Criada na década de 80, a Orquestra Sinfônica de Sergipe (Orsse) começou uma revolução nos últimos 16 anos com a chegada do maestro paulista Guilherme Mannis, que aceitou um convite do então secretário estadual de Cultura, José Carlos Texeira, para dirigi-la. Na época, Mannis tinha apenas 26 anos e chegou com o propósito de fazer uma revolução na Orsse. E a fez com maestria. Tanto que no dia 16 de novembro de 2008, a orquestra fez a sua primeira apresentação fora de Sergipe – em São Paulo, no Teatro Popular do Sesi. Naquela época, o então governador Marcelo Déda chamou a Orsse de “uma das joias da coroa de Sergipe”.
Para 2023, Guilherme Mannis, diretor artístico e regente titular da Orsse, quer retomar esse projeto antigo de levar a orquestra para se apresentar em outros Estados brasileiros, “para levarmos um pouco da boa cultura que é produzida aqui para outros locais”. E completa: “Pensamos não só em nossos concertos aqui na capital e no interior do Estado, mas também fazermos algumas incursões fora do estado, com algumas parcerias sobretudo com a Orquestra Sinfônica da Bahia, que hoje tem sido destaque na nossa região. Nós temos até um projeto de fazermos um concerto conjunto com as duas orquestras”.
Mas para o próximo ano, é preciso, também, que o novo governador Fábio Mitidieri seja uma espécie de spalla da Orsse. “Esperamos que a orquestra consiga recompor os seus quadros, pois ela precisa de mais violinos, mais violas, mais instrumentistas. O nosso quadro é ainda pequeno e esperamos que ela tenha um corpo de músicos maior e com salários semelhantes aos das orquestras irmãs dela no Brasil”, disse Mannis. Spalla (ombro em italiano) é o nome dado ao primeiro violino de uma orquestra, que é o braço direito do maestro, mas que está sentado na primeira cadeira à sua esquerda.
Atualmente, a Orsse tem 53 músicos, mas o ideal é que tenha 70, “para executar com tranquilidade a maioria dos repertórios e não termos agregados a cada concerto e conseguirmos oferecer espetáculos cada vez mais impressionantes”, ressaltou.
Este ano, a Orsse fez uma temporada muito diversificada, com concertos no Teatro Tobias Barreto e com o projeto “Sons da Catedral”, com a realização de concertos em diversos templos de Aracaju. “A soma é muito positiva e vamos terminar este ano com a apresentação da Missa da Coroação de Mozart e a Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorák. Então é muito positiva e creio que a orquestra vem cumprindo o seu papel com bastante êxito”, garantiu Mannis.
Guilherme Mannis é um cidadão de 42 anos, formado em regência, pós-graduado e doutor em música pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), foi aluno do maestro Isaac Karabtchevsky, e ao longo destes anos na Orsse foi convidado para reger várias orquestras no Brasil e também no exterior. “Tenho regido com frequência na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Nosso trabalho é feito com muita qualidade, muito afinco, está ligado a diversos outros trabalhos importantes. Construí uma carreira interessante e sou muito grato a Sergipe”, disse.
Esta semana, Guilherme Mannis, que tem exatos 16 anos e quatro meses com a batuta principal da Orsse, conversou com o Só Sergipe.
Confira.
SÓ SERGIPE – O senhor iniciou seu trabalho na Orquestra Sinfônica de Sergipe em agosto de 2006. Como está a orquestra hoje com o seu trabalho e de sua equipe de músicos?
GUILHERME MANNIS – Acho que nosso principal ganho foi ter cultivado um público para música clássica aqui no Estado, porque notadamente antes dessa nova fase da Orquestra Sinfônica não havia um público regular para assistir às obras concertistas. Então, aos pouquinhos nós fomos cultivando esse público, oferecendo para ele repertórios variados, que vão desde a música barroca até a música contemporânea, muitas das vezes passando também pela música popular e pela música regional. Aos poucos tivemos um notável ganho de qualidade do grupo ao longo de todos esses anos e uma consolidação nacional.
Então, hoje, nacionalmente, o grupo é visto como um dos mais importantes do Nordeste e, por conseguinte, do Brasil. Creio que a sensação é de alegria do dever cumprido e de olharmos para o futuro com grandes possibilidades para a orquestra. Uma possibilidade que ela consiga construir cada vez mais públicos tanto em Aracaju quanto no interior. Existe a possibilidade de que ela faça novas gravações de músicas brasileiras, pois é muito carente ainda em registros, em interpretações, e há possibilidade também de a gente levar a cultura que é produzida no nosso estado para outros estados, tanto por meio de gravações, como por meio de turnês e concertos em outras localidades.
SÓ SERGIPE – O mundo foi abalado por dois anos de pandemia e a Orsse gravou muitos vídeos naquela ocasião. Esse período foi satisfatório, vocês chegaram a mais pessoas?
GUILHERME MANNIS – A pandemia foi um período muito difícil para todos nós, pois estávamos afastados dos palcos e isso foi complicado. Mas acho que as soluções dadas por nós e todos os músicos foram no sentido de registrar muito da produção que a orquestra já desenvolvia aqui e difundir isso tanto no estado de Sergipe quanto nacionalmente. A Orsse fez muitas e muitas lives, produziu muitos e muitos vídeos, alguns, inclusive de peças sergipanas que estavam esquecidas, como peças de Frei José de Santa Cecília, nosso principal compositor colonial que ainda é muito, pouco é muito pouco conhecido.
