Por Luiz Thadeu Nunes e Silva(*)
Na semana passada ocupei o nobre espaço deste jornal para falar do escritor techo-francês Milan Kundera, morto aos 94 anos em Paris, onde residia desde 1975. Kundera é autor de “A insustentável leveza do ser”, livro que impactou-me, ao lê-lo em 1986, pela primeira vez.
No último domingo, 16/07, também em Paris, morreu aos 76 anos, a atriz e cantora Jane Birkin, sinônimo de elegância e beleza.
Musa absoluta da minha adolescência, Jane Birkin povoou minha imaginação de menino, na puberdade, quando descobria o sexo. Ao ouvir “Je t’Aime Moi Non Plus”, que simulava uma relação sexual, com gemidos e sussurros, era a trilha sonora para os ouvidos de um garoto com os hormônios em ebulição.
Sou da época em que via nos varais: calçolas, corpetes e anáguas, e ficava imaginando os enchimentos. Tempos de descobertas. Época em que a imaginação me levava a desejar curvas e seios. Foi quando descobri as revistas de Carlos Zéfiro, em preto e branco; arte para aliviar a testosterona nas alturas.
A primeira vez que vi uma fotografia de Jane Birkin, foi nas páginas da revista Manchete, nos anos 60. Linda, no frescor da juventude; fiquei extasiado e excitado em saber que ela era a cantora de “Je t’Aime Moi Non Plus”.
Mesmo nascida em Londres, Jane era mais francesa do que inglesa, redefinindo o que é ser uma parisiense. Na juventude, o uso do jeans e da regata branca indicou a opção pela elegância natural. “Seus vestidos eram discretos, quase sempre em tons neutros, acentuando sua sensualidade lânguida, que contrastava com a visão fulminante de um par de olhos azuis”, descreveu um crítico de moda.
Filha de uma atriz e de um tenente da marinha britânica, Birkin nasceu em Marylebone, na capital inglesa. Aos 17 anos, conheceu o compositor John Barry, com quem se casou, em 1965, e teve sua primeira filha, Kate. Ela ainda teve duas filhas: Charlotte Gainsbourg e Lou Doillon.
O casamento com o autor da trilha de “James Bond” duraria apenas três anos. De volta à casa dos pais, Birkin fez testes para o cinema e iniciou a carreira de atriz no filme “Blow-Up: Depois daquele Beijo”, do italiano Michelangelo Antonioni, lançado em 1966.
No set de filmagens de “Slogan”, romance dirigido por Pierre Grimblat, conheceu o homem que mudaria sua vida: o cantor e compositor Serge Gainsbourg, que despontava como gênio da “chanson française”.
Oficializado em 1968, o casamento foi, desde a origem, registrado pela indústria do audiovisual. Homem de muitas musas, o cantor resolveu gravar, um ano depois, o disco “Jane Birkin & Serge Gainsbourg”, com participação de sua mulher.
Obra-prima da história da música, o álbum provocou um ato precoce da globalização. Num escândalo mundial, a faixa de abertura, “Je t’Aime Moi Non Plus”, que simulava uma relação sexual, com gemidos e sussurros da dupla, foi censurada em diversos países, inclusive no Brasil.
Na música, a cantora lançou 14 álbuns, entre eles “Di Doo Dah”, de 1973, “Lost Song”, de 1987 e “Fiction”, de 2006.
Em 1984, Birkin mudaria de acessório, após encontrar Jean-Louis Dumas, diretor da grife Hermès, num voo de Paris a Londres. Dumas decidiu batizar um novo modelo de bolsa com o sobrenome da artista. Prática e flexível, a bolsa Birkin se tornou um dos acessórios mais caros e exclusivos do mundo. Uma curiosidade: Birkin Himalaya, produzida em 2014 com pele de crocodilo mate, detalhes incrustados com 205 diamantes e fechos feitos em ouro de 18 quilates, foi leiloada por € 340 mil, ou mais de R$ 1,8 milhão.
Ao sair de cena, no domingo passado, Jane Birkin voou para as estrelas, que sempre foram suas companheiras. O mundo perde um pouco de sua beleza e elegância.
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