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Hernan Centurion (*)

Somos seres sociais. Transpusemos dezenas de milhares de anos sem sermos extintos, muito provavelmente em virtude de uma convivência coletiva que nos propiciara, não só a proteção e multiplicação da espécie como também a sua evolução intelectual que atualmente a conhecemos como Homo sapiens.

A história dos nossos ancestrais mostra-nos que, lá bem nos primórdios, os vínculos eram baseados em relações de submissão, pela “lei do mais forte” em que eram subjugados os fisicamente menos favorecidos. Liderar um povo sem derramar pouco sangue de si e muito alheio era praticamente improvável até bem pouco tempo atrás. O absolutismo e autoritarismo constituíam-se em práticas não só dos governos, não obstante uma realidade até recentemente incutida no seio das famílias patriarcais, nas quais as mulheres e os filhos eram subservientes à figura paterna.

Os ideais democráticos, as liberdades individuais e os direitos humanos paulatinamente foram sendo assimilados pelas sociedades, fazendo com que as interações interpessoais ganhassem outra conotação, onde a política, o diálogo e a persuasão tornar-se-iam cruciais para uma nova maneira de condução da humanidade. Diante disso, imbuído dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que o Iluminismo defendera, Voltaire assim colocara: “de todas as doenças do espírito humano, a fúria de dominar é a mais terrível”.

Com a evolução tecnológica e o advento das redes sociais, tudo isso ficou cada vez mais prevalente, vindo a surgir uma nova classe laboral, se é que assim poderia denominar, os famosos “influencers”, isto é, aqueles que ditam as tendências sociais, criam conteúdo de entretenimento e sugerem estilos de vida, gosto musical, formas de vestir-se ou mesmo expressar-se. Ou seja, aqueles que conseguem cativar (influenciar) as pessoas, falando o que elas gostariam de ouvir, sendo “exemplo” daquilo que elas gostariam de ser e que, talvez por timidez ou questões socioeconômicas desfavoráveis, não se sentiriam aptas a conquistar tudo isso na vida real. O que vem ocorrendo hoje nas redes sociais virtuais não é muito diferente do que havia na minha adolescência, só que em escala de interação exponencialmente menor. O influencer daquela época era o rapaz ou garota do colégio, clube ou bairro que sabiam se vestir, eram comunicativos e simpáticos e que conciliavam bom desempenho nos estudos, sem prejudicar o lazer, quer seja pela prática esportiva, quer frequentando as então chamadas “baladas”, festas que agitavam as noites dos anos 90 e 2000.

Ver-se rodeado por amigos, influenciar outrem e, mais recentemente, ter centenas de milhares de seguidores são uma temática que há mais 1 século vem sendo estudada. Dale Carnegie, entusiasta e curioso sobre o tema, buscando entender por que determinadas pessoas alcançam um sucesso avassalador nos negócios, esporte ou política, tentara traçar um perfil de como seriam as relações sociais, baseando-se em depoimentos que ele mesmo colhera de homens e mulheres bem-sucedidos à sua época. O estigma do chefe, aquele que impõe pela força ou medo, deu lugar à figura do líder, aquele que ouve, acolhe e é reconhecido pelas suas próprias e dignas ações, aquele que elogia sinceramente, que tolera pacientemente e, mormente, que demonstra empatia, colocando-se exatamente no lugar do próximo. A primeira-dama norte-americana Eleanor Roosevelt, esposa do presidente e maçom Franklin Delano Roosevelt (diga-se de passagem um dos maiores líderes políticos contemporâneos) bem afirmara: “para lidar consigo mesmo, use sua cabeça. Para lidar com os outros, use seu coração.” É trocando olhares em um mesmo nível e demostrando ao semelhante que, por menos culto e abastado que porventura seja, ele certamente terá algo a acrescentar e que, em algum instante, será útil e importante tal qual o neurocirurgião americano Benjamin (Ben) Carson dissera: “uma das chaves para a liderança é reconhecer que todos têm dons e talentos. Um bom líder vai aprender a coletar essas virtudes para o mesmo objetivo.”

Percebe-se, pois, que liderar não está atrelado a um cargo ou hierarquia, e sim a alguém que influencia e motiva outras pessoas, muito além de míseros seguidores, mas sim verdadeiros amigos, visto que “a amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro” (Platão).

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(*) Médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de orador.

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Hernan Centurion

(*) Médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de venerável.

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