Por Victor Yuri Oliveira da Silva (*)
A jornada de um aprendiz maçom é como uma busca interior, um caminho cheio de símbolos que nos ensinam lições valiosas. Tudo começa na Câmara de Reflexões, um lugar que nos convida a olhar para dentro de nós mesmos. Lá, dentro da mãe terra, encontramos símbolos que nos lembram como a vida é passageira e como é importante viver com propósito, integridade e honra. É um momento de reflexão que nos prepara para o que está por vir.
Como aprendizes, somos como pedras brutas, representando nosso estado inicial. Somos imperfeitos, mas cheios de potencial. Com esforço e dedicação, podemos lapidar essa pedra bruta e transformá-la em uma pedra polida, símbolo da maestria alcançada após um processo de aprimoramento moral e espiritual.
Nessa transformação, usamos ferramentas simbólicas: o maço e o cinzel. O maço, uma espécie de martelo, representa a força de vontade e o esforço para nos aperfeiçoarmos. Já o cinzel simboliza a precisão com que devemos trabalhar em nós mesmos, identificando e aprimorando nossos pontos fracos.
Embora a jornada de cada aprendiz seja única, ela também é compartilhada com outros amados irmãos que trilham o mesmo caminho. É um aprendizado constante, um crescimento e uma transformação contínuos. Através da reflexão, do esforço para superar nossos vícios e da busca por conhecimento, nos tornamos pessoas melhores, contribuindo para um mundo mais justo e fraterno.
Nesse caminho de busca, enfrentamos desafios e provas que testam nossa força, coragem e fé. Cada obstáculo superado, cada vício vencido, nos aproxima da pedra polida, da melhor versão de nós mesmos.
Nigredo: É como deixar para trás o nosso antigo eu, desconstruindo crenças e valores limitantes para que o novo possa surgir.
Albedo: Simboliza a purificação, o autoconhecimento e a preparação para a próxima fase.
Rubedo: Representa a iluminação, a realização, a união dos opostos e a conquista da maestria.
Essas etapas fazem parte do nosso caminho em busca da grande obra, da pedra filosofal. A transformação do chumbo em ouro, muitas vezes interpretada literalmente, é na verdade uma alegoria para nossa transformação interior, como diz o apóstolo Paulo: “somos transformados pela renovação da nossa mente” (Romanos 12:2).
O tarô também nos oferece sabedoria nessa jornada. Cada carta é um arquétipo que nos ajuda a enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que encontramos.
Por exemplo, O Mago, a primeira carta do tarô, simboliza o início da jornada. Assim como o Mago tem todas as ferramentas necessárias em sua mesa, nós aprendizes também temos as ferramentas simbólicas para nossa transformação: o maço e o cinzel.
A carta da Morte, apesar do nome assustador, representa uma transformação profunda, um renascimento. Ela nos lembra que, para alcançarmos a Pedra Polida, precisamos deixar morrer a Pedra Bruta que existe em nós.
A Temperança representa o equilíbrio e a moderação, qualidades essenciais para qualquer aprendiz maçom. Ela nos lembra da importância de trabalhar de forma constante e equilibrada em nossa transformação, sem pressa, mas sem pausa.
A carta O Mundo representa a realização e a completude, o fim de uma jornada e o início de outra. Ele simboliza a Pedra Polida, a nossa transformação e o trabalho realizado em nós mesmos.
O tarô se torna um guia em nossa jornada, oferecendo sabedoria e orientação enquanto nos transformamos de Pedra Bruta em Pedra Polida. Cada carta da “Jornada do Herói” reflete nosso caminho de autoconhecimento.
A jornada do aprendiz maçom, com sua ênfase no simbolismo e na autotransformação, tem sido interpretada de diversas maneiras ao longo da história. Alguns estudiosos, como René Guénon e Manly P. Hall, veem a maçonaria como uma tradição que preserva conhecimentos antigos e universais. Para eles, os símbolos maçônicos são chaves para desvendar mistérios espirituais e filosóficos, portais para dimensões ocultas e a linguagem secreta da natureza e do cosmos.
Outros autores, como Albert Pike e Carl Jung, reconhecem o simbolismo e o aspecto psicológico por trás dele. Eles acreditam que os símbolos e rituais são arquétipos que nos ajudam a explorar o inconsciente e a desenvolver nossa personalidade.
Há também aqueles que veem a maçonaria como uma instituição social e filantrópica, com foco na fraternidade, na ética e no serviço à comunidade. Eles destacam a importância dos valores maçônicos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Na minha visão, a maçonaria representa a busca pelo significado e propósito da vida. Os símbolos e rituais maçônicos, independentemente de sua interpretação específica, nos conectam com os conhecimentos da humanidade e nos levam a um caminho de conexão com algo maior que nós mesmos.
A Pedra Bruta, nesse contexto, representa não apenas nosso estado inicial, mas também a matéria prima primordial, o caos a partir do qual o universo se formou. O maço e o cinzel, instrumentos da Grande Obra alquímica, simbolizam as forças que moldam e transformam a realidade, criando ordem a partir do caos.
Em resumo, através do simbolismo, dos rituais e dos ensinamentos maçônicos, somos desafiados a enfrentar nossas imperfeições, desenvolver nossas virtudes e buscar sabedoria, sempre buscando nossa essência divina. A Pedra Bruta, o maço e o cinzel, a alquimia e o tarô são ferramentas simbólicas que nos ajudam a expandir nossa consciência. Cada desafio superado nos aproxima da Pedra Polida, da nossa melhor versão. É uma jornada que nos inspira a sermos melhores e a contribuir para um mundo mais justo e fraterno, um mundo de luz, harmonia e sabedoria.
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Bibliografia:
Guénon, René. O Simbolismo da Cruz.
Hall, Manly P. Os Ensinamentos Secretos de Todos os Tempos.
Pike, Albert. Moral e Dogma.
Jung, Carl G. O Homem e Seus Símbolos.
Campbell, Joseph. O Herói de Mil Faces.
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