A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) elegeu, pela terceira vez em sua história, a fome como mote da Campanha da Fraternidade deste ano. O tema “Fraternidade e Fome” é o lema bíblico extraído de Mateus 14,16, “Dai-lhes vós mesmos de comer”, chega ao Brasil num momento crucial, pois dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) mostram que mais de 33 milhões de pessoas estão em situação de fome no país”.
Em Sergipe a situação também não é das melhores, como mostra o Frei Ezequiel, líder da Fraternita Cristo Rei, entidade religiosa ligada à Igreja Católica, cujos integrantes celibatários dedicam suas vidas à oração, à evangelização, e está a serviço dos mais pobres. “Deve-se ressaltar que em Sergipe 71,1% dos domicílios avaliados tinham alguma situação de insegurança alimentar, atingindo um contingente de 1,663 milhão de moradores”, afirmou Frei Ezequiel com dados da Rede Penssan.
“Distribuímos todas as sextas-feiras, saindo às 19 horas de nossa casa de missão localizada na rua porto da Folha, 566, bairro Getúlio Vargas. Percorremos o Ceasa, Centro até o Banco Banese e parte do Siqueira. Durante a semana servimos cotidianamente a todos aqueles que recorrem à nossa casa, com café da manhã, almoço e banho” afirmou o religioso.
Diariamente, eles ajudam entre 10 a 20 pessoas. “Já nas sextas-feiras distribuímos entre 80 a 100 refeições. Na nossa meta não visamos quantidade, mas sim qualidade. Pois a matemática de Jesus é diferente da nossa. Ele deixa 99 ovelhas e vai atrás daquela desgarrada. Usamos a mesma lógica na qual há mais alegria por um pecador que se converte, do que por 99 justos que não precisam de conversão”, explicou Frei Ezequiel.
A Fraternita Cristo Rei chegou a Aracaju no dia 25 de fevereiro de 2011, portanto, ontem, sábado, completou 12 anos.“A dramática realidade do vício das drogas e do tráfico, na qual se encontravam centenas de jovens, foi o “ponta pé” inicial que deu origem à nossa Fraternidade”, disse o religioso, que conta para esse trabalho com três frades, um voluntário (leigo), dois acolhidos em ressocialização, “ou seja, terminaram o tratamento de dependência química e agora trabalham e vivem conosco”, afirmou o religioso. Esses acolhidos são chamados pelos religiosos de “filhos prediletos”. Esta semana, entre seus momentos de reflexão e ajuda aos mais carentes, o Frei Ezequiel conversou com o Só Sergipe.Confira esta entrevista, na qual o religioso mostra o seu desprendimento para apoiar os mais necessitados. E saiba como você pode ajudar a Fraternita Cristo Rei a aumentar o número de “filhos prediletos” que auxilia.
Boa leitura e uma Quaresma com muitas reflexões.
SÓ SERGIPE – O que é a Fraternita Cristo Rei, quando ela foi criada em Sergipe e qual o seu objetivo?
FREI EZEQUIEL – Fraternita Cristo Rei é uma casa de missão religiosa, onde vivem irmãos celibatários que dedicam suas vidas à oração, à evangelização, e está a serviço dos mais pobres. Cada Fraternita recebe o nome de um santo padroeiro, no nosso caso é o do próprio Cristo Rei que na Igreja Católica se celebra sua solenidade sempre no último domingo de novembro. Em Sergipe, chegamos no dia 25 de fevereiro de 2011, este ano comemoramos 12 anos de fundação em terras sergipanas. A dramática realidade do vício das drogas e do tráfico, na qual se encontravam centenas de jovens, foi o “ponta pé” inicial que deu origem à nossa Fraternidade. Parte inseparável da Fraternidade são os “filhos prediletos”, que é como chamamos os nossos acolhidos. Muitos deles, depois de reabilitados, se juntaram a nós, formando um importante exército de resgate daqueles que ainda se encontram no mundo das drogas, do tráfico, da criminalidade, em situação de rua, de cárcere e de prostituição.
SÓ SERGIPE – A entidade que o senhor dirige integra outra maior que é a Fraternidade O Caminho?
FREI EZEQUIEL – Sim, é nosso nome popular. Porém, a entidade religiosa é conhecida como Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo. Popularmente conhecida como Fraternidade O Caminho.
SÓ SERGIPE – O senhor e demais integrantes da Fratenita distribuem alimentos para pessoas em situação de rua há quanto tempo?
FREI EZEQUIEL – Eu já estou há dez anos como membro ativo da comunidade no serviço aos pobres, nossa fraternidade ao todo faz esse trabalho há 22 anos, somente aqui em Aracaju já são 12 anos servindo aos mais pobres.
SÓ SERGIPE – Quais os dias da distribuição de alimentos e em que locais de Aracaju?
FREI EZEQUIEL – Distribuímos todas as sextas-feiras, saindo às 19 horas de Nossa Casa de missão localizada na rua porto da Folha, 566, bairro Getúlio Vargas. Percorremos o Ceasa, centro até o Banco Banese e parte do Siqueira. Durante a semana servimos cotidianamente a todos aqueles que recorrem à nossa casa. Com café da manhã, almoço e banho.
