Por Valtênio Paes (*)
Paulo Freire já ensinava que “a educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática”. Esse ensinamento continua atual na família, na escola, nos sindicatos, na política, na igreja. Enfim, nas instituições sociais, a correlação teoria X prática entre líderes e liderados é condição sine qua non para crescimento da boa relação.
O líder sindical apega-se ao discurso dos anos 70-90 do século passado para reclamar que seus sindicalizados não participam, o profissional do magistério afirma que estudantes “não querem nada”, pais reclamam que “não é como antigamente”. Apegam-se literalmente, nestas sentenças monocráticas fundadas na inobservância do contraditório. Não reavaliam táticas, técnicas, mudanças socioeconômicas e tecnológicas. Esquecem que líderes também devem buscar entender os liderados.
Já em 2003 Leonard Boff na sua obra “Ethos Mundial”, publicada pela Sextante, tratava da necessidade “de um consenso mínimo sustentado pela razão cordial”. É dever de líderes das instituições buscarem rotineiramente novos caminhos. Evidente que fundado numa ética balizada pelo coletivo.
Em 2007, James C. Hunter, em sua obra “o Monge e o Executivo”, publicada também pela Sextante, afirmara: “o teste definitivo da liderança é saber se, depois de algum tempo sob o comando do líder, as pessoas saem da experiência, melhores que eram antes”. Se profissionais do magistério, líderes sindicais, políticos e demais profissionais, perceberem que seus liderados em nada evoluíram, é preciso repensar estratégias. Não basta terceirizar a culpa pelo insucesso dos outros na relação líder X liderados. Aliás, conduta muito cômoda porque novos conjunturas e estruturas sociais ensejam pensar e agir conectivamente.
Em recente diálogo com um competente profissional da ciência no ensino, ouvi: “se ele não responder a pergunta pela fórmula que expliquei dou zero na questão”. Replicamos:
– Então se ele chegou à resposta certa por caminhos lógicos diferente do que esperas, o senhor considera a resposta errada? Respondeu que sim.
Ao que parece, este rigor avaliativo enseja a possibilidade de inibir o liderado de produzir o saber por outros cenários. Assim como os gestores eleitos, o representante do judiciário, o líder sindical, profissionais do magistério e tantos outros, são líderes, e como tal, devem refazer suas relações com os respectivos liderados(as) principalmente, neste século XXI, ante constantes mudanças.
Milton Nascimento há décadas, na música “Os bailes da vida”, dissera que “todo artista tem de ir aonde o povo está”. Assim também, a ciência deve estar a serviço do povo, por conseguinte, a escola não deve ficar adstrita aos muros de uma restrita intelectualidade. Afinal o acesso deve ser para todas as pessoas. Monopolizá-lo é exercício de poder antidemocrático.
Neste toar, líderes em instituições, dentre escolas, sindicatos, judiciário, legislativo e executivo, devem cada vez mais, nos seus exercícios, praticar linguagens e condutas acessíveis, portanto, correlacionando teoria e prática. Se assim não procedem, se distanciam cada vez mais dos liderados. Terceirizar a culpa é fuga. As lamentações continuarão, o insucesso também. O líder, como mentor da sabedoria, recebe a imposição de buscar novas alternativas. Ouvir sempre pode ser uma delas, jamais desistir.