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Idoso é um velho que deu certo

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Luiz Thadeu (*)

Certamente você caro leitor, amiga leitora, acompanhou pelo noticiário o imbróglio em que três jovens de Bauru, São Paulo, do curso de Biomedicina, escreveram nas redes sociais, de forma pejorativa, sobre uma colega de turma de 44 anos. A forma como as estudantes trataram sua colega diz muito sobre como a sociedade enxerga o envelhecimento.

Patrícia Linares estudante da Unisagrado, em Bauru, foi hostilizada por três colegas do curso por conta de sua idade, em um vídeo que viralizou.

“Com 44 anos, ela já era pra estar aposentada”, debocha uma das estudantes no vídeo, enquanto outras sorriem e disparam outros comentários preconceituosos.

Antes de ingressar na faculdade, Patrícia Linares já temia receber críticas dos novos colegas.

“No intervalo da aula, algumas meninas que não conheço me abordaram porque queriam falar sobre um vídeo sobre mim”, relembra Patrícia, que, ao saber do teor do story, preferiu não ver. “Eu disse que não queria ver o vídeo, mas acabei vendo. Estava entrando no laboratório. Fiquei muito abalada, me pegou de surpresa”. Mas Patrícia não deixou se abater. Ela diz que hoje vê a posição em que esteve, de alvo de preconceito, é uma oportunidade de evolução, não só para ela, mas para outras pessoas que vivem na mesma situação.

“Ainda não digeri as palavras que elas disseram, porque nem tive muito tempo para fazer isso desde que tudo explodiu. Tenho recebido relatos do Brasil inteiro, de pais e mães de família de 60 anos e que são metralhados em sala de aula e dentro da própria família para que desistam dos seus sonhos”. A estudante ainda diz que sua família deu apoio para ela, até mesmo antes de iniciar o curso. “Sou uma pessoa que tem uma base familiar muito grande”, afirmou.

Transcrevi os diálogos acima para mostrar o pensamento dessas três mentecaptas, que por serem “jovens”, se acham no direito de zombar dos mais velhos.

Quanta ignorância dessas moças, que estavam no ambiente universitário exatamente para aprenderem, e por pura ignorância, exalaram todo o seu preconceito e despreparo.

O idoso é antes de tudo um jovem que deu certo. Um ser humano que sobreviveu a uma série de intempéries para chegar aonde chegou. Uma curiosidade: desde quando alguém com 44 anos é velho hoje em dia? Não é apenas preconceito; é ignorância pura e simples dessas moças.

Só para lembrar, nossos maiores artistas são octogenários: Roberto Carlos, Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Gilberto Gil. Já Laura Cardoso, Lima Duarte, Silvio Santos, Fernanda Montenegro, Tony Tornado estão com mais de 90 anos. E, o mais importante, todos produzindo. Lembrando ainda, que o presidente da República tem 77 anos.

Certa vez perguntaram a Nelson Rodrigues que conselho daria aos jovens, e ele respondeu: “Envelheçam”.

Essa três ignóbeis têm muito a aprender antes de envelhecer, que é privilégio reservado a poucos. A grande maioria fica pelo caminho.

“Esses moços, pobres moços, ah! se soubessem o que eu sei…”, cantou Lupicínio Rodrigues. A maioria dos jovens de hoje tem algum conhecimento, quase nenhuma sabedoria.

Diferentemente do que ocorreu com Patrícia Linares – que tem idade de ser minha filha -, aos 64 anos, estou cursando Jornalismo, e tenho ótima relação com os colegas mais jovens. Alguns com idade de serem netos. Todos sabem que ali há trocas.

A velhofobia está se disseminando cada vez mais pelas redes sociais com um discurso de ódio, intolerância e preconceito por meio de piadas e brincadeiras de mau gosto. “Velho é ridículo, velho é teimoso, velho é um fardo, velho é inútil, descartável e incapaz.”

Lutar contra a velhofobia é lutar por nossa velhice e, principalmente, lutar por uma sociedade com mais saúde, dignidade e autonomia para os nossos filhos e netos. E… também para velhos do amanhã.

Estou feliz como estou envelhecendo. Grato a Deus pela caminhada; ainda com sede e fome de novas experiências e conhecimentos, procurando fazer da passagem do tempo um aliado.

 

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(*) Engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra.

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Luiz Thadeu Nunes

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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