora, e nem eu preciso acompanhá-lo. Mas se realmente você for, me faça um favor, venha me contar como é lá do outro lado.

Três dias depois o amigo partiu, e segundo o poeta, que estava a animar a plateia, até hoje seu amigo não voltou para contar-lhe como é o lado de lá.

A vida é uma viagem, e todos nós somos passageiros. De repente, tudo acaba. A libitina nos ronda sempre, e um dia nos encontra. É premente aproveitar cada instante dessa viagem chamada VIDA.

 

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