Chanceler Osvaldo Aranha Foto: @Nações Unidas
Por Juliano César Souto (*)
Férias, para mim, são também tempo de alimentar a cabeça. É quando desacelero dos compromissos do dia a dia, mas não da curiosidade. Numa dessas pausas produtivas, hospedado no hotel The Yeatman, em Portugal — um desses lugares em que cada detalhe parece contar uma história —, me deparei com um livro curioso decorando o apartamento: “Brasil: A Segunda Guerra Mundial e a Construção do Brasil Moderno”, do historiador britânico Neill Lochery.
Me chamou atenção de imediato: o nome do autor soava anglo-saxônico demais para tratar com profundidade de um tema tão “nosso”. Peguei o livro, comecei a folhear… e só larguei depois da última página. O que parecia ser apenas uma escolha estética de decoração acabou me presenteando com uma das leituras mais instigantes que já fiz sobre a formação do Brasil moderno.
Por fim, Lochery, especialista em história contemporânea, já escreveu sobre Israel, Portugal e o Oriente Médio. Seu interesse pelo Brasil, registrado numa edição portuguesa (da Editorial Presença), mostra que nossa história — quando bem contada — ainda desperta atenção fora daqui. E com razão…
Neill mostra com detalhes o papel de Osvaldo Aranha, que, ao lado de Getúlio Vargas, protagonizou um dos movimentos mais ousados da nossa história: utilizar a Segunda Guerra Mundial como oportunidade para romper com a dependência da Velha República, modernizar o Estado e industrializar o país — mesmo que isso significasse manobrar entre gigantes em guerra.
Enquanto parte do Exército flertava com o modelo alemão, por vê-lo mais técnico, desenvolvimentista e menos colonialista, Getúlio e Aranha olharam para os EUA, que ofereciam mais que promessas: infraestrutura, financiamento, protagonismo internacional. Mas essa aliança não foi um ato de submissão — foi uma jogada pragmática. Em troca, o Brasil conquistou a Companhia Siderúrgica Nacional, bases aéreas estratégicas, e um novo papel no tabuleiro global.
Aranha aparece como o grande artífice dessa engenharia diplomática, alguém que enxergava além das urgências, que sabia negociar sem se curvar, que tinha a rara habilidade de unir pensamento geopolítico com visão de país. E talvez aí esteja o ponto central dessa reflexão: nos falta hoje um Osvaldo Aranha.
Ao terminar o livro, não consegui evitar o paralelo com o Brasil de hoje. A disputa agora não é entre Eixo e Aliados, mas entre China e Estados Unidos, numa nova guerra fria comercial e tecnológica. E mais uma vez, o Brasil se vê pressionado a escolher lados — ou, idealmente, a se posicionar com inteligência estratégica.
Nos últimos anos, essa oscilação ficou evidente: o governo Bolsonaro, especialmente no auge da influência de Trump, optou por um alinhamento ideológico com os EUA, com promessas de acordos, investimentos e protagonismo que pouco se concretizaram. Foi uma política externa de submissão, e não de barganha. Já no governo Lula, percebe-se um movimento mais pragmático, com aproximação à China, reaproximação com a Europa e fortalecimento do multilateralismo. É uma tentativa de reposicionar o Brasil como ator relevante, não como satélite.
A história se repete com novos atores: se no passado os militares de 64 retomaram a simpatia pelo modelo alemão e impulsionaram a vinda de indústrias e tecnologia, hoje enfrentamos o desafio de atrair investimentos estrangeiros sem abrir mão do projeto nacional — seja com a China, os EUA ou a Europa.
Ousei, de forma não acadêmica, mas com espírito propositivo, contribuir para o debate que tanto nos falta no Brasil: o de um projeto nacional de longo prazo. Um plano de nação que transcenda governos, ciclos eleitorais e ideologias, e que nos conduza à posição de destaque que merecemos no cenário global. Um novo pacto social, institucional e econômico — um verdadeiro Estado novíssimo, capaz de quebrar as amarras de meio século de estagnação e declínio.
A seguir, aponto caminhos que julgo essenciais para essa transformação:
Essas ideias não pretendem ser um plano fechado, mas sim um convite à construção coletiva de um projeto nacional moderno, ousado e alinhado com as demandas e possibilidades do século XXI.
A leitura de Lochery não é apenas um mergulho no passado. É um espelho. Um lembrete de que o Brasil já foi capaz de usar a geopolítica global a seu favor — com coragem, com projeto, com estratégia. E com gente do tamanho de Osvaldo Aranha.
O que falta hoje não é oportunidade. É articulação. É clareza de propósito. É a capacidade de enxergar o que o Brasil pode ser, não o que esperam que ele aceite ser. É por isso que repito: nos falta um Osvaldo Aranha. Não como figura decorativa na parede de um Itamaraty distante, mas como símbolo de uma diplomacia conectada ao povo e ao futuro.
Osvaldo Euclides de Souza Aranha (1894–1960) foi um dos mais influentes diplomatas e estadistas brasileiros do século XX. Natural de Alegrete (RS), formou-se em Direito e iniciou sua carreira política como intendente (prefeito) de sua cidade natal. Tornou-se figura central na Revolução de 1930 ao apoiar Getúlio Vargas na ascensão ao poder e, desde então, exerceu papéis-chave na construção do Brasil moderno.
Aranha foi ministro da Justiça, ministro das Relações Exteriores (1938–1944), embaixador do Brasil nos Estados Unidos e chefe da delegação brasileira na Organização das Nações Unidas (ONU). Seu papel mais célebre foi como presidente da Assembleia Geral da ONU, em 1947, quando liderou os debates e articulou os votos decisivos para a criação do Estado de Israel. Por esse gesto, é amplamente reconhecido e homenageado em Israel até hoje.
Seu legado combina habilidade diplomática, visão estratégica e compromisso com o desenvolvimento do Brasil como nação soberana e relevante no cenário internacional.
Dr. Renato Cantidiano Vieira Ribeiro foi um destacado advogado sergipano, professor de Direito Civil, Secretário de Interior e Justiça, procurador-geral do estado, consultor jurídico de grandes instituições, como o Banco do Brasil e a Petrobras, e figura de grande respeitabilidade no meio jurídico e político. Também foi membro da Ordem dos Advogados do Brasil e participou ativamente da vida pública de Sergipe.
Um gesto de afeto e amizade se mantém vivo: sempre que os familiares de Dr. Renato vem a Sergipe, fazem questão de visitar o antigo engenho, honrando suas origens e a memória de seus antepassados. É uma família de gestos nobres, que preserva não apenas o patrimônio material, mas o elo humano com a história.
Esses laços se conectam de forma ainda mais especial à figura de Osvaldo Aranha: a esposa de Dr. Renato era sobrinha do diplomata, filha de sua irmã, e a filha do casal, Isabela, relata ter sido batizada na casa de Osvaldo, no Cosme Velho, tendo como madrinha a filha dele. Um vínculo de sangue e afeto entre Sergipe e a diplomacia brasileira.
Nota sobre a IA
O autor utilizou a ferramenta IA GPT-4.0 para organizar a estrutura do texto, revisar a ortografia e gerar gráficos, sempre a partir da interação e direcionamento do autor. Todas as ideias, mensagens e reflexões foram inseridas e conduzidas pelo autor, com a IA atuando como um apoio técnico para otimização da escrita.
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