SÓ SERGIPE – O senhor pode informar a quantidade de alimentos que são distribuídos? Qual a meta?
FREI EZEQUIEL – Variam de 10 a 20 pessoas diariamente. Já nas sextas-feiras entre 80 a 100 refeições. Na nossa meta não visamos quantidade, mas sim qualidade. Pois a matemática de Jesus é diferente da nossa. Ele deixa 99 ovelhas e vai atrás daquela desgarrada. Usamos a mesma lógica na qual há mais alegria por um pecador que se converte, do que por 99 justos que não precisam de conversão.
SÓ SERGIPE – Quantas pessoas integram a Fraternita Cristo Rei? São todos frades ou existem leigos também?
FREI EZEQUIEL – Esse ano somos três frades, um voluntario (leigo), dois acolhidos em ressocialização; ou seja, terminaram o tratamento de dependência química e agora trabalham e vivem conosco.
SÓ SERGIPE – A Fraternida Cristo Rei é uma das portas de entrada para homens e mulheres que desejam ingressar no celibato?
FREI EZEQUIEL – Sim, somos uma Fraternidade católica, plurivocacional, formada por consagrados, sacerdotes e leigos nos seus mais variados rostos e idades. Ou seja, há espaço para todos.
SÓ SERGIPE – Como as pessoas podem ajudar a Fraternida Cristo Rei? Doando alimentos ou algum valor em dinheiro?
FREI EZEQUIEL – Podem ajudar através de doações de alimentos, roupas em condição de uso, financeiramente via PIX: financeiro.cristorei@ocaminho.org . Podem visitar para conhecer, doar seu tempo no preparo dos alimentos, e qualquer dúvida entrem em contato conosco pelo WhatsApp (79) 9 98847-9920/(79) 3019-3108. Podem solicitar qualquer um dos frades.
SÓ SERGIPE – O apoio da população à Fraternida Cristo Rei é significativo ou precisa que mais pessoas se somem à essa causa?
FREI EZEQUIEL – Responderei com uma passagem bíblica. “Disse, então, aos seus discípulos: “A messe é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua messe”.” (Mt 9, 37-38). Ajuda sempre é bem-vinda.
SÓ SERGIPE – Este ano, a Campanha da Fraternidade volta a combater a fome, após 38 anos. A situação no Brasil ficou mais grave nestes últimos quatro anos?
FREI EZEQUIEL – A realidade da pobreza sempre existiu, historicamente Jesus disse, há cerca de 2000 anos atrás: “Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me tereis” (Jo 12, 8). Esse agravante tem aumentado não só no Brasil, mas em todo o mundo. São João Paulo II disse uma vez: “Os mecanismos materialistas produzem, em nível internacional, ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres.
SÓ SERGIPE – Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional mostram que mais de 33 milhões de pessoas estão em situação de fome no país. O senhor, que acompanha o dia a dia dessas pessoas em Aracaju, tem ideia de quantas passam fome aqui na capital?
FREI EZEQUIEL – Acompanhamos o dia-a-dia daqueles que assistimos em nossas Fraternitas, onde auxiliamos na medida de nossas possibilidades de recursos e mão de obra. Em Aracaju não se tem uma estimativa oficial, encontramos a nível estadual na qual Sergipe e Pará são os dois estados brasileiros em que 30% de sua população está passando fome, e ambos ocupam a quarta posição nacional no ranking de maior percentual da população com fome.
Deve-se ressaltar que em Sergipe 71,1% dos domicílios avaliados tinham alguma situação de insegurança alimentar, atingindo um contingente de 1,663 milhão de moradores. Em 30,0% dos domicílios sergipanos havia fome, correspondendo a 702 mil moradores. A fome prevalecia em 76,5% dos domicílios em cujo rendimento domiciliar per capita era de até meio salário mínimo e em 35,3% daqueles com rendimento domiciliar per capita de mais de 1/2 a 1 salário mínimo. (Relatório lançado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional [Rede Penssan] em 14/09/2022).
SÓ SERGIPE – Como o senhor entende que deva ser o papel da população e dos governos, em todas as suas esferas (municipal, estadual e federal), no combate à fome e a outras mazelas?
FREI EZEQUIEL – Em minha opinião, esse papel deve ser assumido por mim e por você, ou seja, por cada um de nós, independente de cargo ou posição ocupada. A caridade é para todos e não tem precedentes. E ao ver o nosso exemplo que se juntem a nós! Visto que, “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. (Mt 22, 21) Cada um ajude como cabe e lhe permitindo não visando o próprio bem-estar, mas sim o bem comum. “É maior felicidade dar que receber!”. (At20, 35)
SÓ SERGIPE – O Brasil é um país com graves desigualdades. O senhor tem esperança de que um dia essas desigualdades diminuam sensivelmente?
FREI EZEQUIEL – A fé é o fundamento da esperança, acerca das realidades que ainda não se vê. Nossa esperança deve estar ancorada na certeza das palavras de Jesus, pois ele nos ordenou: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6, 37). E assim juntos sonhemos na construção dessa civilização do amor ainda nessa terra.
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