Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Considero-o um dos maiores nomes do cinema, de todos os tempos, mesmo sem jamais ter sido agraciado com um Oscar, o que considero uma grande injustiça. Presente na maior parte dos filmes de Martin Scorsese, seu trabalho mais recente de grande repercussão foi “O Irlandês” (2019), contracenando com Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci, numa história de máfia ambientada nos anos 50.
Natural do Brooklyn, Nova Iorque (EUA), aos 13 de maio de 1939, descendente de família polonesa judaica, Harvey Keitel está com 89 anos em plena forma. Teve uma infância formada por muita turbulência social, o que o fez ser alistado nas Forças Armadas Norte-Americanas na juventude, lutando numa guerra no Líbano, como fuzileiro naval.
Cumprindo seu “dever” com a pátria, retorna aos EUA para se dedicar ao cinema, iniciando nos anos 60 com filmes sem muita expressão, normalmente na condição de coadjuvante, até ter destaque no filme “Taxi Driver” (1976). Em “Cães de Aluguel” (1992), maduro, com 53 anos, sua carreira se consolidou em definitivo, sendo escalado, normalmente para filmes de ação e até mesmo algumas comédias, como no hilário “Little Nicky, Um Diabo Diferente” (2000), com Adam Sandler.
Versátil e talentoso, Harvey Keitel voltou a protagonizar um filme em 2021, com “Lansky, a História da Máfia”, dirigido por Eytan Rockaway. Com 82 anos, ele vive o papel de um dos maiores contraventores norte-americanos, Meyer Lansky. Um descendente de judeu, nascido no Império Russo no dia 4 de julho de 1902, que migrou para os Estados Unidos em 1911, se instalando na cidade de Nova Iorque, criando um dos mais rentáveis “negócios” de jogo de azar e outras contravenções.
Controverso e carismático, ao lado do parceiro de muitos anos, o mafioso temperamental, violento e assassino Charles Lucky, Lansky ascendeu vertiginosamente, expandindo seu “talento” para Cuba, no tempo de Fulgêncio Batista, quando a ilha se transformou num dos lugares mais concorridos para a prática de jogos, com hotéis de luxo e apostas altíssimas, movimentando a economia do lugar como nunca. Tudo “legalizado” pelo governo.
Foi um dos grandes responsáveis pelo que é hoje a cidade de Las Vegas e, mesmo às voltas com conivência do governo norte-americano com seus crimes fiscais e com a contravenção, Lansky sempre esteve às voltas com as forças policiais, mesmo sabendo que boa parte dela era corrupta.
“Lansky, a História da Máfia” explora exatamente isso, sobretudo a história (nunca comprovada) de que o mafioso guardou por anos uma fortuna em torno de 300 milhões de dólares, presumidamente, escondidos em contas fantasmas, sabe Deus onde. Para tanto, entra em cena o escritor David Stone, brilhantemente interpretado por Sam Worthington. Escalado para escrever uma biografia de Lansky, este se afeiçoa a Stone, abrindo seu coração e contando detalhes de sua trajetória como gangster e também dos seus dramas pessoais (expulso de casa pelo pai) e familiares (com a esposa esquizofrênica e o filho mais velho com uma doença incurável, degenerativa, e que casou dolorosos problema de locomoção e limitações diversas).
Aliás, o filme deixa a entender que o destino de sua fortuna ilegal e cobiçada pelas autoridades norte-americanas dos anos 80, teria sido utilizada para o tratamento do filho, complexo e muito caro, garantindo-se, se não uma vida, pelo menos o menor desconforto possível, daí essa pegada humanista que se é atribuída ao velho bandido, de coração partido pela dele, o drama da mulher e a não aceitação do Estado de Israel, de Golda Meir, Primeira Ministra entre 1969 e 1974, como repatriado judeu.
Lansky morreu vítima de câncer de pulmão, em 1983. Entre as grandes lições que aprendeu na longa vida (81 anos), uma serve para qualquer pessoa e tempo e só isso já valeu a sua existência, mesmo com todos seus crimes, defeitos e pecados: “quando se perde dinheiro, você não perde nada; quando se perde a saúde, perde um pouco; quando você perde seu caráter, você perde tudo”.
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