O médico geriatra, Antônio Cláudio Neves, diz que o Ministério da Saúde deveria atuar mais em outras campanhas, e não somente na do sarampo, pois a saúde do brasileiro vai muito além disso. Ele considera a campanha do sarampo importante, mas diz que no Brasil pessoas em idade economicamente ativa e crianças morrem nas filas dos hospitais, nas filas de cirurgia sem que nenhuma providência seja tomada. Ele faz um alerta sobre o que há por trás da falta de interesse, tanto do governo, como da mídia, para outros problemas sérios, que, na opinião dele, caem no desprezo. O geriatra levanta dúvida sobre as licitações feitas no país, que na visão dele, não são transparentes e questiona até a necessidade da compra de tantas vacinas.
SÓ SERGIPE – O senhor defende que o Ministério da Saúde, com o apoio da mídia, faça diversas campanhas para alertar a população, e não só a de sarampo que no país já matou 13 pessoas. Por quê?
ANTONIO CLÁUDIO NEVES – Afinal, o que é prioridade na saúde do brasileiro Realmente? Estamos assistindo com frequência, no dia a dia, à rede de televisão de grande audiência, falar sobre a importância da vacinação. Bom fazer isso. Mas notamos um desprezo por demais temas relacionados à saúde e uma supervalorização da vacina, que é algo específico, mas que atende um segmento da indústria que as vende para o Governo Federal. Não sabemos por quanto, não sabemos como são as licitações, não se compara com outros países e qual a real necessidade de compra. E quanto pode estar se perdendo pela não eficácia das vacinações nos municípios brasileiros.
SS – As perdas não se referem somente a vacina contra o sarampo, não é. Tivemos campanha para imunização do HPV.
ACN – Houve uma campanha intensa para se vacinar as meninas, depois se estendeu para os homens. Por que tamanha campanha, mas isso não é mais importante para a saúde pública do brasileiro. Sabemos que tem coisas mais importantes: diversas crianças morrem a cada dia, por falta de um simples antibióticos na rede pública, por falta de atendimento. E por que, minutos valiosos das grandes redes de televisão são destinados somente às vacinas? Será que atende o interesse da população brasileira ou o da indústria da vacina?
SS – Este questionamento do senhor é muito sério…
ACN – Sim e merece reflexão. É importante que as TVs também façam campanha, com relação à queda de idosos, ao número de idosos internados por falta de prevenção, ocupando por longo tempo os leitos dos hospitais públicos, que poderiam estar servindo a outro cidadão se houvesse uma prevenção. Temos problemas com pessoas esperando nas filas de cirurgias, dentre elas as ortopédicas. Por que as reportagens das TVs não vão nesse sentido e as emissoras só falam das vacinas?
SS – Que campanhas seriam relevantes?
ACN – Temos que lembrar a questão da obesidade no país que leva à morte diversos trabalhadores em idade útil, de jovens, etc, que muitas vezes enfartam precocemente. De cânceres que crescem em pessoas abaixo dos 50 anos, cânceres intestinais por causa de erros alimentares, dietéticos. Nós podemos fazer uma campanha muito grande, porque a TV tem que educar a questão comportamental do brasileiro de forma mais eficaz. Orientação na prevenção de acidentes com motos, orientando os motociclistas a não ultrapassarem pela direita, que o motoristas fique atento aos motociclistas que vêm pela direita e a maioria dos carros têm um ponto cego. Você tem mortes crescentes em acidentes de crianças, de adultos; a questão da droga, doenças sexualmente transmissíveis. A hepatite precisa de campanha e ninguém fala, e vemos um menosprezo sobre as DSTs que têm crescido no país.
SS –Seria interessante uma campanha para alertar as pessoas sobre a depressão, que leva muitos ao suicídio?
ACN – Exatamente. A depressão tem crescido, assim como o suicídio, mas ninguém fala nada e as pessoas continuam morrendo. Ou seja, esse é um dos vários temas relevantes de saúde pública que merecem uma atenção grande e isso não existe. Eu digo que não precisa dar uma prioridade somente à questão da vacina, porque a saúde do brasileiro não é somente isso. Ela requer atenção em diversos pontos que podem ser abordados em horários nobres da televisão, para orientar a população brasileira, bem como os gestores públicos municipais, estaduais sobre temas importantes que possam modificar a política pública de saúde do País.
SS – O senhor é enfático quando cita as campanhas de vacinação….
ACN – Pois é, e os valores gastos com essas vacinas. Precisamos de que o governo tenha transparência para sabermos como se gasta, se estão comprando em demasia, se tem estoque sobrando. Não vejo reportagens nas TVs procurando saber o quantitativo de compras. Precisamos de mais transparência para o bem da economia do país.