Cotidiano

Fronteira entre o conservador e o negacionista: a resposta

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Por Valtênio Paes de Oliveira (*)

 

Numa reflexão no site Só Sergipe, afirmamos que a reação de Donald Tramp à sua condenação era uma ameaça à democracia. Em contraponto, um excelente douto estudioso, num grupo de “zap”, produziu uma reflexão que me empolgou para o debate no campo das ideias. De pronto, devolvi com a pergunta: qual a fronteira entre o conservador e negacionista?

Nesse grupo, um terceiro, se apresenta tangenciando para o embate “esquerda x direita”. De bate  pronto, respondi com outro texto, aqui publicado, em 2018: Da direita e esquerda ao individualismo e intolerância no Brasil. Na sequência, assumi o compromisso de apresentar resposta.

Eis!

É verdade que tudo pode aparecer no argumento dependendo do autor, porém convenha-se que tudo ficaria limpo e fácil se houvesse honestidade intelectiva fundada numa coerência argumentativa entre teoria e prática. Artur Schopenhauer disse na obra a “Arte de argumentar’ que uma das estratégias é “confundir a argumentação”. É o que o negacionista faz, fugir da verdade. Nos dias atuais, esta ideia está se enfraquecendo. Conservadores, progressistas, negacionistas usam o discurso conforme o interesse pessoal, principalmente no plano político.

Nada mais progressista do que conservadores políticos reivindicando para si direitos trabalhistas, políticos, religiosos e sociais. Porém quando chegam ao poder na família, no sindicato, no trabalho, na gestão pública ou particular, pedem fim dos poderes constitucionais a exemplo de Tramp e outros. Bem que deveriam ter honestidade intelectiva no uso do verbo, praticando o respectivo discurso. Melhor ainda, deveriam renunciar aos direitos conquistados com suor e sangue nas lutas, guerras e sofrimentos de milhões de pessoas desde a Revolução Francesa.

Conservador coerente deveria rejeitar todas as conquistas sociais e políticas conquistadas pelos outros. Ao contrário, aceita e festeja de bom grado. Uma fronteira visível está na semelhança quando ambos acatam tudo que não lhes beneficia, rejeitando a construção de mudanças pela via da verdade científica. Não deveriam aceitar por conveniência, mas por coerência.  Negacionista, conservador e progressista, todos, coerentes na prática do discurso são minorias na sociedade política.

Triste, porque um discurso incoerente pode enganar terceiros e falsear a verdade interior tornando-se desleal com os outros e até consigo mesmo.  Que não seja simplesmente pelo poder, mas sim, pelo desejo da busca da verdade e do saber.  Retidão pedagógica e, portanto, educativa, é a coerência argumentativa para se evitar o caos entre a verdade e a mentira, tão presente nos dias atuais.

Por outro lado, já tinha escrito aqui sobre o prolixo, chamando de chato. Assim, objetivamente exemplifico aproveitando o mês de junho no nordeste brasileiro: o conservador   dirá: festa de São João. O progressista dirá festa junina em respeito a todos os credos religiosos desvinculando de “santos”. O negacionista dirá o que melhor lhe aprouver negando princípios de verdade cultural ou científica. Assim, a fronteira entre o negacionista e conservador está na utilização dos fundamentos da cultura e da verdade. O primeiro segue literal e maquiavelicamente seus interesses políticos; o segundo atém-se à verdade cultural passada rejeitando mudanças. Para uma pergunta incisiva, resposta incisiva? Pode-se alongar o discurso? Pode-se chegar ao ponto central do diálogo com objetividade após construir o argumento? Pode-se construir devaneios? Pode-se pôr ordem no caos?  Ao conservador, como obter novas conquistas no saber, se não aceita mudanças?

Alguns discursos estão pobres porque vivem de requentar ideias vencidas pela história. Para engrandecer o discurso é preciso de argumentos novos com sustentáculos. Requentar é falacioso quando mente, como o negacionismo.  Conservar, escondendo-se das verdades evidenciadas, trava o progresso. Eis outra fronteira e com encruzilhada: a linha tênue entre mentira e verdade aprisionando as evidências sociais e científicas.

Postura negacionista contraria o saber, a ciência e as mudanças. Postura conservadora apega-se ao saber a ciência desde que seja beneficiário. Ambos buscam apoio de inocentes para se encontrarem no poder e pulverizarem o progressista.  Mais uma fronteira!

 

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Valtenio Paes de Oliveira

(*) Professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada-Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.

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