Além do que eu consegui perceber o envolvimento de todo o corpo orquestral nesses vídeos. Então, neste primeiro momento nós podíamos fazer gravação apenas com pouco músicos, e uma orquestra naturalmente era uma aglomeração e com esses poucos músicos gravando nós gravamos peças de música de Câmara que nós normalmente nunca interpretaríamos nas temporadas normais da nossa orquestra. Acho que foi um ganho para todos e, sem dúvida nenhuma, uma visibilidade local e nacional crescente.
SÓ SERGIPE – Esses vídeos gravados deram visibilidade internacional à Orsse? O senhor teve esse feedback?
GUILHERME MANNIS – Sim, alguns feedbacks muito legais, muito importantes sobretudo da América Latina. Fomos vistos no Peru, México, Colômbia. O mais importante que eu sempre digo é que a Orsse tem que ter a cara do nosso Estado. Ela tem que ter a produção local, produção dos compositores de Sergipe, a interlocução com gosto popular local, com a música regional. Isso, sem dúvida nenhuma, cativa a todos os públicos sejam eles nacionais ou internacionais.
SÓ SERGIPE – Como a Orsse está fechando o ano de 2022?
GUILHERME MANNIS – O ano de 2022 consistiu em uma temporada muito diversificada com concertos tanto no Teatro Tobias Barreto quanto no âmbito de uma série especial que nós temos chamado de “Sons da Catedral”, em que a gente realiza concertos em diversos templos de Aracaju. Terminamos com a interpretação de mais de 80 obras distintas, algumas estreias, uns quatro concertos com crossover com a música popular. Tivemos concertos especiais, homenagens especiais. A soma é muito positiva e vamos terminar este ano com a apresentação da Missa da Coroação, de Mozart, e a Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorák. Então é muito positiva, e creio que a orquestra vem cumprindo o seu papel com bastante êxito.
SÓ SERGIPE – Há sempre algo que precisa melhorar. Na sua avaliação, o que precisa melhorar na Orsse?
GUILHERME MANNIS – Bom, nós esperamos que a orquestra consiga recompor os seus quadros, pois ela precisa de mais violinos, mais violas, mais instrumentistas. O nosso quadro é ainda pequeno e esperamos que ela tenha um corpo de músicos maior e com salários semelhantes aos das orquestras irmãs dela no Brasil. Esperamos salários mais competitivos para que consigamos atrair tanto profissionais sergipanos que foram para outras orquestras no Brasil quanto novos profissionais de excelente nível.
SÓ SERGIPE – Música é dedicação exclusiva, não é?
GUILHERME MANNIS – Uma vez que eles apenas têm esse ofício, realmente precisam ter a segurança funcional para desempenhar bem suas atividades.
SÓ SERGIPE – A Orsse é composta por quantos músicos atualmente?
GUILHERME MANNIS – Temos 53 músicos.
SÓ SERGIPE – Existe um número ideal de músicos numa orquestra?
GUILHERME MANNIS – Nós precisaríamos que a orquestra tivesse em torno de 70 músicos para executar com tranquilidade a maioria dos repertórios para não termos agregados a cada concerto e conseguíssemos oferecer espetáculos cada vez mais impressionantes.
SÓ SERGIPE – O senhor já tem elaborado um calendário de apresentações para 2023?
GUILHERME MANNIS – Sim, em 2023, pensamos não só em nossos concertos aqui na capital e no interior do Estado, mas também fazermos algumas incursões fora do estado, com algumas parcerias sobretudo com a Orquestra Sinfônica da Bahia, que hoje tem sido destaque na nossa região. Nós temos até um projeto de fazermos um concerto conjunto com as duas orquestras e também retomar algo que a nossa orquestra fez muito bem, entre os anos 2009 e 2010, que foi a realização de concertos em outros Estados, para levarmos um pouco da boa cultura que é produzida aqui para outros locais.
SÓ SERGIPE – O senhor falou frei José de Santa Cecília que é pouco conhecido aqui.
GUILHERME MANNIS – Ele é o compositor do Hino de Sergipe e é nosso grande talento. Tem uma musicóloga chamada Thaís Rabello que é professora do Codap da UFS, que tem feito um trabalho muito consistente com a recuperação de partituras de composições do frei José. Ela tem garimpado peças muito importantes de um compositor sergipano chamado Ceciliano Avelino, que foi regente da Banda do Corpo de Bombeiros por muitos e muitos anos. E aí nós temos valsas, polcas, peças operísticas que são executadas em cinemas mudos e também peças sacras. Aos pouquinhos vamos revivendo essas peças, pois o trabalho é muito grande: ter que juntar partituras manuscritas que, às vezes, não estão no melhor estado de conservação e colocar isso em arquivos digitais. A partir dessas bases, a seguir, realizamos arranjos sinfônicos. É uma forma de reconstruirmos a memória musical do Estado que por vezes é muito dispersa.
SÓ SERGIPE – Esses arranjos são feitos pelo senhor e sua equipe?
GUILHERME MANNIS – Exatamente. Inclusive, na pandemia nós tivemos tempo de fazer esse arranjos, produzir esse material que vai ficar aí para sempre no nosso arquivo.
SÓ SERGIPE – A Orsse tem CDs gravados?
GUILHERME MANNIS – Tem CD que foi gravado no cinquentenário de Villa Lobos. É outro projeto que a gente espera que continue ao longo dos anos.
SÓ SERGIPE – Agora falando um pouco sobre o senhor. O que o trouxe a Sergipe?
GUILHERME MANNIS – Eu vim para Sergipe a convite do então secretário de Cultura, José Carlos Teixeira, que estava sempre em São Paulo acompanhando as principais produções nacionais e pediu a indicação de um jovem maestro para esse trabalho. Aos 26 anos aceitei o convite do senhor José Carlos e foram desafios muito grandes com a Orsse.
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